ResumoNeste trabalho se discute como os docentes têm sido vistos e posicionados especialmente pelos discursos educacionais das últi-mas décadas, analisando-se como têm sido definidas a sua situação ocupacional e a profissionalização do ponto de vista dos estudos do campo educacional. Discute-se a identidade em relação às posições de sujeito, que são atribuídas aos professores e às professoras no exercício de suas funções em contextos laborais concretos, e, ainda, em relação ao conjunto das representações postas em circulação pelos discursos relativos aos modos de ser e agir dos professores e professoras no exercício de suas funções. Exploram-se os argumentos quanto aos modelos de profissionalismo que transitam como mais ou menos adequados e debatem-se possíveis implicações desses modelos na construção das identidades docentes. Busca-se, também, mostrar como as reestruturações educativas das úl-timas décadas, ao estimular certos modelos de profissionalismo, constroem identidades docentes mais ou menos articuladas aos objetivos últimos das reformas, e assim procurar revelar contradições, avanços, limites e possibilidades em cada um deles. Por fim, discutem-se alguns aspectos teórico-metodológicos para investigações sobre a identidade docente, indicando que um dos caminhos produtivos para a pesquisa nesse campo pode ser a busca das diferenças, das descontinuidades, das divisões dessa categoria, privilegiando as narrativas dos professores e das professoras acerca de si mesmos e de seus contextos de trabalho.
O estudo problematiza um conjunto de oito depoimentos de natureza biográfica de professoras de séries iniciais da rede de ensino municipal do Capão do Leão, Rio Grande do Sul, Brasil, estabelecendo um diálogo com as categorias de governamentalidade, intensificação do trabalho docente, cuidado e gênero, a fim de contribuir para o entendimento das mudanças que vêm atingindo o trabalho docente nas séries iniciais, no bojo das políticas de reforma educacional das décadas finais do século XX, no Brasil. A precarização das condições de trabalho dos professores da educação básica, os baixos salários do magistério, as novas demandas de trabalho na gestão da escola, dos currículos e do ensino, as políticas oficiais de profissionalização, o estímulo a uma moral de autorresponsabilização e culpa por parte do discurso oficial, que toma como objeto de governo a subjetividade das professoras e as emoções no ensino, têm como efeitos a intensificação e a autointensificação do trabalho docente.
RESUMO: Realiza-se uma leitura da profissionalização docente nas políticas curriculares que, desde 1990, vêm pautando o campo da formação inicial de professores no Brasil, enfocando os sentidos que os saberes da prática vêm tendo entre os saberes curriculares das licenciaturas. Tem-se como referencial teórico e metodológico estudos do campo das políticas educacionais e do currículo de inspiração pós-estruturalista, e como fonte de dados observações de pesquisas desenvolvidas desde 2005, que acompanharam o impacto das mudanças em currículos de licenciatura através de estudos de casos. Discutem-se aspectos da legislação curricular e dos saberes da formação profissional através de depoimentos de formandos que avaliam suas experiências com os currículos reformados e os componentes da prática e do estágio. Conclui-se que as políticas não conseguem alterar substancialmente aspectos da organização e da cultura das instituições e que a recontextualização da reforma vem significando a desintelectualização da formação docente.
RESUMO Com base em relatos autobiográficos de um grupo de sete mulheres professoras da educação básica que em algum momento assumiram-se lésbicas, discute-se, valendo-se de discursos de gênero, como elas produzem a docência e o currículo. Como referências, utiliza-se a noção de experiência de Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Jorge Larrosa, que inspirou a coleta e a análise das narrativas. Aliam-se a esses estudos as contribuições de Michel Foucault acerca da sexualidade e do cuidado de si e a crítica de Judith Butler ao sistema corpo/sexo/gênero. Conclui-se que as experiências das professoras como lésbicas nas escolas produzem uma pedagogia que atua não apenas como questionamento dos padrões heteronormativos, mas como uma produção de conhecimento próprio pela qual elas reinventam suas identidades como professoras.
RESUMO: Este artigo discute a relação teoria e prática nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação dos Professores da Educação Básica, no início da década de 2000. Tem como fonte de dados a legislação curricular que instituiu a reforma e os Projetos Pedagógicos de quatro cursos de licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (Educação Física, Artes Visuais, Matemática e Ciências Sociais). A partir dos estudos de Michel Foucault sobre a governamentalidade e a ética e de estudos sobre as políticas educacionais e curriculares contemporâneas, mostra os efeitos da nova matriz curricular nos currículos dos cursos investigados. O estudo demonstra que a política oficial reforça o pragmatismo na educação de professores e problematiza a prática como tecnologia do eu docente implicada na formação de um professor prático-reflexivo, em uma visão reducionista das competências e habilidades docentes. Palavras-chave: Currículo; Formação de Professores; Teoria e Prática.
Resumo: Tem-se como objetivo uma leitura, na perspectiva da governamentalidade, do discurso e das políticas curriculares, sobre a questão da profissionalização docente presente nas reformas curriculares, que, desde os anos de 1990, vêm pautando o campo da formação inicial de professores no Brasil e no mundo. Mais especificamente, faz-se uma análise dos sentidos de profissionalismo e profissionalidade docente e dos saberes da formação inicial que são privilegiados pela política oficial para os currículos dos cursos de licenciatura, de graduação plena e de nível superior, tendo por base os textos da legislação aprovada no Conselho Nacional Complementa-se essa fonte de dados com algumas observações que são o resultado de investigações que, ao longo da última década, vêm analisando os efeitos dessa política em cursos de licenciatura, com o objetivo de avaliar os seus impactos nos currículos e na identidade profissional docente. Argumenta-se que a formação inicial dos docentes para que estes atuem na Educação Básica vem-se pautando, do ponto de vista oficial, por uma racionalidade prática e instrumental, a qual reduz o professor a um especialista na gestão do processo de ensino e do seu desenvolvimento profissional, apontando, paradoxalmente, para a desintelectualização dos currículos e para a desprofissionalização desses professores. Palavras-chave: reformas curriculares, profi ssionalização docente, formação inicial.Abstract: This work aims at providing an overview, from the perspective of governmentality, discourse and curriculum policies, on the issue of teachers' professionalization in the curricular reforms that have guided the fi eld of initial teacher education in Brazil and around the world since the 1990's. For such, an analysis of professionalism, teaching professionalism and education in initial training, whose offi cial policies have privileged bachelor's degree and undergraduate levels based on the legislation texts -Ordinance CNE / CP 009/2001 and Resolution CNE / CP 01/2002, Ordinance CNE / CP 28/2001 and Resolution CNE / CP 2/2002 -which introduced the reform earlier this century in Brazil, is made. This database is supplemented by observations resulting from investigations over the last decade which have discussed the effects of this policy on undergraduate programs, for the purpose of assessing their impact on curriculum and teachers' professional identity. It is argued that the initial training of teachers to work in Elementary Education has been guided, from an offi cial point of view, by a practical and instrumental rationality that reduces the teacher to an expert in the management of the teaching process and his professional development, pointing, paradoxically, towards curriculum de-intellectualization and teacher de-professionalization.
O estudo analisa os efeitos de autorresponsabilização na conduta docente do discurso da qualidade da educação alicerçado na elevação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) com a política Compromisso Todos pela Educação, gestada através do Plano de Ações Articuladas (PAR), a partir de um conjunto de seis depoimentos de professoras que participaram da construção da política no contexto de um município do interior do Rio Grande do Sul, no período de 2008-2011. Utiliza os estudos de Michel Foucault sobre discurso e governamentalidade e, secundariamente, a noção de hegemonia a partir da obra de Ernesto Laclau para analisar os depoimentos. Conclui que o discurso da qualidade da educação via elevação do IDEB intensifica a vigilância sobre o trabalho das docentes.
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