A política educacional recente, de caráter neoliberal, está cobrando a participação dos pais na gestão da escola pública e no dever de casa, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Tal política tem implicações de classe e gênero: quando a escola conta com a família, pressupõe um modelo de família com capital econômico e simbólico e com uma mãe disponível e prioritariamente dedicada à educação dos filhos. Os formuladores dessas políticas não consideram a relação entre modelos de organização curricular e instrucional e organização familiar, nem a assimetria de gênero que faz recair a responsabilidade pela educação infantil sobre as mulheres, tampouco as mudanças e variações na organização familiar. Ao desviar o foco da melhoria educacional da escola e da sala de aula para a família e o lar, este tipo de política pode produzir dois efeitos perversos: penalizar as famílias (sobretudo as mães) e converter diferenças de capital econômico, cultural e social em resultados educacionais desiguais. POLÍTICAS EDUCACIONAIS GESTÃO ESCOLAS PÚBLICAS FAMÍLIASABSTRACT THE RELATIONSHIP BETWEEN THE FAMILY AND THE SCHOOL AND ITS GENDER IMPLICATIONS. Recent neo-liberal educational policy, both in the United States and in Brazil, is calling for parental involvement in school decision-making and homework. Such a policy carries class and gender implications: schools that count on families assume a single family model, with economic and symbolic capital, and an available mother committed to her childrens education. Policymakers have neither considered the relationship between models of curricular and instructional organization and family organization, nor the gender asymmetry that places responsibility for childrens education mostly on females, nor change and variation in family arrangements. By shifting the focus of educational improvement from the school and classroom to the home and family, this policy is likely to produce two undesirable effects: to penalize families (especially mothers), and convert economic, cultural and social capital differences into different educational outcomes.
RESUMOAs relações entre escola e família baseiam-se na divisão do trabalho de educação de crianças e jovens, envolvendo expectativas recíprocas. Quando se fala na desejável parceria escola-família e convoca-se a participação dos pais na educação, sobretudo pelo dever de casa como estratégia de promoção do sucesso escolar, não se consideram: as mudanças históricas e a diversidade cultural nos modos de educação e reprodução social; as relações de poder entre estas instituições e seus agentes; a diversidade de arranjos familiares e as desvantagens materiais e culturais de grande parte das famílias; as relações de gênero que estruturam a divisão de trabalho em casa e na escola. Este texto discute estas questões argumentando que a política educacional, o currículo e a prática pedagógica articulam os trabalhos educacionais realizados pela escola e pela família, segundo um modelo de família e papel parental ideal e com base nas divisões de sexo e gênero, subordinando a família à escola e sobrecarregando as mães, o que perpetua a iniqüidade de gênero. RELAÇÕES DE GÊNERO -RELAÇÕES ESCOLA-FAMÍLIA -EDUCAÇÃO -PAIS ABSTRACT WAYS OF EDUCATION, GENDER AND SCHOOL FAMILY RELATIONSHIP. School-family relationship is based on the sharing of responsibilities in the education of children and adolescents, considering mutual expectations. When referring to the ideal school-family relationship and the need for parents to be involved in education, specially in homework, as an strategy to promote school success, some factors are not taken into consideration: historical changes and cultural differences in educational and social reproduction modes; power relations between these institutions and their agents; the diversity of family arrangements and material and cultural disadvantages in many households; gender relations shaping the division of labour at home and at school. This text discusses these issues arguing that educational policy, the curriculum, and pedagogical practice coordinate the educational work at school and at home according to an ideal model of family and parental role and based on sex and gender division, subordinating the family to the school and overburdening mothers, therefore perpetuating gender inequity. GENDER RELATIONSHIP -FAMILY SCHOOL RELATIONSHIP -EDUCATION -PARENTS
As relações família-escola tornaram-se foco recente da política educacional, que estabelece a participação dos pais na educação dos filhos como decisiva para a aprendizagem e o sucesso escolar. Tal participação ocorre, sobretudo, através do dever de casa, uma prática cultural pouco estudada e problematizada. Este texto explora a questão do dever de casa na história, pesquisa e política educacional recentes nos Estados Unidos e no Brasil. Considerando o dever de casa como uma política-prática educativa, curricular e pedagógica que estrutura as interações e divisão de trabalho educacional entre escola e família, aponta suas implicações para a família e as mães, ressaltando questões de gênero, eqüidade e pluralidade cultural.
RESUMO: o texto objetiva analisar o processo de empoderamento e o exercício da autoadvocacia na vida de pessoas com deficiência como condições que influenciam o reconhecimento da identidade de gênero e das questões de sexualidade. O argumento central defendido é o de que a visão comum sobre as pessoas com deficiência está relacionada geralmente ao rótulo incapacitante da deficiência, acarretando a invisibilidade da sexualidade e o não reconhecimento do ser homem/mulher com deficiência. Este relato de pesquisa adota a metodologia de história oral e contribui para o campo de investigação sobre deficiências, gênero e sexualidade a partir da visibilidade da história de vida de uma mulher com deficiência. Analisa-se a história de uma jovem com deficiência intelectual, evidenciando-se a superação do rótulo incapacitante como condição fundamental para que ela se reconheça como uma mulher sexuada, com a capacidade de tomar decisões e viver seus desejos. A jovem apresenta indícios de seu empoderamento em quatro dimensões fundamentais: família, educação, trabalho e vida social, revelando que a deficiência não a impossibilita de sair, namorar, ter amigos, ter uma ocupação remunerada, isto é, ser uma mulher empoderada. PALAVRAS-CHAVE:Educação Especial. Gênero. Sexualidade. Deficiência. Empoderamento. ABSTRACT:This paper aims to analyze the process of empowerment and the exercise of self advocacy in the lives of people with disabilities as conditions that influence the recognition of gender identity and sexuality issues. The central argument defends that the common view of people with disabilities is generally related to a debilitating label of disability, resulting in invisibility of sexuality and the non-recognition of being a man / woman with disabilities. This research report adopts the methodology of oral history and contributes to the field of research on disability, gender and sexuality from the visibility of the life history of a woman with disabilities. This text analyzes the history of a young woman with intellectual disabilities, showing the process of overcoming crippling labels as a key to enabling recognition of herself as a sexual being, capability of making decisions and living her own desires. The young woman showed evidence of empowerment in four main dimensions: family, education, work and social life, revealing that disability does not preclude going out, dating, having friends, having a paid job, and being an empowered woman.
RESUMO O texto objetiva identificar temas relacionados às competências digitais em propostas de formação de docente da Educação Física em três países. Pela análise de conteúdo, enunciados sobre mídia e tecnologia em documentos curriculares de três cursos superiores de Educação Física na Austrália, Brasil e Nova Zelândia são categorizados segundo marcos teóricos de competências digitais para docentes da UNESCO e da União Europeia. As categorias de “Usos de tecnologia no campo didático” e de “Promoção dos aspectos pedagógicos” são as mais exploradas. As propostas da Nova Zelândia e da Austrália abarcam todas as dimensões discutidas, ao contrário da brasileira. Defende-se uma articulação orgânica das dimensões metodológica, crítica e produtiva da mídia-educação na formação de professores.
Gênero é um conceito de difícil compreensão e tem se tornado praticamente sinônimo de sexo na linguagem comum e até mesmo acadêmica. Este trabalho, financiado pelo CNPq, assinala usos e incompreensões deste conceito no campo educacional no Brasil e suas implicações para as políticas e práticas educacionais. Primeiro, enfoca a substituição da variável sociológica sexo por gênero, em formulários de identificação e tabelas de caracterização de sujeitos, e a confusão entre paridade de sexo e equidade de gênero, que reduz este a uma característica individual ou um marcador identitário. Segundo, demonstra a incompreensão expressa nas percepções e nos discursos de docentes de ambos os sexos, situados em cursos superiores masculinos, onde segue invisível ou não problematizado o gendramento de campos de conhecimento e carreiras; e destaca, em discursos de mulheres docentes de Matemática, o desconhecimento da problemática em uma disciplina onde a presença de mulheres continua reduzida. Argumenta, enfim, sobre a importância da transversalização da perspectiva de gênero no ensino superior e na pesquisa
Este texto analisa, através das narrativas de três acadêmicas feministas de uma universidade federal nordestina, suas contribuições para a institucionalização dos estudos de gênero. Utilizam-se como categorias de análise: instituição, identidade feminista, narrativa e gênero. A análise evidencia que foi possível trazer os estudos de gê- nero para a universidade investigada através da militância das professoras entrevistadas. Os estudos de gênero são vistos como menos importantes e se inserem através de grupos independentes. As professoras lutam por reconhecimento, ora isoladamente, ora conjuntamente.
<p>O artigo tem como tema o dever de casa como fator de interação entre a família e a escola. Argumenta que o incentivo à participação dos “pais” na escola, sobretudo via dever de casa, tende a aumentar as desigualdades de resultados educacionais, porque as famílias têm condições materiais e culturais desiguais, e o dever impacta direta ou indiretamente a aferição do aproveitamento escolar, isto é, as notas dos/das estudantes. A lição de casa constitui violência simbólica, em alguns casos, porque impõe a cultura acadêmica ao lar, regulando a vida doméstica/privada, prescrevendo papéis parentais, segundo um modelo de família e valores das camadas médias e dominantes.</p><p> </p><p> </p>
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