Humilhação ou humiliation porn é um segmento do mercado do fetiche que reúne adeptos ao longo do planeta. Basta clicar nestas palavras-chave no Google para comprovar o enorme leque de possibilidades que se abre para os interessados. Alguns desses sites remetem a estéticas que no mundo pornô são conhecidas como kink e que fazem alusão mais direta ao universo BDSM. Outros se abrem a práticas diversas divulgadas como punishment, sex slave e, em menor medida, rape. Alguns links levam a sites de Taboo, modo como são divulgados filmes com a temática do incesto, enquanto outros remetem a filmes de bestial porn, que inclui práticas de humilhação com animais.Orgias, gang bangs, duplas, ménage à trois, ou o que for, são diversas as modalidades e arranjos dentro do universo da humilhação, cuja principal característica é a força extrema na realização das práticas, indicando a dominação de um (ou uns) sobre outro(s). Embora grande parte das práticas na humilhação se encaixe naquilo que reconhecemos nas convenções do sexual, muitas delas abrem mão da nudez dos corpos, das penetrações e de qualquer interação com as genitálias, limitando-se a exercícios de infligir dor ou asco.Esta é uma etnografia sobre a produção da humilhação. Apresento aqui resultados da pesquisa que realizei em 2011 e 2012 junto a uma produtora desse tipo de material em uma cidade latino-americana de grande porte. Opto por não localizar nem caracterizar melhor os sujeitos da pesquisa como uma maneira básica de resguardar suas identidades. Neste artigo, concentro-me basicamente na análise das práticas, excluindo dados etnográficos sobre as relações e a sociabilidade no set de filmagem ou as biografias dos sujeitos.O objetivo que atravessa as descrições a seguir é o exame de formas com que atua a violência no erotismo, ou melhor, os modos, no âmbito do erotismo, com que se intersectam o prazer e o perigo (Vance 1984; Rubin 2011;Califia 1994;Facchini 2008; Gregori 2010; Sáez & Carrascosa 2012;Garcia 2009). Esta é, então, uma etnografia de práticas que usam a dominação, os espancamentos, os engasgamentos e as sufocações em gramáticas comer-
Dentro do segmento do mercado pornô conhecido como bizarro, a prática considerada extrema por excelência é alocada ao sexo com animais. O Brasil possui uma indústria de produção desses filmes reconhecida mundialmente. Este artigo discute o estigma dessas produções no interior da indústria pornô, traz dados etnográficos sobre a produção desse mercado, introduz uma discussão sobre legalidade, consentimento e direitos, e finalmente, trata essa temática do ponto de vista do erotismo e dos prazeres pensando o lugar do gênero e da sexualidade nessas práticas. Acredita-se que a temática é um campo vasto para pensarmos as relações humano/animal, normal/anormal, prazer/perigo, natureza/cultura.
Resumo Este texto se propõe discutir os modos como se faz gênero por meio de práticas e sentimentos de humilhação e sobre a humilhação como uma categoria pertinente para a discussão sobre as relações de gênero. Humilhação será pensada como um ato e simultaneamente como uma emoção que se desdobra em e se constitui por meio de outros múltiplos atos e emoções que podem ser distinguíveis entre si e receber diferentes nomes. Utilizo como exemplos casos etnográficos sobre relacionamentos afetivos e sobre experiências subjetivas em que a humilhação atua para denotar hierarquias, sem ser configurada moralmente pelos agentes, de antemão, como violência.
Resumo O presente artigo tem como intuito analisar a categoria “consentimento”, deslocando o debate dos direitos sexuais para vidas e relacionamentos íntimos. Neste universo dos afetos no âmbito do ordinário, é possível vislumbrar as vicissitudes em que o consentimento é experienciado em meio às diversas negociações de fronteiras simbólicas e morais. O esforço aqui é compreender as limitações na interpretação do consentimento como um exercício da autonomia e da razão frente às torções que a intimidade lhe imprime, possibilitando outras gramáticas do consentir e evidenciando seu caráter poroso, ambivalente e amiudado. Para tal, apresentaremos três etnografias que estão comprometidas com um olhar fenomenológico da vida ordinária: sobre mulheres trans e travestis que buscam relações e casamentos estáveis, sobre mães ‘nervosas’ e seus ‘corpos abertos’ em territórios de precariedade social e sobre negociações complicadas na inserção de um familiar condenado por estupro.
A antropologia das emoções constitui um campo consolidado de pesquisa e reflexão nas ciências sociais. Em artigo recente, Ceres Victória e Maria Claudia Coelho (2019) analisam os modos como as emoções passaram a constituir uma área autônoma de estudos na antropologia na década de 1980, sob a influência de Michelle Rosaldo, Catherine Lutz e Lila Abu-Lughod. A importância dessas autoras estrangeiras é imensurável no que se refere aos modos como se organizou a disciplina no Brasil, muito especialmente a partir da noção de "contextualismo", que indica que mais do que possuidoras de características essenciais, as emoções precisam ser interpretadas de acordo ao contexto de sua enunciação, sendo capazes de organizar "micropolíticas", isto é, alterar as relações de poder nas interações. Ao trabalho de Maria Claudia Coelho e Claudia Rezende, autoras de "Antropologia das emoções" (2010), que hoje podemos considerar um livro fundamental na nossa formação acadêmica, somam-se esforços pioneiros, como o do antropólogo Mauro Khoury. No referido artigo, Victória e Coelho (2019) mencionam outros autores nacionais que têm participado desse esforço: Cinthia Sarti, Octávio Bonet, Jane Russo, Susana Durão e Rachel Aisengart Menezes. Além das iniciativas de Adriana Vianna, que tem pensado a relação entre emoções e processos de Estado; Luiz
Este ensaio busca refletir sobre os diversos golpes que têm acontecido nas últimas duas décadas em relação às políticas de gênero e sexualidade no Brasil, enfatizando sobre Aborto; o Programa Brasil sem Homofobia; os projetos de “Cura Gay”; a Lei João W. Nery para transexuais; a Lei Gabriela Leite e o embate ao redor da legislação da prostituição; a ideologia de gênero e sua inclusão nos planos curriculares e o Estatuto da família.
Resumo Este artigo relata passagens do nosso encontro com duas mulheres negras: Dona Luiza e Fafá. A primeira, uma senhora moradora de favela, matriarca, mãe de um homem condenado por estupro, avó da criança que teria sido estuprada. A segunda, uma jovem de 24 anos, mãe de um menino de três, atriz de filmes de fetiches extremos. Partindo da ideia de que as vidas negras permanecem na oscilação entre a sujeição e a fuga, nos interessa descrever como essa oscilação acontece no plano do ordinário e interpretar a sua relação com evocações da escravidão que se realizam em fragmentos ou se materializam em situações de “faz de conta”. A fuga, mais do que resistência, denota formas ambivalentes de estar no mundo, movimentos imprevisíveis para quem se esforça para tocar a vida. Discutimos imagens e situações que têm a capacidade tanto de restaurar a sujeição quanto de conjurá-la.
No abstract
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