O presente estudo analisa as formas de poder/saber que regulam a prática psicoterápica em grupo destinada a pessoas transexuais requerentes da cirurgia de transgenitalização em um hospital universitário brasileiro localizado em um grande centro urbano. Por meio de observação participante em sessões terapêuticas grupais, foi reconstituída a "microfísica do poder" da clínica, cuja direção parece tentar conformar as subjetividades ali produzidas a certos ideais regulatórios e disciplinares. Entrevistas semiestruturadas àquelas que se submeteram a atendimento psicoterápico como parte do programa de acesso à cirurgia de transgenitalização complementam a estratégia teórico-metodológica descrita, bem como buscam evidenciar alguns dos deslocamentos operados pelos sujeitos como possibilidades de resistência no interior dos regimes hegemônicos de subjetivação do contexto institucional investigado.
This essay presents benefits of a bioethical proposal from a decolonial perspective as part of the expansion of epistemic, political and aesthetic projects in Latin America beyond European-centered hegemonic projects. To that end, the work begins with a brief discussion on the self-representation that Europeanproduced knowledge makes of itself, questioning its "will for power" and the structures by which it justifies epistemicide. The debate continues by exploring some of the common elements in the decolonial perspective to then provide its contributions to the contemporary bioethical debate, arriving at the socalled bioethical pluralism as the source for alternate thinking. Keywords: Bioethics. Latin America. Cultural diversity-Ethnic groups. Cross-cultural comparison-American native continental ancestry group. Culture-Conscience. ResumoPluralismo bioético: contribuições latino-americanas para uma bioética em perspectiva decolonial Este ensaio pretende apresentar subsídios para proposta bioética em perspectiva decolonial como parte da expansão de projetos epistêmicos, políticos e estéticos latino-americanos para além dos projetos hegemônicos eurocentrados. Para tanto, o trabalho inicia com breve discussão a respeito da autorrepresentação que o conhecimento produzido na Europa faz de si mesmo, problematizando sua "vontade de poder", além das estruturas pelas quais se legitima(ra)m epistemicídios. O debate avança no sentido de expor alguns dos elementos comuns à perspectiva decolonial para, então, aportar suas contribuições para o debate bioético contemporâneo, desaguando no chamado pluralismo bioético como potência para um pensamento outro. Palavras-chave: Bioética. América Latina. Diversidade cultural-Grupos étnicos. Comparação transcultural--Grupo com ancestrais nativos do continente americano. Cultura-Consciência. ResumenPluralismo bioético: aportes latinoamericanos a la bioética en perspectiva decolonial Este artículo tiene como objetivo presentar elementos para una propuesta bioética en perspectiva decolonial como parte de la expansión de los proyectos epistémicos, políticos y estéticos latinoamericanos más allá de proyectos hegemónicos eurocentrados. El trabajo comienza con una breve discusión sobre la autorrepresentación que el conocimiento producido en Europa hace de sí mismo, cuestionando su "voluntad de poder", así como las estructuras mediante las cuales se legitiman epistemicidios. El debate prosigue exponiendo algunos de los elementos comunes a la perspectiva decolonial para, a continuación, aportar sus contribuciones al debate bioético contemporáneo, sobre todo, al llamado pluralismo bioético como potencia para un pensamiento otro. Palabras clave: Bioética. América Latina. Diversidad cultural-Grupos étnicos. Comparación transcultural-Grupo de ascendencia continental nativa americana. Cultura-Conciencia.
E ste estudo analisa as formas de poder/saber que regulam a prática psicoterápica destinada a pessoas transexuais requerentes da cirurgia de transgenitalização em um hospital universitário brasileiro localizado em um grande centro urbano. Trata-se, para colocar em termos simples, de entender como o diagnóstico de disforia de gênero é construído nas e pelas interações terapêuticas destinas ao público investigado. Por meio de observação participante em sessões terapêuticas, foi reconstituída a "microfísica do poder" da clínica, seus regimes de subjetivação. Esses regimes funcionam como um dispositivo cujas forças atuam no sentido de conformar as subjetividades ali produzidas a certos ideais regulatórios, disciplinares e biopolíticos, característicos da modernidade ocidental. Entrevistas semiestruturadas aplicadas às que se submeteram a atendimento psicoterápico como parte do programa de acesso à cirurgia de transgenitalização complementam a estratégia teórico-metodoló-gica descrita, de modo a viabilizar o objetivo anteriormente mencionado, bem como dar a ver as negociações e subversões da norma como possibilidades de resistência no interior dos regimes hegemônicos de subjetivação do contexto institucional investigado. O aprofundamento do segundo objetivo segue informado pela Sociologia da diferença infinitesimal, colocando em destaque o processo complexo e multifacetado de formação das identidades de gênero a partir dos elementos múltiplos e fluídos dentro das posições identitárias. O debate sobre a formação das identidades ocorre ainda no âmbito da proposta teórica da Sociologia simétrica, a partir da qual será sugerido que as identidades são indissociáveis da relação entre o mundo humano e não humano.
O objetivo do presente trabalho é apresentar as relações entre eurocentrismo como padrão cognitivo imperial e o pensamento social de Jürgen Habermas. Tal análise será levada a cabo pela discussão do método comparativo bastante comum à tradição das ciências sociais europeias e cujo uso em Habermas torna possível entrever o monismo universalista característica de sua teoria em que a Europa é tomada como norma, significante mestre, medida de todas as outras sociedades e civilizações do mundo. Para desenvolver o objetivo delineado, foram escolhidas, basicamente, duas obras, uma dos anos de 1980 e outra do início do século XXI com o intuito de mostrar como a narrativa habermasiana se mantém basicamente presa ao que designamos por padrão cognitivo imperial europeu pela qual se entreve uma geopolítica de classificação da população mundial cuja dinâmica se iniciou em 1492 com a conquista da América.
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Resumo IntroduçãoÀ medida que as interpretações de Durkheim, Marx e Weber e, mais contemporaneamente, as de Giddens, Touraine e Habermas, sobre a modernidade foram se tornando hegemonicamente clássicas no interior das ciências sociais, das universidades e dos centros de pesquisa em todo globo, acumularam-se, amiúde, a suas margens, mas também em seu interior, debates sobre seus limites e alcances,
Embora diversos/as intelectuais e pesquisadores/as latino-americanos/as e caribenhos/as tenham produzido uma significativa e importante literatura sobre as populações, povos e comunidades negras e afrodescendentes neste continente, é notória a ausência de um debate articulado, contínuo e permanente a esse respeito entre e desde as diferentes perspectivas produzidas pelos inúmeros países latino-americanos. Assim, a revista Diáspora Africana da Associação de Investigadores/as Afro-latino-americanos/as e do Caribe (AINALC) assume, desde este primeiro número, lançado em parceria com a revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), o desafio que é e que
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