O tema do artigo é a proliferação de más condutas na ciência que vem ocorrendo nas últimas décadas, designada ao longo do texto pelo termo "a epidemia". As más condutas são violações de normas éticas da ciência, sendo os tipos mais importantes as várias modalidades de fraude (principalmente a fabricação e a falsificação de dados empíricos), e de falsidades autorais (plágio, autoplágio etc.). O artigo divide-se em seis seções. Na primeira, apresenta-se o tema e alguns esclarecimentos terminológicos. Na segunda, são expostas as evidências que corroboram a existência da epidemia. A terceira versa sobre a reação à epidemia, caracterizando sua dinâmica, marcada pelo conflito entre duas posições: a moralizadora, que aplica o tratamento moralizador no combate à epidemia; e a negacionista, que tende a negar a existência da epidemia e que resiste às medidas moralizadoras. A quarta seção versa sobre as causas da epidemia, introduz uma distinção entre produtivismo e producionismo e propõe uma análise das formas como o produtivismo fomenta as más condutas. A quinta consiste em uma crítica ao tratamento moralizador, fundamentada em suas inadequações, principalmente sua ineficácia. Na conclusão, procura-se dar uma ideia de qual seria uma alternativa satisfatória ao tratamento moralizador. Palavras-chave • Má conduta. Fraude. Plágio. Integridade da pesquisa. Despublicação. Código de ética. Produtivismo. Judicialização. Steneck. Introdução Em dois de seus artigos, publicados pela primeira vez respectivamente em 1942 e 1957, Merton (1973b, 1973c) trata da ocorrência de fraudes e outras modalidades de violação do éthos da ciência, isto é, das normas que regem as práticas científicas. Sua tese é a de que tais ocorrências são extremamente raras. No texto de 1942, ele menciona "a virtual ausência de fraudes nos anais da ciência" (1973b, p. 276); no de 1957, sustenta que "os anais da ciência incluem pouquíssimos casos inequívocos de fraudes" (1973c, p. 309) e, referindo-se aos plágios, que "o registro histórico mostra relativamente poucos casos (...) em que um cientista tenha efetivamente furtado as ideias de outro" (1973c, p. 312). Merton também propõe explicações para esse caráter virtuoso da ciência, que serão oportunamente discutidas. Por ora, o que importa é constatar que, se estivesse escre-scientiae zudia, São Paulo, v. 13, n. 4, p. 867-97, 2015 1. A expressão "práticas científicas" deve ser entendida em um sentido amplo que inclui o campo das humanidades. Uma expressão mais adequada, na verdade, seria "práticas acadêmicas". Não o adotamos para não destoar do uso praticamente sem exceções de "práticas científicas" na literatura. Tal uso decorre do caráter hegemônico das ciências naturais na academia. Para uma discussão sobre esse ponto (cf. Santos, 2011).
O objetivo deste ensaio é explorar o auto-controle como alternativa às práticas de controle ou dominação da natureza, no contexto dos problemas ecológicos, primeiro pelos indivíduos, depois pela sociedade e, por fim, pela ciência. O ponto de partida é uma análise em três componentes da tese da neutralidade da ciência, uma das quais-a tese da neutralidade factual-reflete o caráter puramente descritivo das proposições científicas e tem uma estreita ligação com o controle da natureza. A supervalorização do controle da natureza característica da modernidade, por sua vez, é vista como parte das causas dos problemas ecológicos, cuja superação demonstra a necessidade da adoção do auto-controle, não apenas pelos indivíduos, mas ainda mais crucialmente pela sociedade, sendo o auto-controle social incompatível com a dinâmica do sistema capitalista. Na seção final, identifica-se o auto-controle no domínio da ciência com a autonomia, mostra-se como a reivindicação tradicional da autonomia, baseada na neutralidade, não mais se sustenta, em virtude dos processos de mercantilização a que a ciência é submetida. Como conclusão, propõe-se uma modalidade alternativa de autonomia, em que a ciência é colocada não acima, mas ao lado de outras formas de conhecimento e outras instituições sociais. Palavras-chave • Neutralidade. Desencantamento do mundo. Controle da natureza. Dominação da natureza. Eco-socialismo. Auto-controle. Autonomia. Lacey. Introdução: a tese da neutralidade da ciência As reflexões expostas a seguir nasceram de um programa de estudos centrado na questão da neutralidade da ciência e têm,como ponto de partida,o esquema conceitual estruturado ao longo desses estudos, que apresentamos de forma sumária nesta introdução. A neutralidade implícita na tese de que a ciência é-ou não é-neutra é evidentemente uma neutralidade em relação a valores; prova disso é que em muitos contextos, em lugar de "a ciência é neutra" se diz sinonimamente "a ciência é livre de valores". 1
Em seu manual introdutório Filosofia da ciência natural, Hempel apresenta, enquanto ilustração e ponto de partida para uma análise do processo de invenção e teste de teorias científicas, um relato do caso Semmelweis-o médico húngaro que, em meados do século xix, em Viena, descobriu a causa da febre puerperal e um método eficaz de prevenção. O relato, se por um lado não incorre em inverdades factuais, por outro, é bastante sucinto, omitindo uma série de aspectos importantes do caso. A tese deste artigo é a de que, embora tais omissões se justifiquem plenamente em função dos objetivos do relato, elas são também convenientes para Hempel, na medida em que ajudam a transmitir uma imagem da ciência que vai muito além dos processos de invenção e teste de teorias, que reflete a concepção positivista de ciênciae assim, quaisquer que tenham sido a intenções do autor, contribuiu para sua disseminação e fortalecimento. Uma imagem que, pelo menos neste caso, não corresponde à realidade. Para demonstrar a tese, expomos as partes da história de Semmelweis omitidas por Hempel e mostramos como elas não se coadunam com a imagem positivista da ciência. Ao longo desse percurso, distinguimos três tipos de crítica à historiografia positivista: a kuhniana, a pós-moderna e a engajada. Na conclusão, tecemos algumas considerações sobre a pesquisa médica nos dias de hoje.
Esta comunicação constitui um fragmento de um projeto de estudo mais amplo, desenvolvido a partir da idéia de que a universidade vem sendo submetida a uma reforma neoliberal, cujo sentido é o de promover sua mercantilização. O tópico tratado é o do regime de trabalho dos pesquisadores, visto a partir dos sistemas de avaliação da produtividade que constituem sua peça-chave. Por violar certas intuições, o caráter quantitativo da avaliação neoliberal é posto como algo a ser explicado. São propostas três explicações, das quais emerge a concepção de que o regime de trabalho imposto pela reforma neoliberal aos pesquisadores constitui uma forma de taylorismo. Examinam-se a seguir algumas das conseqüências nefastas do taylorismo na universidade, particularmente a que afeta o exercício da responsabilidade social da ciência.
This paper is a fragment of a broader project of study developed from the idea that the University is being subjected to a neoliberal reform whose significance is that of promoting its commodification. The topic dealt with is that of the regime of work of the researchers, seen from the point of view of the systems of evaluation of productivity that constitute its key-component. Since it violates certain intuitions, the quantitative nature of neoliberal evaluation is presented as something to be explained. Three explanations are proposed, from which a conception emerges where the work regime imposed by the neoliberal reform on researchers constitutes a form of Taylorism. Some of the deleterious consequences of Taylorism in the University are then examined, in particular the one affecting the exercise of social responsibility in science
de partida algumas formulações dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A neutralidade é analisada em três componentes: a imparcialidade, a neutralidade aplicada e a neutralidade cognitiva. Procura-se mostrar que, para não se cair no relativismo, a imparcialidade deve ser mantida, mas a neutralidade aplicada não se sustenta, nem como fato nem como valor.n PALAVRAS-CHAVE: Ciência; tecnologia; neutralidade; relativismo; imparcialidade; Lacey.Nosso tema é a neutralidade da ciência. Trata-se de um tema muito vasto e, como o título desta apresentação indica, não pretendo de forma alguma discutir cada uma de suas facetas, meu objetivo é apenas desenvolver algumas considerações, sumárias e parciais sobre ele.Quanto à sua atualidade, acho que não é necessário dizer muito. Qualquer pessoa que acompanhe, ainda que por alto, aquilo que se anda dizendo sobre a ciência, com certeza terá encontrado com freqüência a afirmação de que a ciência não é neutra. Para tornar a exposição mais concreta, resolvi tomar como ponto de partida um texto em particular onde a tese da não-neutralidade é afirmada com muita ênfase, a saber, o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas partes referentes ao Trans/Form/Ação, São Paulo, 26(1): [161][162][163][164][165][166][167][168][169][170][171][172] 2003
O artigo discute o valor da ciência no contexto da crise pela qual a civilização ocidental está passando, e extrai algumas implicações da análise proposta para a questão de seu ensino. Estabelece-se primeiro a distinção entre ciência pura e ciência instrumental, depois se estuda o impacto da especialização sobre o valor da ciência pura. Com o objetivo de avaliar a contribuição da ciência para a satisfação das necessidades básicas dos seres humanos, introduz-se uma segunda distinção, entre ciência básica e ciência aplicada. A seção final propõe que o espírito crítico vigente no interior da prática científica seja estendido à reflexão sobre esta prática.
O documento publicado a seguir-A ciência e a agenda empresarial: as consequências nefastas da influência comercial sobre a ciência e a tecnologia-consiste na tradução do Sumário Executivo de um relatório produzido pelo movimento Scientists for Global Responsibility (SGR), do Reino Unido, e dado a público em setembro de 2009. Na primeira parte desta apresentação, tratamos do relatório da perspectiva do Reino Unido e, mais amplamente, dos países centrais; na segunda, procuramos esclarecer seu significado para o Brasil.
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