Ser considerado elemento de união entre moradores e serviço não revela de imediato a abrangência das funções, nem oferece visibilidade das exigências a que os agentes comunitários de saúde estão expostos no cotidiano de trabalho diante das atribuições previstas pela Estratégia Saúde da Família. O objetivo desse estudo é analisar os instrumentos de controle da ação social dos agentes comunitários e suas possibilidades de emancipação, a partir da noção de agir comunicativo de Jürgen Habermas. Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada numa Unidade Básica de Saúde da cidade de São Paulo (SP), por meio de entrevista semiestruturada com 14 agentes comunitários com experiência mínima de dois anos. Como resultado, destacamos o domínio da razão instrumental sobre a razão comunicativa nas atividades de planejamento, nos critérios técnicos de decisão e avaliação, bem como nos instrumentos de registro do trabalho. Verificamos oportunidades de emancipação nas ações comunicativas em que os agentes comunitários, por meio do diálogo, desenvolvem ações de entendimento mútuo com os pacientes que complementam as ações técnicas. É também por meio do diálogo orientado à construção de consensos que processos cooperativos de trabalho em equipe são elaborados em torno de objetivos comuns. Consideramos que os agentes comunitários resistem aos ditames das ações instrumentais através do entendimento intersubjetivo promovido pela racionalidade comunicativa que permeia o mundo da vida, efetivando situações de emancipação das tensões e conflitos inerentes ao trabalho de mediação.
The present study problematizes certain uses of qualitative in the field of collective health methods, which are characterized by a lack of theoretical references and gloss over the rationality involved in their use as a technique exclusively. The proliferation and acceptance of such studies probably occur due to the strength of the instrumental rationality with which they have been conducted. Although frequently observed in a careful way, the results are not always supported by a careful presentation of the theoretical framework that underlies the interpretation. The use of "validated" techniques, the discourses constructed, and narratives of the actions of the "subjects" studied do not commit the researcher to the process of investigation, as they are separated from the historical-spatial contextualization and the theoretical-methodological landmark that imprint a historical and social sense to studies.
Resumo: Estudos sobre o processo saúde-doença-cuidados de imigrantes estabelecidos na cidade de São Paulo, Brasil, têm evidenciado uma complexa trama de relações nas demandas dos imigrantes e nas ações concebidas e planejadas pelos serviços de saúde. Nesse contexto, a intermediação dos trabalhadores da saúde na relação imigrantes-investigadores constitui importante forma de acesso dos últimos aos imigrantes sul-americanos, especialmente os bolivianos. Durante as investigações o acesso aos imigrantes ocorre dentro dos contextos das ações em saúde, facilitando aos pesquisadores o acesso às residências dos imigrantes, seus locais de trabalho ou mesmo organizações associativas. A compreensão dos processos de adoecimento dos imigrantes, dentro da complexa trama de relações entre trabalhadores institucionalizados em espaços organizacionais configurados por modelos de pensamento fundados na biomedicina, conduz-nos a problematizar sobre as possibilidades de aproximação junto aos sujeitos que compõem tal universo.
Deadlocks in the process of health regionalization: local plots Impasses no processo de regionalização do SUS: tramas locais 49
AbstractRegionalization of the public health system aims to encourage and enhance efforts and measures involving the organization of local and regional public health, through coordinating all those involved. The barriers that often hinder the process of regionalization are linked to tensions and conflicts between objectives, integration and political factors. This article intends to reflect on the process of regionalization from an administrative and political point of view, highlighting issues of local autonomy due to the process of municipalization. In other words, if the process of municipalizing the health system in the last few decades has strengthened political autonomy in the cities, the proposal to rationalize the services structure by regionalization follows a more administrative logic. But as can be seen in the in the Greater ABC region of São Paulo, for example, the political side of this process will impose itself, one way or another, especially when each city tries to defend their own interests.
Regionalizar o Sistema Único de Saúde (SUS) implica a construção conjunta de um planejamento que dê conta da integração, coordenação, regulação e financiamento da rede de serviços dentro de um território, em um processo contínuo de negociações de toda natureza. O Pacto pela Saúde de 2006 apresenta três instrumentos para a gestão de um sistema regional de saúde: o Plano Diretor Regional (PDR); a Programação Pactuada Integrada (PPI); e o Plano Diretor de Investimentos (PDI). Este artigo se propõe debater, discutir e explicar a operação desses instrumentos no sistema regional de saúde do Grande ABC Paulista, que está hoje sob a coordenação do Departamento Regional de Saúde I (DRS I). Tendo esse objetivo norteador, este estudo descritivo da região do Grande ABC baseia-se em dez entrevistas com secretários e diretores municipais; gestores de hospitais; um gestor da Fundação do ABC; e um gestor do DRS I. Concluiu-se que o PDR necessitaria ser atualizado para equilibrar a relação entre oferta e demanda; o PPI é uma arena de competição, em vez de um espaço de articulação, negociação e pactuação; e o PDI é pouco significativo, uma vez que os recursos do Ministério da Saúde não são suficientes para as ações de saúde nessa região.
A atividade de catador de material reciclável configura-se como um meio de inclusão social na medida em que gera recursos para compra de alguns bens de consumo. O objetivo neste ensaio é apresentar aspectos sobre o universo de trabalho dos catadores e, com isso, gerar reflexões sobre ambiente, recursos e trabalho. Na tarefa de coleta, separação, manuseio e transmutação do lixo em mercadoria, encontramos o modo de sobrevivência de um novo agente, que, ao se expor a diversos riscos de acidentes e de saúde, também se encontra socialmente vulnerável. Não possui qualquer tipo de apoio dos governos, está à mercê da própria sorte em caso de acidentes, adoecimento, oferta de material e rendimento. Faz-se necessário, portanto, que os profissionais atuantes nas unidades de saúde e do serviço social (re)conheçam as fragilidades do trabalho na catação do lixo e implementem ações de proteção.
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