Limites e imposições dos instrumentos de controle do trabalho de agentes comunitários de saúde da Estratégia Saúde da Família

Abstract

Ser considerado elemento de união entre moradores e serviço não revela de imediato a abrangência das funções, nem oferece visibilidade das exigências a que os agentes comunitários de saúde estão expostos no cotidiano de trabalho diante das atribuições previstas pela Estratégia Saúde da Família. O objetivo desse estudo é analisar os instrumentos de controle da ação social dos agentes comunitários e suas possibilidades de emancipação, a partir da noção de agir comunicativo de Jürgen Habermas. Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada numa Unidade Básica de Saúde da cidade de São Paulo (SP), por meio de entrevista semiestruturada com 14 agentes comunitários com experiência mínima de dois anos. Como resultado, destacamos o domínio da razão instrumental sobre a razão comunicativa nas atividades de planejamento, nos critérios técnicos de decisão e avaliação, bem como nos instrumentos de registro do trabalho. Verificamos oportunidades de emancipação nas ações comunicativas em que os agentes comunitários, por meio do diálogo, desenvolvem ações de entendimento mútuo com os pacientes que complementam as ações técnicas. É também por meio do diálogo orientado à construção de consensos que processos cooperativos de trabalho em equipe são elaborados em torno de objetivos comuns. Consideramos que os agentes comunitários resistem aos ditames das ações instrumentais através do entendimento intersubjetivo promovido pela racionalidade comunicativa que permeia o mundo da vida, efetivando situações de emancipação das tensões e conflitos inerentes ao trabalho de mediação.

Dificuldades Apontadas Pelo Agente Comunitário De Saúde Na Realização Do Seu Trabalho

“…Sendo a maioria do sexo feminino 11,12 com idade variando entre 18 e 59 anos e predomínio de pessoas jovens na faixa etária de 20 a 29 anos, casados, com filhos, raça\cor parda e ensino médio completo [11][12][13] . Destaca-se também, a participação desses profissionais, cursando ensino superior e tecnológico.…”

“…As dificuldades de acesso, das condições climáticas, ocorrência de transmissão de doenças infectocontagiosas, barreiras físicas, organizacional e de recursos materiais também foram relatados em outros estudos 1,3,4,12,16 …”

“…Assim, ações comunicativas quando bem trabalhadas, consegue assegurar a integração social que traz dignidade e gratidão ao trabalho de mediação. Quando realizadas nas visitas domiciliares, ela se apresenta de forma genuína e sem coerções que são repassadas cooperativamente de forma a ser compreendida e seguida 12 . Receios e dificuldades em solucionar os problemas com a comunidade costumam ser comuns 5,10,16 , sendo necessário uma capacitação do ensino aprendizagem aplicável aos aspectos de vida da sua comunidade.…”

“…Para isso, é necessário que o ACS capacidade técnica para que se consiga atender as demandas mais comuns como orientações quanto a administração de medicamentos, higiene até as mais complexas 3,19 . Uma vez que nem sempre é possível realizar o acompanhamento de todas as famílias conforme observado nesse e em outros estudos 1,3,12 . Há necessidade dos profissionais priorizarem as famílias de risco, como os idosos e acamados, indivíduos com transtornos mentais, onde o profissional deve se atentar para o estado de saúde do indivíduo, verificando adesão ao plano terapêutico, avaliação de riscos ambientais, lesões cutâneas, integridade de pés, presença de úlceras por pressão (UPP) e outros agravos importantes, e se necessário, encaminhá-lo à ESF para cuidados mais específicos 20,21 .…”

O contexto de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde: a relação do conteúdo do trabalho com variáveis sociodemográficas

“…A deposição de anseios e expectativas sobre estes trabalhadores por parte da comunidade e da equipe, as dificuldades de relacionamento entre equipe de saúde e população, os riscos ambientais a que estão expostos durante as visitas domiciliares e a falta de boas condições de trabalho são fatores citados em diversos estudos com ACS como dificultadores ou causadores de angústia e sofrimento (BRAND; ANTUNES; FONTANA, 2010;GALAVOTE et al, 2011;ROSA;BONFANTI;CARVALHO, 2012;SANTOS;VARGAS;REIS, 2014;JUSTO;GOMES;SILVEIRA, 2015). Nesse sentido, compreende-se que tanto o ambiente de trabalho quanto a forma como se organiza o processo de trabalho do ACS configuram-se como potentes estressores (JUSTO; GOMES; SILVEIRA, 2015).…”