RESUMO Este artigo busca caracterizar as práticas de letramentos literários realizadas no primeiro dia da oficina de sarau ministrada pelo Coletivoz Sarau de Periferia, em junho de 2017, no Centro Cultural Urucuia, localizado na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Esse coletivo, fundado pelo poeta Rogério Coelho, nasceu em 2008 inspirado no Sarau da Cooperifa de São Paulo, vinculando-se, assim, ao movimento e à cena da literatura marginal da periferia da capital paulista. A oficina faz parte do projeto Coletivoz Oficina de Saraus, voltado para alunos da rede pública de ensino, com o objetivo de incentivar a leitura literária e a escrita criativa por meio da performance poética que circula nos saraus periféricos de literatura marginal contemporânea. Por meio de observação participante e gravação de áudio, foram analisadas algumas ações, discussões e falas dos oficineiros e dos estudantes. Como fundamentação teórica, foram utilizados os conceitos: de práticas de letramento, de Brian Street (2014), de letramento literário, de Graça Paulino e Rildo Cosson (2009), e de letramentos de reexistência, de Ana Lúcia Silva Souza (2011). Observamos que os eventos e as práticas de letramento da oficina são marcados pela interação das fórmulas rituais dos saraus das periferias com as da escola, incorporadas nos participantes e recriadas nesse encontro fora dos bares e da instituição escolar. Nessa interação, cria-se a possibilidade de a escola revisitar suas práticas de letramento, ampliando seu repertório, revendo suas metodologias e também contribuindo com práticas de letramentos literários de reexistências.
A Literatura Marginal-Periférica é um movimento que se consolida nos anos 2000 e emerge das ruas e periferias de São Paulo, espalhando-se para outros grandes centros urbanos do Brasil. Num primeiro momento, a base propulsora dessa cena literária é o circuito de saraus, e as competições de slams que ganham mais visibilidade numa segunda fase. O principal meio de expressão dessa literatura é a performance poética que se faz presente nos espaços à margem da cidade e do sistema literário, e que mobiliza um público significativo de jovens para a escuta, a leitura, a escrita e o protagonismo produtor dessa literatura contemporânea. Com esse processo circulação nas/pelas ruas e periferias, a literatura marginal dos saraus e slams promove a formação sensível de leitores e escritores por meio da recepção das performances/vozes poéticas e letramentos de reexistência que criticam as opressões/desigualdades políticas, sociais, raciais, de gênero/orientação sexual, etc., que seus corpos periféricos/minoritários vivenciam na sociedade. O objetivo desse artigo é realizar algumas leituras analíticas dos letramentos literários de reexistência na formação sensível-política por meio das performances nos saraus/slams de literatura periférica de Belo Horizonte. Para isso, contextualizamos esse nicho literário mediante o cruzamento entre conceitos teóricos e exemplos de performances poéticas.
Pretende-se nesse artigo construir uma leitura analítica sobre as vozes, corpos e espaços entre a performance e a escrita da poeta Nívea Sabino, que participa da cena/movimento/circuito dos saraus e slams marginais-periféricos de Belo Horizonte (MG). Para isso, apresentamos uma breve incursão pelas estéticas do marginal e do periférico em contraponto ao espaço/lugar da literatura contemporânea contestada, relacionando o contexto sociocultural dessa produção literária à margem com as vozes, escritas e performances do movimento e circuito de saraus e slams. Da produção escrita de Nívea, teremos como base um dos poemas do livro Interiorana, como suporte, para entendermos uma literatura que nasce e é criada no “entre” a performance e a escrita.
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