O Précis de l'Histoire Ancienne, de Charles Cayx e Auguste Poirson, juntamente com outros quatro précis, integrava uma inovadora proposta de um curso de História para os collèges royaux franceses. Essa coleção, concluída em 1830, seria adotada pelo governo brasileiro em 1838, na forma de tradução, para o recém-inaugurado Imperial Colégio de Pedro II. O objetivo deste artigo é fazer uma análise que entrecruze, por um lado, a acomodação entre as perspectivas de História Universal de Bossuet e iluminista de Heeren – resultado do exercício de uma escrita da História sob a especificidade tanto do suporte (o précis) quanto do público para qual se destinava – e, por outro, o fato de esta escrita da História integrar projetos de nação e civilização do Império brasileiro ao atravessar o Atlântico. Desta análise se constatam tensões e disputas pela construção de inteligibilidade da história num campo de batalha que não era exclusivo dos historiadores: o compêndio escolar.
tem o mérito de apresentar de maneira consistente aquilo do que os profissionais da área já tinham conhecimento intuitivo, mas não sistematizado: a história antiga produzida no Brasil, com vivacidade, se mantém constante e as especificidades de seu estudo não são fatores que impedem a sua realização.O esforço para oferecer uma análise sistemática do ensino e da pesquisa em História Antiga no Brasil a partir da Plataforma Lattes deve ser muito bem-vindo, pois possibilita o pensarmos tal produção acadêmica como um objeto historicamente constituído em meio a embates no campo do Ensino Superior e sua expansão pelo território brasileiro. A formação de gerações de pesquisadores tornou-se consistente, a partir dos programas de pós-graduação, inicialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e em seguida em franca expansão por diversos Estados, além das oportunidades de internacionalização, seja para formação ou mesmo participação em eventos, o que insere a produção nacional no cenário global de pesquisas.Ao definir a história como indissociavelmente social e cultural, Antoine Prost (2008, p. 14) chama a atenção para as relações que os historiadores estabeleceram ora com o campo, simultaneamente científico e social, ora com a própria sociedade "em seu conjunto e em seus segmentos que, afinal, são os destinatários de seu trabalho e para quem essa história tem, ou não, sentido". E será a partir deste caminho que nortearemos as discussões que se seguirão. Nesse sentido, se nos atentarmos para as relações estabelecidas com o próprio campo, o artigo possibilita dimensionar a tensão que se estabelece quando são colocados lado a lado a produção de História Antiga brasileira e o posicionamento ou interesse/conhecimento de outros historiadores brasileiros, integrantes de 1 Professor do curso de História da UENP. Doutorando da UNESP-Assis.
A História enquanto disciplina escolar tornou-se cada vez mais presente ao longo do processo de escolarização desencadeado pelos debates iluministas e a Revolução Francesa, ainda que com contornos muito distintos daquilo que nos é familiar atualmente e formata nossos livros didáticos. A coleção de Précis de l’Histoire se apresenta como um artefato especial para a análise desse processo: composta por cinco volumes e cuja publicação aparece completa em 1830, sendo prescrita desde então para os collèges parisienses como um curso de história, na acepção moderna do termo. O artigo objetiva analisar a construção narrativa, feita por Auguste Poirson, acerca dos gregos e sua origem presente nas segunda e terceira edições (1828; 1831) do Précis de l’Histoire Ancienne para demonstrar: a datada indefinição de fronteiras para a escrita de um compêndio destinado ao uso escolar; e também, nos termos da nascente historiografia profissionalizada, o debate entre inteligibilidades antigas e modernas. Ao mesmo tempo, propõe reflexões acerca da escrita da história Antiga escolar tendo como horizonte o escopo temporal entre o início e o fim do século XIX e o início do século XX.
No decorrer do século XIX, surge e sedesenvolve o conhecimento da Pré-Históriacomo período mais remoto daHistória e área específica de conhecimento.A circulação atlântica de notíciassobre ideias, conceitos, sítios e vestígiospré-históricos, junto à construçãode uma filiação ocidental para o nossopaís, enquanto nação moderna, resultamna primeira prescrição oficial daPré-História sob a República. O compêndioHistoria Antiga, de João Ribeiro,adotado pelo Ginasio Nacional (nomerepublicano dado ao Imperial Collegiode Pedro II) em 1892, é um documentocentral para a compreensão do processoda escrita da Pré-História escolar nocontexto daquele colégio, na década de1890. Nele, observamos a construção deuma Pré-História nos moldes do debatecientífico da época. Este trabalho situasua prescrição nos Programas de ensino docolégio e identifica as linhas mestrasde sua Pré-História.
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