A presente investigação se debruça sobre o momento exato em que, na educação secundária brasileira, a narrativa da História Sagrada, tradicional e vigente de longa data, passa a conviver com a proposta de nova inteligibilidade de passado, pautada em descobertas científicas que alargam a noção de tempo e concomitantemente põe em xeque a primazia da tradição judaico-cristã. Entre 1887 e 1889 João Maria da Gama Berquó, professor do Imperial Colégio de Pedro II, publica dois compêndios que abordam o tema. No primeiro deles, a narrativa centra-se apenas na fundamentação científica, ao passo que no subsequente, ocorre a acomodação entre as duas inteligibilidades. Além de analisar a escrita da história escolar nos compêndios, será apresentado um mapeamento da circulação das obras, bem como uma análise histórica da biografia do autor, procedimentos com os quais se espera demonstrar como tal complexa indissociabilidade não resulta em um processo linear, sendo a escrita da História Antiga escolar, antes disso, um campo em disputa.