O artigo propõe um gesto de leitura de três processos judiciais sobre suicídio e trabalho. Os casos levantados junto ao Memorial do Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul correspondem às décadas de 1960 e 1970. Apresentados aqui na interface entre as duas disciplinas de origem dos autores, Psicologia e História, e entre duas obras: Suicídio e Trabalho: o que fazer? de Christophe Dejours e Florence Bègue (2010) e Sobre o Suicídio de Karl Marx (1846/2006). A Análise de Discurso é o dispositivo teórico analítico que proporciona essa interface sendo conhecimento de entremeio entre Psicanálise, Materialismo Histórico e Linguagem, através do qual procuramos analisar os efeitos de evidência presentes nos processos judiciais. O que quer saber um processo criminal de suicídio? Observamos que os processos trabalhados procuram cúmplices e culpados encarnados. O suicídio é um gesto absoluto e silenciado, tratado como um ato individual e, portanto, atribuído ao seu autor. Pouco se discute acerca do suicídio ou da situação em que é praticado. Menos ainda, a relação do suicídio com a sociedade em que é concebido. Perde-se o sujeito que engendra o gesto. Resta o sujeito autor na condição de depositário: causa e consequência de sua própria ação.
No Turismo, as produções acadêmicas existentes sobre o segmento de Turismo LGBT têm validado práticas do mercado e apresentado, exclusivamente, como justificativas para esse tipo de segmentação, a definição de um perfil econômico desses sujeitos. Neste trabalho temos como objetivo a problematização do segmento de Turismo LGBT com base na análise dos mecanismos de interpelação do sujeito LGBT como um turista LGBT. Questiona o modo como a oferta de produtos se dá pelo mercado turístico às pessoas LGBT, frequentemente, com apelo ao sexo. Não se furta, contudo, de reconhecer a busca pelo prazer sexual através dos deslocamentos turísticos, apenas se propõe à exposição dos mecanismos de controle do desejo dos sujeitos LGBT através de sua interpelação como turistas LGBT. Para isso, assume o folheto promocional da campanha “¡TRAE TUS COLORES!” como a materialidade de onde quatro sequências discursivas são tomadas para compor o corpus de análise. Esta campanha, apoiada pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), promoveu o Brasil como um destino turístico LGBT em dezembro de 2014 nas cidades de Madrid e Valência, na Espanha. A análise do folheto promocional se filia aos pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso francesa teorizada por Michel Pêcheux, que articula conceitos oriundos de três campos teóricos: Psicanálise, Materialismo Histórico e Linguística. Por isso, aproxima os conceitos de sujeito e ideologia para discutir os mecanismos pelos quais a ideologia interpela esses sujeitos, autorizando alguns sentidos ao seu desejo inconsciente e desautorizando outros. Este processo, responsável por identificar o sujeito e censurar o desejo, produz deslocamentos de ordem psíquica e física, interpretados aqui como a busca pela realização do desejo através das viagens. Assumindo, portanto, que a impossibilidade de tomar uma posição, bem como de inscrever o desejo, é o que promove o deslocamento do sujeito, a pesquisa faz um retorno no campo do Turismo.
Contribuir com a produção acadêmica em Turismo é ir além de sistematizá-la ou buscar validar, a partir de uma formulação teórica, ocorrências observadas empiricamente. O processo de produção do conhecimento deve também problematizar aquilo que já está posto como saber estabilizado, propondo outras interpretações possíveis. Com base nesse entendimento propõese como objetivo, neste artigo de teor ensaístico, uma revisão crítica sobre as bases teóricas que fundamentam a noção de segmentação no quadro conceitual do Turismo. Metodologicamente, tal reflexão é feita a partir do referencial teórico da análise do discurso pecheutiana. Considerando os achados resultantes da articulação entre revisão bibliográfica sobre a segmentação e os conceitos discursivos de coisas-a-saber, forma-sujeito e pré-construído, formularam-se três pontos-chave para a problemática em questão, quais sejam, a forma-sujeito do discurso acerca da segmentação, a questão conceitual de entendimento do produto e a lógica disjuntiva da segmentação turística. Tais pontos-chave permitem assinalar a lógica disjuntiva que permeia o processo de construção de segmentos como uma prática prioritariamente administrativa/gerencial, que remete a uma acepção mercadológica do Turismo, ainda sem uma sustentação conceitual que a fundamente.
RESUMO 5 O artigo analisa a interface entre o campo de conhecimento do Turismo e o quadro teórico, científico e metodológico da Análise do Discurso [AD], proposta pelo filósofo francês Michel Pêcheux e introduzida por Eni Orlandi no Brasil. É a partir da tensa relação entre a AD-uma disciplina de entremeio construída epistemologicamente por outras três disciplinas: Linguística, Materialismo Histórico e Psicanálise-e o Turismo, que se busca problematizar questões relacionadas aos sentidos estabilizados sobre o Brasil Turístico, em especial à hiperssexualização do corpo da mulher como mercadoria e atrativo turístico. Tal problematização é desenvolvida tomando-se como materialidade de análise charge veiculada em período próximo ao início da Copa Fifa2014, mobilizando-se conceitos da teoria discursiva para refletir sobre os efeitos da interpelação ideológica na produção dos sentidos.
tendo como entrevistada a Prof.ª Dr.ª Luciene Jung de Campos. Pioneira na articulação entre Análise do Discurso pecheutiana e o Turismo, a professora e pesquisadora do corpo permanente do Programa de Pós-graduação em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul apresenta nesta entrevista os registros de sua trajetória de vida e acadêmica, nos permitindo compreender um pouco sobre seus interesses de pesquisa e sobre o seu olhar para as relações que estabelece com a Psicanálise, a Arte e os estudos do Trabalho.
O presente artigo organiza-se em torno das produções sobre epistemologia em turismo no contexto ibero-americano. O fio condutor desta reflexão está fundado em dois pilares teórico-metodológicos: a produção de autores que identificam correntes ou escolas teóricas para a epistemologia do turismo – e mais especificamente o trabalho de Panosso Netto e Castillho Nechar (2014) – e o dispositivo teórico, analítico e metodológico da Análise de Discurso pecheutiana, em especial no conceito de arquivo. Esses aspectos direcionaram a busca de textos de epistemologia do turismo no site Publicações de Turismo, tido aqui como objeto de análise, resultando na formulação do objetivo do presente artigo: observar quais são as correntes teóricas predominantes sobre epistemologia do turismo em um arquivo elaborado a partir do site Publicações de Turismo. Na etapa de análise, recorreu-se ao levantamento quantitativo e à filtragem dos artigos que tratam do tema epistemologia no referido site, resultando em 60 artigos que compõe a base do arquivo. Na análise foram identificadas como abordagens teóricas predominantes a Fenomenologia, o Positivismo e o Sistemismo e no processo analítico foi constatada uma outra abordagem, nomeada de Complexa/Ecossistêmica.
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