RESUMO A intensificação do trabalho do pesquisador e sua submissão a novas formas de avaliação científica caracterizam o atual cenário da pesquisa brasileira. Apesar das múltiplas críticas ao produtivismo (colonialismo epistêmico, geopolítica do conhecimento, mimetismo do publish or perish), são poucas as pesquisas que alcançam o campo empírico a partir do pesquisador como sujeito. Assim, o artigo objetiva analisar os posicionamentos dos pesquisadores brasileiros que mais têm publicado na área de Administração em relação às políticas de avaliação científica adotadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), as estratégias de produção adotadas e os principais desafios enfrentados. Para realizar a análise, as vozes foram lidas enquanto enunciados, conforme entendido pela Filosofia da Linguagem Bakhtiniana (FLB), e analisadas com base na Epistemologia Crítica do Concreto (ECC), que possibilita considerar suas contradições. Assim, cada um dos enunciados foi contraposto ao que é simultaneamente silenciado/não dito, mas que apresenta relação direta com o que é afirmado, compondo, portanto, uma unidade dialética, conforme a ECC e a FLB propõem. Os resultados demonstram que os docentes têm priorizado estratégias individuais e por vezes não ponderam o sentido da pesquisa para além das métricas avaliativas, que se constituem em seus sistemas de referência. Por fim, conhecer como os pesquisadores reagem à avaliação mostrou-se fundamental para questionar o atual modelo de avaliação científica, que impacta diretamente tanto na saúde docente quanto na produção científica do país.
Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR, Brasil) Ser competente tornou-se objeto de consumo dos trabalhadores, que se dedicam ilimitadamente ao seu desenvolvimento. Este artigo analisa os modos de produção subjetiva do trabalhador público brasileiro a partir das amplas políticas de capacitação por competências, essas pouco problematizadas em seus fundamentos. Trata-se de um estudo documental discursivo e teórico-conceitual, realizado via perspectiva bakhtiniana, em que se analisou a política nacional de desenvolvimento de pessoal, o relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para a UNESCO e o Programa de Capacitação da ENAP. O enunciado das competências, como forma de oportunizar rápida qualificação e inclusão, está comprometido com uma visão de educação liberal e flexível que transfere ao servidor a responsabilidade pela (in)eficiência da gestão pública brasileira. Conclui-se que embora os fundamentos do termo "competências" estejam silenciados na literatura, seus usos e efeitos podem ser lidos em sua perspectiva pragmática, produzindo um trabalhador autônomo, flexível e que se responsabiliza individualmente por suas competências e capacidade de entrega. Na promessa de rápida qualificação e inclusão, o discurso de competência funciona como potente e competente aliado do Estado capitalista.Palavras-chave: Capacitação pública, Competências, Bakhtin, Educação continuada, Discurso, Subjetividade.Competency-based continuing education policies: a study on Brazilian public worker's subjectivity Being competent has become workers' desire to self-improve, dedicating themselves to develop at all times and places. This study analyses the modes of subjective production of the Brazilian public worker based on broad competency-based training policies, which haven't been enough problematized. This research follows a contextual discourse and theoretical documentation adopting Bakhtin's perspective, researching Brazilian public policy on workers' education, as well as the Report of the International Commission on Education for UNESCO and the Brazilian program on professional qualification (ENAP). Results show that competencies discourse is tied to a vision of liberal and flexible education that transfers to the public worker the responsibility of Brazilian public management's (in)efficiency. Although the fundamentals of the term "competencies" rarely appear in related literature, its usages and effects appear in its pragmatically perspective, producing a public worker who believes that he is individually responsible for its competencies and its deliverability. As it promises quick qualification and inclusion, competency discourse is a potent and competent allied of the capitalist state.Keywords: Public training, Competencies, Bakhtin, Continuing education, Discourse, Subjectivity. IntroduçãoA teoria das competências tem estado em grande evidência nas políticas e práticas de educação continuada da administração pública brasileira, perpassando as áreas de saúde, educação e trabalho. Com vistas a melhorar a quali...
Resumo A educação a distância tem avançado no contexto brasileiro, locus no qual é percebida como objeto de estudo deste ensaio. Ao considerar as mudanças no processo de trabalho docente engendradas pela modalidade a distância, este estudo teve como objetivo tensionar o desenvolvimento da produtividade do trabalho docente por meio da sua racionalização e sua possível relação com o valor da força de trabalho em sentido amplo. De forma específica, analisa a funcionalidade da educação para a reprodução ampliada do capital, assim como suas contradições positivas e limites e tendo como mote o processo de Bolonha, as implicações de uma zona livre educacional. As principais conclusões alcançadas foram: se, por um lado há uma democratização do acesso à educação, a racionalização do trabalho, além de possibilitar uma educação mais acessível, relaciona-se, de forma imediata, com a precarização e alienação do trabalhador docente e, intrinsecamente e de forma mais ampla, com a diminuição do valor da força de trabalho geral, uma vez que diminuem os custos relacionados com a produção da mercadoria força de trabalho.
Atribui-se à educação papel central quanto ao exercício da liberdade, cidadania e de uma sociedade democrática. Contudo, a realidade das escolas públicas aponta para a precarização. Neste artigo propõe-se a contribuir na área de organizações ao analisar os principais desafios na gestão de uma escola pública do Estado do Paraná, por meio de um estudo de caso em uma escola de Curitiba, a partir da perspectiva de Mikhail Bakhtin. Os resultados apontam que os enunciados da profissionalização e eficiência do serviço público atuam sobre a produção de resultados como o Índice Ideb, deixando o processo educativo em sentido amplo em segundo plano. Conclui-se que se faz necessário conhecer a realidade cotidiana das escolas para então propor alternativas que minimizem as dificuldades identificadas.Palavras-chave: Bakhtin; educação; gestão; políticas públicas.
Diante das mudanças dos últimos anos no campo da avaliação científica, o objetivo deste artigo é caracterizar os efeitos da relação das atuais políticas de avaliação científica da CAPES e a subjetividade dos pesquisadores públicos em Administração. O estudo qualitativo foi realizado com 13 pesquisadores com alto índice de publicação e os enunciados foram analisados a partir da filosofia da linguagem de Bakhtin. Os resultados apontam para três eixos principais: (i) perda da dimensão coletiva da universidade como instância política de reflexão e decisão; (ii) corrida cega para um fim que não é problematizado; (iii) invisibilidade da intensificação do trabalho e negação de sua relação com os processos de saúde/doença. Esses eixos, em conjunto, expressam o grau de alienação a que chegou o trabalho científico, no qual a publicação da pesquisa segundo um padrão específico torna-se mais meritória que sua própria concepção e desenvolvimento. Constata-se uma ruptura, um desencontro, entre significado e sentido, que passam a ser ocupados por vozes monológicas – padronizantes – e que aniquilam a pluralidade que constitui, de fato, o fazer científico. Conclui-se que o desejo e o empenho dos pesquisadores em atender aos critérios de avaliação direcionam a produção acadêmica. Nota-se também a redução do exercício da autonomia e da dimensão política e social de reflexão na Academia.
A imaginação é frequentemente confundida com devaneios sem impacto na realidade, tendo sido historicamente preterida pela Psicologia face a outras faculdades mentais. No entanto, como função psíquica superior, desempenha papel fundamental na atividade consciente humana. Especialmente, no trabalho. Objetiva-se discutir neste artigo, baseado na Psicologia Histórico-Cultural, a relação entre imaginação e o controle da subjetividade no campo do trabalho; bem como defender a tese de que o controle da imaginação pode alterar a relação do indivíduo com a realidade e os processos psíquicos de produção de imagem subjetiva da realidade objetiva. A partir disso, propõem-se duas formas predominantes de processos cognitivo-afetivos, que se manifestam como tendências do psiquismo humano: um cuja prevalência ocorre por meio do exercício da imaginação criativa; e outro por meio do "realismo fatalista e conformista", entendido como a forma de imaginação típica do trabalho alienado, responsável pelo exercício da imaginação como produção de imagens fictícias.
A meta de publicar com frequência em revistas de excelência tem configurado a jornada exaustiva de muitos docentes. Esta meta-síntese tem como objetivo verificar como os pesquisadores brasileiros têm estudado o posicionamento de seus pares diante da política de avaliação da produtividade científica no país formulada pela CAPES e CNPQ. Esses órgãos adotam critérios de produtividade que balizam a avaliação dos programas de pós-graduação e de seus docentes. Foram localizados 46 artigos científicos, dos quais 4 foram utilizados para a meta-síntese. Os critérios de seleção e análise adotados partem da filosofia de linguagem de Bakhtin: criticidade, plurilinguismo, posicionamento ideológico, qualidade dos insights e contextualização sócio-histórica. Mesmo os poucos estudos que atenderam aos critérios citados priorizam metodologias que amparam-se na lógica de mensuração quantitativa, havendo insuficiente apropriação de aspectos históricos e das vozes, nas análises. Verificou-se que a política de avaliação não apenas avalia, mas fortalece e induz determinadas práticas de pesquisa. Ao não se problematizar o contexto e as vozes, corre-se o risco de se adotar posicionamentos funcionalistas, que legitimam enunciados já em evidência, naturalizando-se a realidade e comprometendo-se a concepção do sujeito como agente de transformação. Conclui-se que estudos que possuem como objeto as políticas de avaliação devem considerar a construção dos modos de subjetividade do pesquisador. Há aspectos pouco esclarecidos na literatura no que se refere à maneira como os critérios de avaliação interferem nas formas de subjetivação do pesquisador, e em como ele organiza e significa o seu fazer e a si mesmo.
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