Toda a produção acadêmica é, necessariamente, o resultado de uma produção coletiva. O autor expressa, de forma organizada e sistematizada, a partir de reflexões e pesquisas, aquilo que foi produzido social e historicamente. Assim, ao escrever na primeira pessoa do singular, procedimento que não costumo adotar, não pretendo negar esse fato, mas apenas assumir inteiramente a responsabilidade pelo texto; ou seja, falo por mim. O que escreverei aqui é a minha avaliação, fruto de mais de 30 anos de estudos e pesquisas nessa área. Por isso, ainda que muitas das concepções sejam originárias de outras reflexões, apenas em casos extremamente necessários, quando a autoria da concepção não for de domínio público, farei referência à bibliografia.Vou procurar argumentar, neste artigo, que a teoria crítica, entendida como marxismo ocidental, somente agora tem, no Brasil, na área de estudos organizacionais, uma produção sistemática relevante. Ao contrário das crenças fixadas na academia, no Brasil, não houve nessa área de estudos uma linha de pesquisa com substância histórica. Isso não será feito de forma exaustiva, primeiro de tudo, porque não é o propósito dessas reflexões e, em segundo lugar, porque muitas das questões que serão aqui abordadas já foram tratadas em outros textos.Para facilitar minha exposição, procurarei explorar o tema a partir de quatro questões: Teoria Crítica; Teoria Crítica em Estudos Organizacionais; Critical Management Studies; Análises Críticas em Estudos Organizacionais. É importante considerar que as mesmas não esgotam o conjunto das abordagens necessárias ao esclarecimento do tema do estado da arte da teoria crítica no Brasil, mas oferecem uma boa pista de investigação e um proveitoso motivo para polêmicas, que espero possam ocorrer. Esclarecimentos iniciaisAntes de apresentar as questões anunciadas, acredito ser necessário explicitar, a título de esclarecimento, alguns pontos que servem para fundamentar o desenvolvimento da argumentação que se segue. Em linhas gerais, entendo que:existe uma diferença substantiva entre (a) teoria crítica, segundo a tradição da Escola de Frankfurt, (b) teoria crítica em estudos organizacionais (TCEO), que agrega outras dimensões à teoria crítica frankfurtiana, (c) estudos gerenciais críticos, segundo os parâmetros do critical management studies (CMS) e (d) análises críticas em estudos organizacionais (ACEO);II. a teoria crítica frankfurtiana possui três gerações: a primeira, original, filiada ao marxismo, formada por Pollock, Bloch, Adorno, Horkheimer, Benjamin, Marcuse e Fromm, entre outros; a 1 Pós-Doutorado em Labor Relations pel ILIR
Resumo O rigor conceitual é um elemento fundamental na atividade científica. O conceito é uma representação abstrata da realidade, permitindo, pelo seu rigor, a identificação de fenômenos iguais ou semelhantes, tanto quanto a distinção entre fenômenos similares ou diferentes. Este ensaio pretende, ao tomar por base o conceito já estabelecido de autogestão, especialmente em sua dimensão social, distingui-lo de experiências de gestão que contêm características autogestionárias, abrigando-as sob o conceito de organizações coletivistas de produção associada (OCPA). Em outras palavras, sob o capitalismo, os empreendimentos chamados de autogestionários não constituem uma autogestão, mas OCPA, as quais têm características autogestionárias e apresentam-se enquanto formas de resistência ou modelos alternativos aos do sistema de capital. A autogestão social ou as OCPA não são uma nova economia nem uma economia solidária. A autogestão tem uma dimensão social e somente pode existir uma autogestão nas unidades produtivas quando o sistema social for autogestionário. Essas organizações com características autogestionárias correspondem à forma de gestão coletivista de trabalho. Sob o capitalismo, algumas organizações podem ter características predominantemente autogestionárias. Estas são conceituadas aqui como OCPA, que, por estarem inseridas na lógica do capital, atuam como unidades no sistema de capital.
RESUMO: Ao longo do desenvolvimento do capitalismo, a concepção do que seja a saúde do trabalhador modificouse, passando do patamar da 'preocupação com a sobrevivência do corpo' para a 'preocupação com a saúde mental do trabalhador'. A gestão da saúde foi sendo incorporada às novas formas de gestão dos empreendimentos capitalistas, mas a despeito disso, o sofrimento no trabalho continua, expresso em manifestações como estresse, fadiga crônica, burnout, DORT etc. Este artigo busca identificar e analisar, através de um estudo de caso, as contradições existentes acerca das estratégias organizacionais adotadas sobre Saúde Mental no Trabalho, tendo como referência a percepção dos trabalhadores. Os resultados mostraram que os programas de saúde são baseados em intervenções pontuais, paliativas e estão relacionados ao sistema de controle da organização atuando em cima dos efeitos da organização do trabalho, não se baseando numa real preocupação com a saúde do trabalhador.Palavras-chave: Saúde mental no trabalho; psicopatologia; relações sociais de produção. MENTAL HEALTH AT WORK: CONTRADICTIONS AND LIMITS.ABSTRACT: Along the capitalism development, the conceptions of worker's health has changed, passing from the "preoccupation with the surviving of the body" to the "preoccupation with the worker's mental health". Management of health has been incorporated to the new capitalist enterprising management forms, but in spite of that, the suffering of the worker goes on, expressed in physical manifestations like stress, and chronicle fatigue, burnout and DORT. This essay tries to identify and analyze, through a case study, the existing contradictions about the organizational strategies adopted on mental health at work/labor, having as a reference the workers' perception. The results show that health programs are based in ad hoc and palliative interventions related to the control system of the organization, acting on the effects of work organization, and not based on a real preoccupation with the worker's health.KEY WORDS: mental health at work/labor, psychopathology, production social relationships.
O propósito deste artigo é elaborar uma crítica da concepção de Guerreiro Ramos nos estudos organizacionais a partir das suas contribuições mais conhecidas, consultadas e referenciadas, de forma a compreender seus fundamentos e suas vinculações, com o objetivo de defender a tese de que as análises críticas de Guerreiro Ramos não autorizam incluí-lo ou considerá-lo como vinculado à Teoria Crítica. As posições críticas de Guerreiro Ramos, conforme será mostrado, baseiam-se no emprego que faz em suas reflexões da fenomenologia, especialmente a de Husserl. Para defender a tese proposta, as análises serão realizadas do ponto de vista da Teoria Crítica. Para tanto, este estudo está organizado em três partes. Na primeira, tratará dos contornos conceituais do que se entende por Teoria Crítica e fenomenologia, de maneira a fundamentar a análise. Na segunda, exporá a proposta da redução sociológica formulada por Guerreiro Ramos, agregada à sua crítica à sociologia brasileira e à proposição de uma nova ciência das organizações. Na terceira, encaminhará uma análise crítica objetiva da concepção de Guerreiro Ramos, tendo por base uma postura metodológica que integra o significado das obras criticadas nos fatos, levando em consideração o significado de sua produção intelectual e a vinculação com a situação existencial.
Este artigo é um estudo de caso único, realizado junto a uma organização pública municipal de Curitiba, e tem como objetivo investigar e compreender os vínculos organizacionais. O estudo dos vínculos é feito por meio dos seus elementos constitutivos: a identificação, o sentimento de pertença, a cooperação, a participação, a criação de inimigos, a idealização, o reconhecimento e valorização dos indivíduos, a solidariedade, a integração, o crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional e a autonomia. Foram utilizados, como instrumentos de coleta, questionário fechado e análise documental. O resultado dessa pesquisa é a caracterização dos elementos que são importantes na formação e manutenção dos vínculos e, conseqüentemente, para o comprometimento dos empregados com os objetivos, políticas, problemas, desempenho e resultados da organização.
O presente ensaio tem como propósito discutir como o tempo de trabalho ultrapassa o tempo formal da jornada de trabalho a partir das três seguintes categorias de análise: 1. tempo de trabalho socialmente necessário ou simplesmente tempo de trabalho necessário, 2. tempo dedicado ao trabalho ou tempo disponível e 3. tempo livre (que compreende o chamado "tempo socialmente supérfluo", quando se refere ao tempo ocioso, e o "tempo socialmente disponível", o qual é mediado pela velocidade decorrente das transformações emergentes no mundo contemporâneo). O conceito de tempo empregado neste ensaio parte de uma concepção que possibilita apreender essa categoria como construção social e histórica, e não como uma categoria abstrata arbitrária. Neste ensaio, serão tratadas as concepções de construção temporal, tempo de trabalho e tempo livre, com o propósito de entender como a fronteira do tempo de trabalho invadiu sutilmente o tempo livre do sujeito trabalhador, tornando esses tempos fluidos, tensos, urgentes e flexíveis. Tempo aprisionado não por um controle minucioso da atividade, para adaptar o corpo ao exercício do trabalho, mas por dispositivos que mobilizam o sujeito a partir de objetivos e projetos, canalizando o conjunto de suas potencialidades para fins do capital. Os argumentos desenvolvidos aqui permitem sugerir que o tempo de trabalho necessário corresponde àquele em que o trabalhador produz o equivalente ao seu próprio valor. Tempo excedente é aquele que extrapola o tempo necessário de trabalho. Dessa forma, o tempo de trabalho necessário não constitui, no sistema de capital, o tempo de trabalho ou tempo disponível de trabalho, pois este engloba igualmente o tempo necessário e o tempo excedente de trabalho.
Este artigo pode ser copiado, distribuído, exibido, transmitido ou adaptado desde que citados, de forma clara e explícita, o nome da revista, a edição, o ano e as páginas nas quais o artigo foi publicado originalmente, mas sem sugerir que a RAM endosse a reutilização do artigo. Esse termo de licenciamento deve ser explicitado para os casos de reutilização ou distribuição para terceiros. Não é permitido o uso para fins comerciais.
O objetivo central deste trabalho consiste em analisar a forma como Maurício Tragtenberg e Fernando Cláudio Prestes Motta concebem a burocracia. Os objetivos específicos são: compreender as principais características da burocracia segundo Weber, autor central que orienta as obras de Tragtenberg e de Prestes Motta; atingir o entendimento de burocracia expresso na obra de Tragtenberg; apreender o entendimento de burocracia segundo a obra de Prestes Motta; analisar as relações entre os entendimentos de burocracia de Tragtenberg e de Prestes Motta. São levados em consideração nas análises dos autores e do conceito de burocracia: a trajetória intelectual; a ordem das produções; as epistemologias; o espaço e o tempo histórico; a dimensão semântica, ideológica e cultural; questionamentos que se revelam importantes para se compreender o desenvolvimento teórico do conceito. Chegou-se à conclusão de que, apesar das diferenças nas trajetórias intelectuais de Tragtenberg e Prestes Motta, a burocracia é entendida por ambos como organização, poder e controle.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.