O presente texto, um ensaio experimental, surgiu a partir de duas situações de violência homofóbica que ocorreram em Quatorze de Novembro de 2010 e ganharam espaço na grande mídia. Os efeitos de um tiro e de um golpe de lâmpada reverberaram nos corpos e construíram o modo de se relacionar com as outras pessoas e o caminhar pelas cidades. Amplamente divulgada, a homofobia regula as performances de gênero dos sujeitos, esvazia os espaços públicos, fortalece o funcionamento dos sistemas de controle da vida e constrói a cidade como território de medo. As políticas de enfrentamento da homofobia produzem despolitização e individualização das problemáticas sociais e coletivas. Porém, a insistência de corpos andarem pela cidade produziu fraturas nas relações estabelecidas. Assim, possibilitou a experimentação da força e da potência dos encontros inesperados, do corpo e do afeto como formas de resistência, e das lutas cotidianas pelo direito de existir.
A relação entre o profissional, com suas técnicas e saberes, e o usuário, com suas necessidades e o desejo de retornar a sua autonomia, é um dos espaços que pontua a integralidade na produção em saúde. Ambiente em que profissional e usuário têm poderes e autonomia e podem colaborar ou competir. O objetivo neste estudo é compreender e problematizar o termo 'integral' na educação profissional e na saúde. Este termo está relacionado a formas de se produzir saúde no interior dos serviços e à formação com acesso à totalidade dos saberes envolvidos no trabalho e na educação. Nesta perspectiva, utilizamos a pesquisa bibliográfica de base qualitativa, através de sucessivas leituras do material bibliográfico, elaborando uma discussão argumentativa entre os diferentes referenciais teóricos do campo da saúde e da educação. Ao fim, podemos identificar os distintos entrelaçamentos que constituem a integralidade integral na formação em saúde.
The coronavirus pandemic and responses have had uneven impacts on different segments of societies. We analysed experiences of LGBTQIA+ people during COVID‐19, based on interviews in the UK and Brazil in 2020. The UK and Brazil are instructive cases, with the same crisis impacting these two different social, cultural, economic, and political contexts. Pre‐existing marginalisation shaped COVID‐19 experiences in both contexts, influencing challenges faced, such as isolation or disruption to transgender healthcare, and coping strategies, including the important role of LGBTQIA+ volunteer and mutual‐aid groups. We argue that despite commonalities, there is no single LGBTQIA+ experience, and that disaster strategies will be ineffective until they recognise intersectionality and support the diversity of LGBTQIA+ populations. We conclude with a call to action for more inclusive disaster research, policy, and practice, which requires scrutinising dominant cisgender‐heteronormative structures that produce and reproduce LGBTQIA+ marginalisation.
Resumo O presente artigo analisa, de maneira crítica, os 20 anos da Resolução nº 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia. Tal documento regulamenta o exercício profissional sobre orientação sexual; mais exatamente, veta práticas de patologização e discriminação, e incentiva o enfrentamento ao preconceito e à violência. Primeiramente, discutimos como a Resolução foi objeto de debate legislativo e esteve cerceada pelo judiciário, apesar de sua imensa visibilidade, força política e capacidade de garantia de direitos humanos – ou, talvez, justamente por isso. Em seguida, analisamos o objetivo de tais ações – autorizar práticas que tentam reverter a homossexualidade: elas não têm fundamentos no atual conhecimento psicológico, configuram exercício de tortura e produzem efeitos de intenso sofrimento e adoecimento. Posteriormente, debatemos desafios e possibilidades para posicionamento ético do exercício profissional da Psicologia com homossexualidades em diferentes campos de atuação (educação, justiça e política de saúde) de forma a enfrentar as patologizações. Por fim, interrogamos a votação do Supremo Tribunal Federal sobre a criminalização da LGBTIfobia a partir da criminologia crítica, em dialogo com os efeitos da Resolução no 01/1999. Concluímos que este documento, ainda que insuficiente para eliminar as práticas de LGBTIfobia, segue um instrumento relevante para uma Psicologia de garantia dos direitos humanos.
Resumo: A Psicologia, em seus cinquenta anos de regulamentação no Brasil, torna-se um saber difundido por suas intervenções: no campo, na formulação de políticas públicas e na produção de conhecimento acadêmico. A proposta deste artigo é pensar acerca das tensões que emergem no ato de pesquisar e sobre os efeitos produzidos por esse ato, ao mesmo tempo em que a transformação da realidade e as implicações éticas do pesquisador se mostram presentes diante de tais processos. Por meio dessas análises, novas perguntas são elaboradas para o campo de produção do conhecimento, convidando os leitores a considerar o ato de pesquisar como prática política. Entende-se o processo de produção de conhecimento a partir de linhas móveis de visibilidade e de enunciação que se compõem em redes, nas quais o pesquisador não é neutro, mas realiza escolhas associadas a afetos, tensões e desejos. O papel da pesquisa é colocado em análise, sob a ótica da produção de efeitos e da ciência como prática nômade e híbrida. Palavras-chave: Psicologia. Política científica e tecnológica. Construção de conhecimento. Ética.Abstract: Psychology, in fifty years of regulation in Brazil, became a widespread knowledge for its activities: in the field, in the formulation of public policies, and in the production of academic knowledge. The purpose of this article is to discuss the tensions and the effects that emerge in the act of searching, with reference to the cartography as a method. Through these analyzes, new questions are introduced to the field of production of knowledge, inviting the readers to think about the act of searching as a political practice. The process of knowledge production is understood from mobile ways of visibility and enunciation that make up networks, in which the researcher is not neutral, but makes choices associated with emotions, tensions and desires. The principal function of research is analyzed from the standpoint of effect production and science as a nomadic and hybrid practice.Resumen: La Psicología, en sus cincuenta años de reglamentación en el Brasil, se torna un saber difundido por sus intervenciones: en el campo, en la formulación de políticas públicas y en la producción de conocimiento académico. La propuesta de este artículo es pensar acerca de las tensiones que emergen en el acto de pesquisar y sobre los efectos producidos por ese acto, al mismo tiempo en que la transformación de la realidad y las implicaciones éticas del investigador se muestran presentes delante de tales procesos. Por medio de esos análisis, nuevas preguntas son elaboradas para el campo de producción del conocimiento, invitando a los lectores a considerar el acto de pesquisar como práctica política. Se entiende el proceso de producción de conocimiento a partir de líneas móviles de visibilidad y de enunciación que se componen en redes, en las cuales el investigador no es neutro, sino que realiza elecciones asociadas a afectos, tensiones y deseos. El papel de la pesquisa es colocado en análisis, bajo la óptica de la producción de efectos y de la ...
Resumo: Quem paga o preço com o desmonte do Programa Rio Sem Homofobia (RSH) pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro? O que possibilita anunciar uma política como sucedida ou fracassada? Quais as condições necessárias para execução de serviços públicos para a população LGBTI? Tal qual a genealogia trabalhada por Michel Foucault, o presente texto recupera registros relativos a alguns momentos do Programa Rio Sem Homofobia para compreensão de lutas, movimentos e processos históricos em operação. Não se trata de uma busca exaustiva e conclusiva de informações, e nem mesmo uma tentativa de desvelar um passado supostamente verdadeiro e definitivo. Não obstante, acreditamos que este texto pode colaborar para a compreensão do tempo presente e não responder, mas, ao menos, tentar extrair implicações das perguntas formuladas. O texto está dividido em seis itens, organizado a partir da noção de constelação de Walter Benjamin, a agrupar diferentes ideias por semelhanças provisórias. Primeiro, a apresentação de marcadores metodológicos. Segundo, o funcionamento do RSH na última gestão do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Terceiro, a análise de processos relacionados à concepção, inauguração e implementação do Programa. Quarto, a discussão referente a serviços anteriores ao RSH, executados por movimentos sociais, com financiamento público. Quinto, a crítica às narrativas de sucesso, numa tentativa de possibilitar miradas diferentes sobre o presente. Por fim, o apontamento para experiências e responsabilidades que ainda (nos) restam.Palavras-chave: Rio Sem Homofobia; Genealogia; Movimento LGBTI; Políticas públicas. Finally, the last point about experiences and responsibilities that still remain.
Resumo: Neste artigo, discutimos experiências de pessoas LGBTI+ vivendo nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo durante a 'primeira onda' da pandemia de Covid-19, em 2020. Temos como fundamentação teórica estudos de desastres e respostas a crises e de gênero, sexualidade e queer. Trabalhamos com uma abordagem qualitativa utilizando análise do discurso de inspiração Foucaultiana e análise temática para compreender experiências de sujeitos e condições de possibilidade de discursos. Assim, através de entrevistas semi-estruturadas, identificamos como condições estruturais fazem com que esta população esteja especialmente exposta aos impactos da pandemia, enquanto respostas governamentais à crise ignoravam suas necessidades específicas. Sentimentos de insegurança e instabilidade em função da condução da pandemia e de discursos discriminatórios pelo governo federal exacerbaram essas vulnerabilidades. Mais ainda, percebemos desigualdades em função de raça, gênero e classe na própria comunidade LGBTI+, levando a vulnerabilidades desiguais e estratégias de enfrentamento conforme as condições específicas das pessoas entrevistadas. Os serviços especializados para população LGBTI+ sofreram severas interrupções, fazendo com que movimentos sociais e grupos organizados criassem ou intensificassem suas próprias respostas, a parte ou até apesar do Estado. Ainda que a comunidade LGBTI+ demonstre a possibilidade de resistência e organização, enfatizamos que a omissão de responsabilidade das autoridades públicas na pandemia Covid-19 teve consequências significativas. Recomendamos que as respostas às crises tenham a participação direta das pessoas LGBTI + em seu planejamento, execução e avaliação, para ajudar a facilitar estratégias de redução de risco mais inclusivas.
O presente artigo analisa uma experiência de pesquisa em hospital infantil no Rio de Janeiro, que teve por objetivo identificar estratégias de gestão de profissionais de nível médio, a partir da micropolítica do trabalho vivo. Para tanto, utilizamos uma metodologia qualitativa de pesquisa participante. Questões de gênero surgiram na construção dos dados em discursos e práticas de profissionais de um setor da área-meio, e tomamos estes analisadores dos processos de trabalho e cuidado no serviço. As construções de gênero produzem modos dos sujeitos viverem, experimentarem e operarem o mundo. Assim, observamos que profissionais de saúde restringiram usuárias ao papel materno, e se identificaram no serviço de acordo com os padrões de gênero socialmente instituídos. Concluímos que é preciso dar visibilidade às práticas da área-meio dos serviços de saúde, pois é produtora de cuidado e de sujeitos – usuários e trabalhadores. Palavras-chave: Trabalho em saúde; Cuidado em saúde; Gênero; Produção de subjetividade; Micropolítica.
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