Resumo: O artigo apresenta uma visão panorâmica sobre a formação do campo religioso brasileiro desde os tempos coloniais até os dias correntes. Parte de uma visão histórica dos tipos de catolicismo que vicejaram no Brasil colonial e imperial e das suas características que influenciam a religiosidade brasileira até o presente. Passa pelas transformações advindas com a proclamação da República: a separação constitucional da Igreja Católica do Estado e a instituição da liberdade religiosa por este garantida. Acompanha as transformações ocorridas ao longo do século XX, com o estabelecimento de um campo religioso pluralista em que o catolicismo vai, gradualmente, perdendo adeptos para outros grupos religiosos, especialmente, os protestantes pentecostais, sem, contudo, perder a hegemonia. Chega à atualidade, em que essas tendências persistem, mas, além disso, altera-se substancialmente a dinâmica do campo religioso, com a perda de influência das instituições religiosas em conseqüência da subjetivização das crenças e práticas. Desse ponto de vista, o artigo analisa as trajetórias religiosas individuais possibilitadas pelo crescente pluralismo e pela progressiva adesão a duplicidades e mesmo multiplicidades religiosas, que acrescentam novas formas de expressão às tradicionais. Tais processos atingem a quase totalidade dos mutantes religiosos -a exceção é apenas o grupo protestante -, inclusive os católicos retornados após outras experiências de vida religiosa, e envolvem crenças e práticas provindas de fontes religiosas orientais tradicionais e recentes, bem como o esoterismo.Palavras-chave: formação do campo religioso brasileiro; tipos de catolicismo; mutantes religiosos.
O título deste artigo contrapõe duas metáfo-ras. A primeira é muito conhecida, pois foi utilizada por Max Weber (1951, 1958) para caracterizar as religiões orientais como casos radicais de encantamento em que, apesar das diversas condições que a China e a Índia antigas disporiam para desenvolver uma economia racional de tipo capitalista, jamais poderiam espontaneamente chegar a ela, em decorrência de obstáculos religiosos intransponí-veis. A segunda delas é de minha lavra, mas inspirada em Peter Berger que, em texto recente, parcialmente publicado em português, declara existir [...] uma subcultura internacional composta por pessoas de educação superior no modelo ocidental, em particular no campo das humanidades e das ciências sociais, que é de fato secularizada. Essa subcultura é o vetor principal de crenças e valores progressistas e iluministas. Embora sejam relativamente pouco numerosos, são muito influentes, pois controlam as instituições que definem "oficialmente" a realidade, principalmente o sistema educacional, os meios de comunicação de massa e os níveis mais altos do sistema legal (2001, pp.16-17).A realidade que no título declaro não reproduzir nenhuma nem outra das situações metafóri-cas é, em termos genéricos, a sociedade brasileira e, mais especificamente, o campo religioso brasileiro contemporâneo. Mas este será meu ponto de chegada, ao final da exposição.Pretendo discutir, de início, algumas interpretações da sociologia da religião de Max Weber, seguramente o autor clássico que exerce a maior influência não só na sociologia contemporânea, mas nas ciências sociais em geral (Souza, 2000). Entre as alternativas possíveis, escolhi dois autores que me parecem mais expressivos na área da sociolo- NEM "JARDIM ENCANTADO", NEM "CLUBE DOS INTELECTUAIS DESENCANTADOS" Lísias Nogueira Negrão
Como conceitos abrangentes e genéricos, messianismo e movimento messiânico são necessariamente típico-ideais, no sentido de se referirem à realidade observável mas não a reproduzirem ou esgotarem, e isto mesmo no caso em que os autores entendam seus conceitos como tipos empíricos. Desta forma, o primeiro deles diz respeito à crença em um salvador, o próprio Deus ou seu emissário, e à expectativa de sua chegada, que porá fim à ordem presente, tida como iníqua ou opressiva, e instaurará uma nova era de virtude e justiça; o segundo refere-se à atuação coletiva (por parte de um povo em sua totalidade ou de um segmento de porte variável de uma sociedade qualquer) no sentido de concretizar a nova ordem ansiada, sob a condução de um líder de virtudes carismáticas. 1 A concepção acima associa os movimentos messiânicos à escatologia, embora possam existir movimentos milenaristas não messiânicos, conduzidos por uma sucessão ou pluralidade de líderes guerreiros, assembléias de anciãos, virgens ou crianças inspiradoras etc. Por outro lado, podem faltar a movimentos caracteristicamente messiânicos concepções de um escathon final.Constituem-se como movimentos messiâni-cos, milenaristas, ou messiânico-milenaristas desde simples contestações pacíficas quanto a aspectos selecionados da vida social, até rebeldias armadas, ambos os tipos informados pelo universo ideológico religioso, capazes de, ao mesmo tempo, diagnosticar as causas das atribulações e sofrimentos e indicar caminhos para sua superação, desde os mais racionais até os mais utópicos. O imaginá-rio religioso pregresso, sua exacerbação ou superação por uma nova revelação profética, está sempre presente, interpretando a realidade, postulando objetivos e indicando os meios pelos quais estes serão alcançados.Orientando-se sobretudo por valores e sentimentos tradicionais, em descompasso com os ideais de modernidade do momento, tais movimentos tendem a ser vistos pelas vigências política e intelectual como irracionalidades e arcaísmos, frutos da ignorância e do fanatismo. Sendo seus adeptos historicamente recrutados entre indígenas destribalizados, populações camponesas, povos colonizados e setores populacionais marginalizados ou excluídos da moderna civilização ocidental
Neste artigo pretendo analisar algumas tendências de transformação na atualidade do campo religioso brasileiro, captadas por vários pesquisadores, entre os quais me incluo, sobre trajetórias religiosas individuais, duplicidades e multiplicidades religiosas. De início, contudo, pretendo resgatar algumas análises do fenômeno religioso na modernidade realizadas por um autor que, apesar da reconhecida importância de sua obra, é pouco mencionado e conhecido entre nós: Ernst Troeltsch, notável historiador alemão da religião e originalmente teólogo, contemporâneo e interlocutor de Max Weber. Não há traduções de seus textos para o português, a não ser alguns pequenos excertos de sua obra mais conhecida, sobre os conceitos de igreja e seita, publicados em coletâneas e revistas 1 . No entanto, fugirei da discussão sobre a distinção institucional entre as formas associativas (igreja e seita) propostas pelo autor, pois ele próprio já as considerava ultrapassadas para explicar a vida religiosa de seu tempo: a religiosidade eclesiástica, em ambas as formas citadas, estaria em crise já em inícios do século XX, embora não acreditasse ele em seu futuro desaparecimento. Sua crise adviria do repúdio ao autoritarismo eclesiástico no moderno mundo cristão, tanto no católico como no protestante, devido sobretudo à preocupação com a realidade imanente trazida pela modernidade
Personalidade singular e paradoxal, Douglas Teixeira Monteiro era tímido, porém arrojado e extrema . mente ativo; sério, porém dotado de fino senso de humor; firme em suas posições, que defendia veementemente, porém contemporizador e aberto ao diálogo. Com amplo círculo de amizade, Duglas se relacionava com todos, independentemente de quarelas religiosas, teóricas ou id• eológicas, sa, bendo como obter das pes soas o melhor de seus esforços para impulsionar as atividades das associações que presidiu Associação do s Sociólogos do Estado de São Paulo (73/75), Associação Nacional dos Cientistas Soci ais ( ( 197 5) e Centro de Estudos da Religião ( 73 /7 5) e dos inúmeros grupos de trabalho, comissões e órgãos colegiados internos e externos à Universid a• de de que participou desde 1953, quando iniciou sua carreira unive rsitária junto à FFCL, do Espírito Santo.
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