A pesquisa consiste em um modelo investigativo diferenciado sobre o texto escrito de surdos universitários, pelo qual busca-se a descrição de problemas de gramaticalidade e de desvios de norma culta. Além da descrição, permeada pela análise do impacto desses problemas no nível da textualidade, busca-se identificar os processos cognitivos, típicos da Interlíngua, subjacentes ao surgimento dos fenômenos. Os textos selecionados foram do gênero discursivo e-mail e os resultados revelaram problemas de diferentes naturezas presentes na produção escrita desses indivíduos.
Estudos com análise da produção escrita de surdos crianças e adultos mostram evidências que compõem aqui um complexo quadro de ideias e hipóteses sobre a representação do PB emergente nessa população. Nossas investigações, fundamentadas em pressupostos sociocognitivistas da Linguística Cognitivo-Funcional (BYBEE, 2016; GOLDBERG, 2006; 2019; TOMASELLO, 2003), têm indicado que o componente morfossintático acumula grande parte das divergências materializadas em textos desses aprendizes. Embora divergências no uso de L2 sejam esperadas, chama atenção a pouca diferença na reorganização do conhecimento linguístico que se espera mutável ao longo de anos de escolarização e de contato com o PB escrito. As investigações centradas na produção têm recebido maior atenção dos estudos nas áreas da linguística e da educação de surdos. A habilidade de leitura, no entanto, não parece receber a mesma atenção. Questão que se levanta é se a atividade leitora também seria comprometida pelas divergentes combinações de itens lexicais e gramaticais, que parecem integrar o conhecimento linguístico desses aprendizes, a julgar por seus textos produzidos com muitas divergências morfossintáticas que comprometem os sentidos. O objetivo deste artigo é oferecer evidências sobre o desenvolvimento linguístico de aprendizes surdos universitários, que permitam caracterizar a representação cognitiva de construções nominais. Como resultado da análise de dois instrumentos em formato de Cloze adaptado, aplicados a 24 participantes, este artigo apresenta uma tipologia de esquemas nominais que parece integrar um sistema de competidores (SOARES, 2018). Esperamos que nossos resultados possam contribuir para uma didática aquisicional para surdos, com melhor aproveitamento do input escrito.
A área de estudos linguísticos conta com importantes obras de referência publicadas no Brasil. Neste estudo, selecionamos cinco, a saber: Moderna Gramática Portuguesa, Gramática de Usos do Português, Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, Nova Gramática do Português Brasileiro, Gramática do Português Padrão. Optamos por organizar nossa análise em dois momentos distintos, relacionados à concepção das obras. No primeiro, confrontamos informações sobre o planejamento das obras, em que os autores estabelecem critérios para a elaboração textual e os expõem na parte introdutória (posicionamento teórico, público-alvo, complexidade metalinguística). Para o segundo momento, observamos, na organização e no conteúdo descrito nas gramáticas, a abordagem escolhida para análise do português, a fim de entendermos a concepção de linguagem que norteou a produção de cada obra. Ao final da análise, encontramos visão moderada para interpretação continuísta ou descontinuísta da tradicional descrição gramatical. As duas etapas conformam o objetivo de expor uma visão geral das cinco gramáticas selecionadas.
RESUMOPesquisas descritivas que envolvem o sistema sonoro das línguas requerem trabalho técnico para que fenômenos prosódicos sejam interpretados e confrontados com o conhecimento intuitivo e impreciso, em geral, expresso por meio de metáforas. Neste artigo, sugerimos que uma abordagem técnica da categoria prosódica fluência oferece descrição consistente para nortear julgamento confiável desse critério tanto em contexto de ensino/aprendizagem, quanto em contexto de avaliação de proficiência em segunda lín-gua (L2, LE, LA). Entendemos ser necessário conhecer como o fenômeno se apresenta durante a produção da fala em L2, para que se possa apontar e justificar ocorrência ou ausência de determinadas características expressas em segundos pelo aprendiz. Assim, descrever, tecnicamente, aspectos envolvidos na composição da categoria prosódica fluência, com maior atenção às pausas, é o objetivo deste artigo. Para tanto, problematizamos o conceito de fluência em descritores de níveis de proficiência do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, a fim de contribuir para julgamento acurado dessa categoria. PALAVRAS-CHAVE: descrição, fluência em L2, pausa.
Neste artigo, a partir de uma investigação centrada no uso, analisa-se a representação cognitiva de construções de predicação nominal do português brasileiro (PB) instanciadas pelo padrão básico [(S) V(funcional) X], em que se inserem os verbos ser, estar e ficar, protagonistas nos esquemas atributivos, equativos e apresentacionais. Para tanto, contemplam-se quantitativa e qualitativamente instâncias desses padrões em 58 produções escritas em PBL2 de 18 estudantes surdos do ensino superior e de 4 estudantes surdos do primeiro segmento do ensino fundamental, coletadas do Corpus do Núcleo de Estudos em Interlíngua e Surdez da UFRJ. Partimos dos pressupostos teóricos da Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 2006; BYBEE, 2016; PEREK, 2015), a fim de sustentar a hipótese de que os esquemas analisados nos textos estão cognitivamente menos salientes para os participantes da pesquisa. Para a discussão, consideramos contextos de ensino pouco centrados na promoção de experiências de uso ricas e significativas capazes de conduzirem o acionamento eficiente de processos cognitivos de domínio geral para a estocagem de construções da L2 na memória do aprendiz. Os resultados demonstram que a instabilidade representacional em ambos os grupos de aprendizes é um indício da premente necessidade de diálogos entre o aporte teórico construcional e metodologias de ensino de L2.
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