O artigo é um ensaio que pretende analisar acontecimentos da sociedade contemporânea a partir de Michel Foucault em conversação com práticas de saber, de poder, de subjetivação. Busca-se problematizar as práticas disciplinares, de soberania, de gestão de risco, biopolíticas e de controle na articulação com os processos de globalização e os efeitos nos corpos em termos de docilização política, normalização social e construção do modo indivíduo como produção da subjetividade contemporânea. Portanto, mobiliza-se um conjunto de conceitos, em uma composição de linhas de forças, tecendo um diagrama formado por multiplicidades e heterogeneidades de um dispositivo genealógico para desnaturalizar as formas-forças experimentadas como ontologia histórica de nós mesmos.
Neste artigo o que se procura problematizar cotidianamente é para quem se faz a medicalização da loucura e do sujeito tido como anormal, colocando em xeque quais agenciamentos se identifica e define essa figura dentro de um cenário contemporâneo. O percurso a ser traçado começa desde o embarque na Nau dos loucos (Renascimento), perpassando pela “terra do internamento” com o Hospital dos Loucos a partir da metade do século XVII, designando-a como seu local natural na estrutura clássica da loucura, se encaminhando até a era moderna (séculos XIX e XX) em que consistirá no advento da instituição asilar conforme o saber que lhe é correspondente: o saber psiquiátrico, cujo internamento torna-se um ato terapêutico e o poder médico será aquele que poderá produzir a doença em sua verdade e a submeter na realidade. A partir desse trajeto, grandes abalos e questionamentos sobre o saber-poder médico foram levantados no final do século XIX, reformas práticas e reflexivas dentro do pensamento psiquiátrico foram situadas em volta dessa relação de poder. Dessa forma, não se trata somente de uma mera medicalização e disciplinarização vinda da medicina, que sustenta de certa forma uma volta para condutas regulares por meio de produções de controle, de enquadramento e projeção de corpos dóceis e produtivos, mas de uma tendência contemporânea de tudo medicalizar. Assim, se abre o que podemos chamar de galeria das patologias, ou melhor, uma caracterização em massa de diversos distúrbios que fogem do imaginário social considerado normal e aceitável encontrados nos rostos e corpos dos sujeitos desviantes - inseridos então, em um catálogo com diversos rótulos psicopatológicos, devendo ser capturado, controlado, conduzido, enclausurado, medicalizado, por não condizerem com a normalidade, por serem e terem placas de censura de não- recomendados a sociedade. Portanto, buscamos possíveis transgressões através da movência dos gritos enquanto performance de resistência às práticas autoritárias, excludentes e silenciadoras da medicalização. Alçamos uma tentativa de metamorfosear, de transcender.
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