RESUMO Este artigo busca refletir sobre um acompanhamento pedagógico intercultural crítico para o acolhimento, a integração e a permanência dos estudantes indígenas e quilombolas no ensino superior brasileiro. Mais especificamente, pretende-se construir o argumento de que as experiências universitárias desses povos tradicionais nos cursos de graduação e pós-graduação só se podem concluir satisfatoriamente se baseadas em políticas institucionais que incluam uma política linguística para falantes de línguas não-hegemônicas, no que se refere ao domínio da textualidade acadêmica em língua portuguesa. Recorre-se aos conceitos de “letramentos de re-existência”, “interculturalidade crítica” e “pedagogia decolonial” em busca de propor uma política linguística que contemple os letramentos decorrentes do contato entre línguas e culturas presentes na comunidade acadêmica - especialmente as indígenas - a partir das demandas e agenciamentos de seus próprios falantes.
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a centralidade da ideia de dominação e de poder nos estudos de contato linguístico acerca do estatuto das línguas. Partindo do exemplo do multilinguismo em dois países africanos na pós-colonialidade, o objetivo é questionar a visão etnocêntrica da supremacia de algumas línguas sobre outras, a qual condiciona certa verticalidade no olhar do linguista ao avaliar a valoração das línguas em contato. --- DOI: http://dx.doi.org/10.22409/gragoata.2017n42a913
Este artigo examina o estatuto das línguas bantu moçambicanas e da língua portuguesa antes, durante e depois da luta pela independência de Moçambique, colônia de Portugal no Índico até 1975. O discurso fundador de Moçambique pós-colonial considera a premência do português como meio de integração dos cidadãos no sistema nacional e como facilitador do desenvolvimento das instituições políticas e sociais. Porém, apenas o português parece não dar conta da complexa realidade sociolinguística moçambicana; por isso, a Frente pela Libertação de Moçambique e o primeiro governo independente admitem a necessidade de se elaborarem programas educativos considerando as línguas africanas como bases.
A sociometria, isto é, os estudos que visam elaborar rankings e hierarquias entre as línguas, é abordada de maneira crítica neste artigo, a partir de dois problemas envolvendo a língua portuguesa. O primeiro refere-se à defesa da lusofonia frente às demais línguas e fonias, numa tentativa de manter uma unidade linguística entre os países de língua oficial portuguesa. O segundo alude-se à assimetria existente, mas por vezes intencionalmente ignorada entre as variedades do português. Como tema polêmico, as pesquisas sociométricas apresentam grande divergência tanto quanto de critérios de medição quanto de intenções dos autores que motivam e direcionam esses estudos. Desse modo, elas alimentam uma competição que não encontra fundamentos linguísticos, mas que atende muito bem aos interesses políticos, sociais, ideológicos e econômicos dos Estados ao mesmo tempo em que apaga a afirmação da diversidade e da heterogeneidade. É neste contexto em que se insere a ainda frágil ideia de lusofonia.
Durante os governos Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2010-2016), no Brasil, a cooperação acadêmica internacional Sul-Sul se fortaleceu, em particular no que alude aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – PALOPs. Houve, por exemplo, o incremento dos Programas Estudantes-Convênio de Graduação e Pós-Graduação (PEC-G e PEC-PG) e a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Dentre os fatores que costumam justificar essa parceria educacional, destacam-se a história de colonização dessas regiões do Atlântico Sul e o compartilhamento da língua portuguesa como língua oficial (embora não majoritária em todos os países). O presente artigo pretende analisar, no âmbito das políticas linguísticas e educacionais de convênio acadêmico, o estatuto da língua portuguesa no processo de integração de estudantes oriundos dos PALOPs no ensino superior brasileiro. Questionando a ideia etnocêntrica e utópica da “lusofonia” (FARACO, 2016), bem como sua “base cultural comum” homogeneizadora de espaços, sujeitos e línguas, problematiza-se o apagamento da violência simbólica da colonização linguística portuguesa nos discursos da CPLP além dos pressupostos neocoloniais e interesses econômicos da cooperação acadêmica brasileira.
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