Nesta tese, procuro compreender a dinâmica e a inserção dos africanos ocidentais, conhecidos como pretos (ou negros) minas, no mercado de trabalho urbano do Rio de Janeiro. Para tal, a Praça do Mercado, também conhecida como Mercado da Candelária, constitui-se em locus privilegiado de análise. Situado à beira da Baía da Guanabara desde a década de 1830 (e ali permanecendo até 1908), esse grande centro de abastecimento de gêneros de primeira necessidade reunia trabalhadores de diversas procedências, incluindo muitos escravos e libertos da Costa da Mina. Fosse nas quitandas a seu redor ou nas bancas de aves, verduras, legumes, cereais ou peixes de seu interior, a pesquisa mostra que, por lá, eles permaneceram longos períodos. Em meio a muitos comerciantes portugueses e "brasileiros", os minas formavam um grupo longevo e coeso. E, ao deixaram seus lugares, por falecimento ou desistência dos negócios, eram logo substituídos por parceiros e cônjuges da mesma procedência. Partindo de um conjunto amplo de fontes (que inclui a documentação municipal sobre o mercado, registros de alforria e casamento, inventários, testamentos e ainda processos de divórcio), mostro como os "laços de nação", pacientemente atados no Rio de Janeiro, foram essenciais para alimentar tal dinâmica. Nesse sentido, examino como o "parentesco étnico", constituído deste lado do Atlântico, foi fundamental para o desenvolvimento das atividades e a organização dos minas, tanto no Mercado da Candelária, quanto em outros mercados (especialmente o da liberdade e o matrimonial), e ainda nos espaços de moradia e devoção ocupados por eles. Palavras-chaves:Rio de Janeiro -Praça do Mercado -africanos minas -identidade -"laços de nação"
ResumoReverenciado como o cronista da belle époque carioca, João do Rio (1881Rio ( -1921 não economizava nos comentários racistas e evolucionistas em seus textos jornalís-ticos e literários. Para compreender essa faceta ainda tão pouco explorada na obra do famoso jornalista, examinarei, neste artigo, um conjunto de reportagens sobre religiosidades, festas e costumes africanos, publicadas na imprensa carioca nos anos de 1904 e 1905. palavras-chaveRio de Janeiro • João do Rio • africanos • raça. abstractAlthough he was revered as the belle époque chronicler of Rio de Janeiro, João do Rio's chronicles and fiction are filled with racist comments. To understand this yet little explored facet in the work of the famous journalist, I will examen a series of reports on African beliefs, celebrations, and customs published in Rio de Janeiro's press during the years 1904 and 1905. KeywordsRio de Janeiro • João do Rio • Africans • race.* Bolsista do CNPq. Agradeço as leituras generosas feitas por Lilian Schwarcz e Maria Cristina Wissenbach a uma primeira versão deste texto.
Cores, ClassifiCações e Categorias soCiais: os africanos nos impérios ibéricos, séculos XVI a XIX http://dx.Resumo: Partindo de um conjunto de processos de divórcio abertos por africanas ocidentais, conhecidas como pretas (ou negras) minas, no Rio de Janeiro do século XIX, pretendo, neste artigo, discutir como as associações entre cor, condição social, identidades étnicas e certos estereótipos e comportamentos, como as noções de honra e honestidade, pareciam fundamentais -às vezes eram mesmo determinantes -para o desenrolar dessas ações. Nesse processo, observaremos como juízes, padres, advogados, procuradores e também cativos e forros percebiam -e compartilhavam -determinados códigos e signos de identificação das populações africanas que viviam na cidade do Rio. Abstract:Starting from a set of divorce proceedings opened by Western African women, known as pretas (or negras) minas, in Rio de Janeiro in the 19th century, I intend, in this article, to discuss how the associations between color, social condition, ethnic identity and certain stereotypes and behaviors, such as notions of honor and honesty, were essential -sometimes even decisive -for the development of such actions. In this process, we will observe as judges, priests, lawyers, prosecutors and also slaves and freedmen observing -and sharing -certain codes and signs of identification of the African populations that lived in the city of Rio.Resumen: A partir de un conjunto de procesos de divorcio abiertos por africanas occidentales, conocidas como pretas (o negras) minas, en Río de Janeiro del siglo XIX, pretendo, en este artículo, discutir cómo las asociaciones entre color, condición social, identidad étnica y ciertos estereotipos y comportamientos, como las nociones de honor y honestidad, parecían fundamentales-a veces eran incluso determinantes -para el desarrollo de esas acciones. En ese proceso, observaremos como jueces, sacerdotes, abogados, fiscales y también esclavos y forros percibían -y compartían -determinados códigos y signos de identificación de las poblaciones africanas que vivían en la ciudad de Río. Palabras clave: divorcio; africanos; minas; pretas; pretos; color; honor. Este artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que a publicação original seja corretamente citada. https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR dados biográficos da autora_biographical data of the author Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 470-483, set.-dez. 2018 J. B. Farias | "Diz a preta mina...": cores e categorias sociais nos processos de divórcio ... Recebido: 28 fev. 2018; aprovado: 01 out. 2018.
O dia 24 de julho de 2021 foi marcado por manifestações contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, pelo auxílio emergencial durante a pandemia e em defesa da vacinação da população brasileira contra a COVID-19. Os protestos, que aconteceram em mais de 120 cidades, chamaram a atenção pelo que ocorreu na cidade de São Paulo: um grupo de manifestantes ateou fogo na estátua de Borba Gato, gerando uma ampla discussão nas redes sociais e atingindo a imprensa e também o mundo acadêmico. O debate girou em torno de reflexões sobre a memória, a História e os símbolos do passado no presente. Ativistas e perfis de movimentos sociais defenderam a ação, alegando que Borba Gato, um bandeirante paulista cuja trajetória está ligada à colonização e, portanto, à violência perpetrada pela empresa colonial contra indígenas e negros, não merece o lugar de herói na história, tampouco que sua memória deve ser perpetuada através de um monumento em sua homenagem. O tom mais legalista de boa parte da grande imprensa questionava o suposto anacronismo da ação e acusava os manifestantes de "negação da história", "ameaças ao patrimônio", "incineração do passado", "revisionismo" e até de "estupidez", uma
Mi objetivo en este artículo es abordar los procesos de divorcio iniciados por africanas de la costa oeste conocidas en Río de Janeiro (Brasil), como “negras minas”, buscando comprender los significados que el matrimonio y el divorcio católicos tenían para estas mujeres, y también para sus cónyuges. De esta manera, también surgen otras preguntas: ¿hasta qué punto las denuncias de las minas se acercaron –o se alejaron– de las realizadas por mujeres de otros “colores”, orígenes y condiciones sociales? ¿Qué revelaron estas disputas sobre las nuevas y viejas formas de identificar a estas africanas? Para tratar de responder a estas preguntas, me voy a basar un conjunto de 19 acciones abiertas entre los años 1830 y 1860, en las que casi todos los involucrados – esposos, esposas y también muchos testigos – eran de la región africana conocida como La Costa de la Mina.
Resumo Partindo de um extenso inquérito sobre a abolição da escravidão no Senegal, realizado pela administração francesa no ano de 1844, este artigo busca compreender os significados que a escravidão e a liberdade tinham para os trabalhadores das frotas fluviais e marítimas da cidade de Saint-Louis, conhecidos como laptots (e justamente os principais escravizados e ex-escravos entrevistados), nas primeiras décadas do século XIX. Nesse percurso, tentarei ouvir suas vozes a partir dos registros feitos em 1844, mas também de outros documentos, de naturezas e períodos diversos, incluindo relatórios, processos cíveis e criminais, censos populacionais e mesmo relatos de viajantes estrangeiros que estiveram em Saint-Louis nas primeiras décadas do século XIX, coligidos em acervos e instituições de pesquisa do Senegal e da França.
Nas primeiras décadas do século XIX, acordos bilaterais propostos pela Grã-Bretanha levaram à proibição do comércio de escravizados em diversos territórios do mundo atlântico. Nesses processos, emergiram novas categorias de trabalhadores que, muitas vezes, tinham em comum experiências de trabalho teoricamente livres, mas que, na prática, representavam novas formas de exploração e controle da “mão de obra africana”. Meu objetivo, neste artigo, é examinar as trajetórias desses trabalhadores no Senegal, então possessão colonial francesa na costa ocidental africana, onde o tráfico foi proibido em 1818. Conhecidos ali como engagés à temps, eles incluíam tanto os escravizados recuperados no comércio negreiro ilegal, como aqueles que fossem “resgatados” ou adquiridos fora do Senegal e alforriados depois de um longo “aprendizado da liberdade”, em que deviam trabalhar por um período determinado. Conectando percursos de contratados e contratadores (os engagistes), busco compreender diferentes significados conferidos à escravidão e à liberdade expressos por homens, mulheres e crianças.
Resumo Entre os anos de 1960 e 2015, Nize Izabel de Moraes, historiadora paulista, viveu em Dacar (Senegal) e trabalhou como pesquisadora do Institut Fondamental d’Afrique Noire (IFAN), na atual Université Cheikh Anta Diop. Explorando seu arquivo privado e outros registros entre Brasil e Senegal, com destaque para seus diários, correspondências e anotações sobre suas pesquisas e viagens entre África e Europa, o objetivo deste artigo é a análise de sua trajetória acadêmica, bem como o impacto de sua produção para a historiografia da Senegâmbia, área em que se destacou como pesquisadora pioneira. Nesse percurso, pontuamos os silêncios em torno de sua vida e obra, bem como questionamos sua experiência como “intelectual negra” em redes nacionais e internacionais de diálogos, marcadas pelas intercessões de gênero, raça e nacionalidade.
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