leitura de livros de crítica e a experiência, às vezes árdua, do ensino de literatura, acrescida naturalmente pela tarefa semanal da anotação crítica, fazem-me pensar constantemente nos limites entre a crítica e a criação literária. Não sou daqueles que pensam ser este um problema bizantino. Pelo contrário, chego a vê-lo como substância essencial para quem pretenda enfrentar conscientemente a responsabilidade de crítico. Já afirmei aqui mesmo, ou se não afirmei, subscrevi o que já se afirmou, que acredito ser a crítica um gênero literário. Por isso, é para mim muito importante entender esta atividade como estreitamente relacionada com a operação transformadora da linguagem. Mas, veja-se bem, quando se diz transformadora nem sempre se está a dizer mistificadora. A transformação aí usada tem uma referência direta com uma possível intensificação da realidade por meio da expressão verbal que é, quando menos, um trabalho de criação. Análise e juízo de valor são termos de uma atividade que se torna legítima na medida em que a sua expressão corresponde a um acréscimo de visão daquilo que se analisa ou se julga. É, então, verdadeiramente importante que o crítico seja um escritor, isto é, alguém cuja personalidade se desdobra através de suas análises e julgamentos em um tempo de procura, de investigação, de identificações, de harmonias e desarmonias que marcam a sua presença. O conteúdo de verdade de um trabalho crítico tem que ser sempre apurado de acordo com uma certa dose de ceticismo, de tal maneira sobre ele trabalha a ação relativa dos esquemas. Desde os teóricos aos históricos. Sobre as palavras pronunciadas como definitivas por um crítico hão de pesar sempre as variações da confirmação histórica. Sem ser um profeta propriamente, a sua atividade possui também o aleatório das profecias, o incerto das decisões históricas. Por mais
Por que relemos certas obras literárias? A perenidade atingida por certas obras é decorrência de uma especificidade de conhecimentos por elas veiculado? Existe uma forma de conhecimento próprio da obra literária, e que não se confunde com o das demais formas de conhecimento? Partindo de indagações como essas, o autor, neste ensaio, examina a questão da perenidade das obras literárias e de sua releitura.
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