A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em 'Língua Portuguesa' está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...]" (BRASIL, 1998a, p. 29) Resumo O objetivo deste texto é fazer algumas reflexões, a partir de pressupostos sociolinguísticos, sobre certas questões que envolvem variação e mudança linguística, com implicações diretas no ensino da língua 2 . Discutimos os seguintes tópicos: a língua como atividade social e as variedades linguísticas; a questão da norma, do valor social das formas variantes e do preconceito linguístico; e esboçamos algumas sugestões metodológicas para o ensino de gramática, considerando a diversidade linguística e o aprimoramento da competência comunicativa dos alunos. Esses tópicos são abordados tomando como pano de fundo um contraponto entre um ensino gramatical 'tradicional' e o papel social da escola, conforme proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Palavras-chave: Ensino de gramática. Variação linguística. Preconceito linguístico. Norma.
Neste artigo, analisamos as ocorrências de objeto direto anafórico de 3ª pessoa, investigando duas estratégias produtivas em português brasileiro: o pronome pleno (ele/ela) e o objeto nulo (ON). Visto que essas duas estratégias não estão em variação livre, nosso objetivo foi verificar qual traço semântico do antecedente estaria condicionando o uso das duas variantes. Baseando-nos em literatura recente (CREUS; MENUZZI, 2004; PIVETTA, 2015; AYRES, 2016; OTHERO et al. 2016, OTHERO; SCHWANKE, 2017), decidimos reanalisar os dados de Vieira-Pinto (2015) e Vieira-Pinto e Coelho (2016), em sua pesquisa com entrevistas sociolinguísticas de Florianópolis, verificando três variáveis semânticas: animacidade, especificidade e gênero semântico do antecedente. Confirmando a hipótese de Creus e Menuzzi (2004), concluímos que o gênero semântico é o traço mais importante da retomada anafórica de objeto, no seguinte sentido: antecedentes com traço [+gênero semântico] favorecem o pronome pleno, enquanto antecedentes com [-gênero semântico] favorecem o objeto nulo.
Este artigo, à luz da Sociolinguística Variacionista, propõe-se a refletir sobre a variação na concordância nominal de número na fala de dez moradores da cidade de Fonte Boa, um dos nove municípios pertencentes à microrregião do Alto Solimões (AM), a partir de resultados de Martins (2013). Para este estudo foram descritos e analisados 1.356 dados, submetidos ao programa estatístico Goldvarb2001. Desses dados, 754 foram da variante “presença de marcas de plural” (55% dos dados) e 602 foram da variante “ausência de marcas de plural” (45% dos dados). Apesar desse baixo índice de concordância nominal, os resultados mostram que a marcação na concordância é favorecida em Fonte Boa pelas mesmas restrições linguísticas de outras regiões brasileiras. Quanto às variáveis sociais, ‘escolaridade’ segue o padrão de comportamento geral, e ‘sexo’ revela o homem como favorecedor de marcação, um comportamento particularizado (semelhante ao de zonas menos urbanas), de uma localidade em que os papeis de mulheres e homens ainda são conservadores, sendo a mulher menos sensível à variável ‘mercado de trabalho’.
The aim of this paper is to examine quantitatively the V NP order inmonoargumental sentences of spoken Portuguese in Florianópolis. The analysisshows that the phenomenon of the NP V and V NP order does not constitute,properly, a case of variation, since types of verb (intransitive and unaccusative)and semantic roles of the NP (actor and theme) are bound to NP V and V NPorder, indicating their complementarity.
Esta pesquisa investiga as formas de particípio regulares e irregulares, em sentenças ativas e passivas, com base em uma análise dos verbos salvar, pegar, abrir e chegar. A amostra utilizada é formada por um corpus, extraído do jornal Diário Catarinense on-line. Os resultados deste trabalho já apontam que os particípios irregulares, além de mais bem avaliados, são as formas mais frequentes na escrita do PB (MIARA, 2013).
Este artigo apresenta resultados de uma análise dos padrões de inversão do sujeito, restrita a orações em que há um constituinte em posição pré-verbal (em contextos XV(S)), em uma amostra extraída de cinco peças de teatro escritas por brasileiros nascidos no curso do século 19, no litoral de Santa Catarina. A perspectiva teórica assumida buscará conciliar a gradação observada entre formas em variação em textos escritos e uma interpretação gramatical (estrutural) da mudança sintática (KROCH, 1989). Os resultados atestam a recorrência de diferentes padrões de inversão: (i) construções com inversão inacusativa, que são encontradas tanto nas gramáticas do Português Antigo (PA), quanto na do Português do Brasil (PB) (ou mesmo do Português Europeu (PE)); (ii) construções XVS, com inversão do sujeito (pronominal) em construções com verbos não inacusativos - inversão germânica - que parecem superficializar estruturas geradas pela gramática do PA; e (iii) construções YXV, em que o sujeito ocupa sempre a posição pré-verbal (XSV ou SXV), associadas a estruturas geradas pela gramática do PB (ou mesmo do PE). Interpretamos esses padrões empíricos como construções geradas por estruturas que refletem nos textos a competição de diferentes gramáticas do português.
No campo disciplinar da sintaxe diacrônica, analisamos, neste artigo, a mudança na ordem do sujeito e na colocação de clíticos em sentenças matrizes em ambientes neutros ([XP])[XP]V em textos de jornais brasileiros de diferentes estados e em cartas pessoais escritas por brasileiros, no curso dos séculos XIX e XX. O objetivo principal é apresentar evidências empíricas que justifiquem uma mesma mudança microparamétrica na gramática do Português Brasileiro (PB) correlacionada à evolução de dois fenômenos sobejamente descritos: (1) o enrijecimento da ordem Sujeito-Verbo em estruturas transitivas e (2) o aumento da próclise em ambientes neutros [(XP)XP-cl-Verbo]. Defendemos a hipótese de que a próclise gerada pela gramática do PB no contexto [XP]V aparece com mais robustez apenas em textos brasileiros oitocentistas da segunda metade do século XIX, momento em que reflexos de uma gramática do tipo-SV também se revela expressivamente nesses mesmos textos. Nessa direção, buscamos evidências de que a escrita da primeira metade do século XIX reflete, ainda, propriedades de uma gramática do tipo-V2, como o Português Clássico (PCl). Os resultados evidenciam diferentes forças linguísticas e diatópicas que mostram a escrita do Rio de Janeiro e da Bahia mais conservadora do que a dos estados do Ceará, de Pernambuco e de Santa Catarina, atuando no condicionamento da próclise em ambiente neutro ([XP])[XP]V. Esses resultados parecem validar a hipótese investigada: em textos da primeira metade do século XIX atuam, ainda, forças de uma gramática conservadora com sujeitos nulos e com propriedades de uma língua do tipo-V2 em que qualquer constituinte, inclusive o sujeito, pode estar numa posição anterior e contígua ao verbo, como o PCl; em textos da segunda metade do século XIX e do século XX atuam forças de uma gramática com sujeitos realizados em SV, como o PB.
Estudos formais sobre a representação do sujeito no português brasileiro (PB) apontam uma mudança no parâmetro do sujeito nulo. O PB estaria passando de uma língua de sujeito nulo [+pro-drop] para uma língua de sujeito expresso [-prodrop]. A literatura gerativista tem associado às línguas positivamente marcadas em relação ao parâmetro do sujeito nulo um conjunto de propriedades que as diferenciam das línguas negativamente marcadas em relação a esse parâmetro, a saber: 1 Este trabalho parte de uma discussão preliminar apresentada na Associação Brasileira de Linguística-ABRALIN/2015 por Coelho, Zibetti e Melo (cf. COELHO et al., 2015). Agradecemos à Letícia Cortellete Melo pela colaboração na coleta das ocorrências de sujeito expresso e na categorização da ordem do sujeito (SV e VS) da amostra do século XX.
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