http://dx.doi.org/10.5007/1984-8420.2016v17n1p64Desde, pelo menos, o século XIX, o uso do clítico acusativo de terceira pessoa (o, a) em português brasileiro cedeu espaço para duas estratégias: (a) o uso do pronome tônico ele, ela ou (b) o uso do chamado objeto direto nulo. Partindo da hipótese básica de Creus & Menuzzi (2004) sobre o traço semântico do referente ter papel central para o condicionamento da retomada anafórica com pronome ou com objeto nulo, defendemos a ideia de que existe uma estratégia não marcada e outra marcada em se tratando da retomada anafórica para objetos diretos em 3ª pessoa. Através de reanálises de testes propostos por Creus & Menuzzi e aplicações de novos testes, procuramos mostrar que a estratégia marcada é a utilização de um pronome e a estratégia não marcada, o uso de categoria vazia na posição de objeto, sendo o traço semântico do referente a ser retomado relevante para cada opção.
Neste artigo, investigamos a ocorrência de sujeitos nulos e pronominais expressos em duas peças teatrais recentes, tendo dois objetivos em mente: (i) dar continuidade, de certa maneira, ao trabalho pioneiro de Duarte (1993, 1995) sobre o preenchimento de sujeitos pronominais em PB; e (ii) aplicar a hipótese do gênero semântico (de Creus & Menuzzi 2004) à análise, justamente, dos sujeitos pronominais nessas peças. Confirmamos a hipótese antecipada em Duarte (1993, 1995) de que o PB estaria favorecendo o preenchimento de sujeitos pronominais (aproximando-se, portanto, de uma língua -pro-drop). E apontamos para uma direção ainda não investigada na literatura sobre o assunto: os sujeitos pronominais preenchidos preferencialmente retomam (ou se referem a) referentes com gênero semântico expresso, o que sugere que o gênero semântico pode ser, de fato, um traço relevante para o favorecimento do pronome em PB, tanto para o objeto direto anafórico (como mostram alguns trabalhos recentes na literatura), como para o sujeito pronominal (como esboçamos aqui).
Neste artigo, analisamos as ocorrências de objeto direto anafórico de 3ª pessoa, investigando duas estratégias produtivas em português brasileiro: o pronome pleno (ele/ela) e o objeto nulo (ON). Visto que essas duas estratégias não estão em variação livre, nosso objetivo foi verificar qual traço semântico do antecedente estaria condicionando o uso das duas variantes. Baseando-nos em literatura recente (CREUS; MENUZZI, 2004; PIVETTA, 2015; AYRES, 2016; OTHERO et al. 2016, OTHERO; SCHWANKE, 2017), decidimos reanalisar os dados de Vieira-Pinto (2015) e Vieira-Pinto e Coelho (2016), em sua pesquisa com entrevistas sociolinguísticas de Florianópolis, verificando três variáveis semânticas: animacidade, especificidade e gênero semântico do antecedente. Confirmando a hipótese de Creus e Menuzzi (2004), concluímos que o gênero semântico é o traço mais importante da retomada anafórica de objeto, no seguinte sentido: antecedentes com traço [+gênero semântico] favorecem o pronome pleno, enquanto antecedentes com [-gênero semântico] favorecem o objeto nulo.
RESUMO: Investigamos as motivações gramaticais (i) para a mudança de ênclise para próclise em português brasileiro (PB), ocorrida em meados do século XIX, e (ii) para o uso do pronome tônico em função de objeto direto, observado atualmente em PB. A hipótese central que perseguiremos aqui é que o uso do pronome tônico e a consequente perda do clítico são uma tentativa de recuperar a ordem SVO, abandonada quando, em meados do século XIX, a próclise se fez categórica. Explicaremos o fenômeno na perspectiva da Teoria da Otimidade (TO), cf. Prince e Smolensky (1993), McCarthy e Prince (1993). A TO nos permitiu investigar as restrições envolvidas no fenômeno e a hierarquia dessas restrições (bem como sua mudança ao longo do tempo), algo essencial na explicação das alterações da colocação pronominal em PB. Concluímos que a implementação do pronome pleno como objeto se consolidou, primeiramente, com os pronomes de terceira pessoa (e com demais pronomes com características nominais, como você e a gente) e que a tendência na língua parece ser a estratégia de uso do tônico em função de objeto se generalize por todo o sistema pronominal. PALAVRAS-CHAVE
Este trabalho apresenta um estudo sobre dois fenômenos envolvendo pronomes que vêm ocorrendo de maneira concomitante na história do português brasileiro (PB): a realização de objeto direto nulo (ON) de 3ª pessoa e o preenchimento pronominal do sujeito. Realizamos uma pesquisa diacrônica que buscou: (i) verificar se houve aumento de sujeitos pronominais expressos no intervalo de 20 anos em Porto Alegre (RS); (ii) verificar se houve aumento de objetos nulos na retomada anafórica nesse mesmo período, nessa mesma cidade; e (iii) verificar quais traços semântico-discursivos do referente (animacidade, especificidade ou gênero semântico) estão atuando como gatilho para a manifestação do pronome nas ocorrências de sujeito e de objeto direto pronominais. Analisamos dois corpora de língua falada espontânea: o corpus do projeto VARSUL, da década de 1990, e o corpus LinguaPOA, produzido e transcrito entre 2015 e 2018. Também usamos dados do NURC, com base no levantamento de Monteiro (1994). Nossos resultados mostram que houve apenas um leve aumento nas ocorrências de sujeito expresso no período de tempo analisado, o que sinaliza que essa mudança está estável em PB. Da mesma forma, também encontramos apenas um leve aumento de ONs no período, o que parece indicar, igualmente, a estabilização de uma mudança. Com relação ao objetivo (iii), mostramos que a distribuição de sujeitos nulos vs expressos e de objetos nulos vs pronomes plenos pôde (até certo ponto) ser explicada com a hipótese do gênero semântico do antecedente. Para os casos destoantes, deixamos sugestões para análises futuras.
RESUMO: Neste trabalho, apresentaremos os resultados de nossa investigação sobre o fenômeno da retomada anafórica de objeto direto em PB analisando dois corpora escritos que apresentam características de oralidade e tentam se aproximar da fala: um corpus constituído de histórias em quadrinhos infantis e outro contendo postagens do Twitter. Investigamos esses corpora com dois objetivos: o primeiro é comparar duas hipóteses sobre a distribuição entre objetos nulos e pronomes (uma que leva em consideração os traços de animacidade e especificidade do antecedente do elemento anafórico e outra que considera o traço de gênero semântico do antecedente). Nosso segundo objetivo é determinar a distribuição entre objetos nulos, clíticos pronominais e pronomes plenos de 3ª pessoa na retomada anafórica de objetos diretos, para verificar se essa distribuição se aproxima mais ao que se reporta, na literatura, a estudos Othero, Cyrino, Schabbach, Madrid, Rosito Objeto nulo e pronome pleno na... Revista da Anpoll v. 1, nº 45, p. 68-89, Florianópolis, Maio/Ago. 2018 69 de língua falada ou escrita. PALAVRAS-CHAVE: Objeto nulo; Retomada anafórica de objeto; Pronome; Gramática do Português Brasileiro.ABSTRACT: In this article, we present the results of our research on the phenomenon of anaphoric direct object in PB by analyzing two corpora that present oral characteristics and try to mimic oral speech: a corpus consisting of children's comics and the other of Twitter posts. We investigate these corpora with two objectives in mind: the first is to compare two hypotheses about the distribution between null objects and pronouns (one that takes into account the features of animation and specificity of the antecedent of the anaphoric element and the other considers the semantic gender of the antecedent). Our second goal is to determine the distribution of null objects, pronominal clitics and 3rd person tonic pronouns in anaphoric direct objects, in order to verify if this distribution is closer to what is reported in literature in studies of spoken or written language.
Em português brasileiro (PB), duas diferentes estratégias para a retomada anafórica de objetos são conhecidas: por um lado, temos a preferência por pronomes clíticos na retomada de 1ª e 2ª pessoas; por outro, na retomada anafórica de 3ª pessoa, a queda dos clíticos – em seu lugar, encontramos pronomes plenos ou uma categoria vazia na posição de objeto. Aqui, buscamos explicar qual motivação gramatical influencia a retomada anafórica que condiciona o uso de pronomes ou categorias vazias na retomada anafórica de objeto. Para isso, comparamos duas hipóteses conhecidas na literatura sobre o assunto. A primeira hipótese, adotada, por exemplo, por Cyrino (1993, 1994/1997), aponta o traço de animacidade e sua combinação com o traço de especificidade como fator condicionador da escolha entre o uso de pronome ou objeto nulo (ON). Por outro lado, há a hipótese do gênero semântico do referente (Creus & Menuzzi 2004): o gênero semântico seria o traço relevante na distribuição entre pronomes e ONs em PB. Avaliamos aqui qual dessas duas hipóteses tem maior poder explicativo no condicionamento dessas duas estratégias de retomada anafórica em PB. Para isso, pesquisamos ocorrências de retomadas anafóricas em função de objeto em um corpus composto por 19 entrevistas do VARSUL. Verificamos a manutenção dos clíticos de primeira e segunda pessoas e a queda do clítico de terceira pessoa, que dá lugar, principalmente, ao ON. A hipótese que explica o condicionamento entre pronome e ON de forma mais acurada parece ser a do gênero semântico, já que, com ela, temos resultados mais polarizados. Além disso, essa hipótese é mais econômica do que a hipótese dos traços de animacidade e especificidade do referente.
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