Apresento seis imagens que, ao serem produzidas, constituíram minha relação em campo com uma criança Karitiana de 10 anos "especial" (osikirip). Assim, chamo a atenção para a importância de o etnógrafo notar as distintas margens, as pessoas e os objetos que nela habitam. Essa tarefa pode revelar questões, como a infância e a deficiência, exploradas em minha pesquisa de doutorado.Palavras-chaves: Karitiana, fotografia, trabalho de campo, osikirip Tive encontros imprevistos logo que cheguei, pela primeira vez, a uma das aldeias Karitiana -população Tupi-Arikém de 346 pessoas (mai. 2014) que vive concentrada principalmente em cinco aldeias localizadas nos municípios de Porto Velho e Candeias do Jamari (RO) -, em finais de julho de 2011, no papel de antropóloga colaboradora do grupo técnico da Fundação Nacional do Índio -FUNAI responsável pelos estudos de identificação e delimitação da Terra Indígena Karitiana. Quando entrei na residência onde os não indígenas ficariam hospedados, uma das esposas do dono da casa passou a me apresentar aos demais membros da família. Cumprimentei com um aceno também as crianças, que brincavam em um canto. A atitude causou risada -e, de minha parte, um constrangimento que não devo ter disfarçado muito bem -quando realizei o gesto para Timóteo (todos os nomes citados neste texto são fictícios), um dos filhos da minha anfitriã. "Ele é mudo!", alertou-me sua mãe. Com efeito, por apresentar problemas nos braços e nas pernas e não conseguir se exprimir por meio da fala -ele compreende tanto sua língua materna como o português, e se comunica com gestos e ruídos -, essa criança é referida pelos Karitiana, quando utilizam o português, como "especial". O menino aceitou a saudação e, acompanhando os outros de sua idade, saiu.Essa menção aos "especiais" não foi um fato isolado. Ainda nas primeiras semanas de trabalho de campo, foram diversas as situações nas quais determinado interlocutor espontaneamente tocou no assunto, afirmando-me que algum parente seu era "especial" -osikirip, em sua 1 Doutora em Antropologia Social. Email: irisaraujo80@yahoo.com.br AVISO: Este ficheiro pdf contém elementos multimédia e deve ser baixado e aberto FORA DO NAVEGADOR, com a versão mais recente do Adobe Reader X