Em uma convergência entre Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias e Antropologia da Saúde, sigo as controvérsias públicas que envolvem os procedimentos científicos e regulatórios com a Cannabis no Brasil, entre os anos de 2014-2019. Os diversos usos da Cannabis e seus derivados estão envoltos em controvérsias alimentadas por pesquisadores, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, associações, pacientes e por ativistas. A análise antropológica apresentada foi construída a partir de um trabalho de campo que privilegiou documentos, artigos científicos e conteúdos disponíveis em mídias digitais, traçando a participação desses atores no desenvolvimento científico e tecnológico no País. A escolha do recorte temporal diz respeito às próprias mudanças regulatórias significativas com substâncias derivadas da Cannabis a partir de 2014, tomando-as diante de seus lugares ambíguos como “drogas” e “medicamentos”. Evidencio a importância de cada ator na manutenção dessas controvérsias que estão em constante movimento, instabilidade e mutação.
Viver diante de uma possível catástrofe. Vivenciar a catástrofe. Foi assim que muitos de nós nos sentimos em meio aos acontecimentos decorrentes da pandemia de covid-19. A falta de responsabilidade com que o Governo Bolsonaro lidou e vem lidando com a pandemia continua sendo um dos principais obstáculos. A população não teve suporte eficaz para viver dignamente os momentos de isolamento, tendo que se arriscar cotidianamente. O aumento abusivo dos preços em itens básicos e comuns aos brasileiros vem se estendendo e se intensificando. A demora na compra das vacinas e do início das vacinações condenou diversas pessoas à morte. A política do Governo na pandemia vem sendo uma política de morte e extermínio. O lema do presidente pode ser resumido basicamente como "salve-se quem puder".Nossas formas de viver e estar no mundo tiveram que ser reestruturadas e reinventadas nesses últimos anos. A Antropologia e o "estar em/no campo" também sofreu os abalos. Além de pesquisar, produzir textos, construir etnografias, tínhamos que fazê-lo à distância, apenas com a ajuda de redes sociais, telefonemas, mensagens. Tivemos que continuar fazendo Antropologia mesmo em meio a notícias e acontecimentos aterrorizantes. Tivemos que viver, sobreviver e continuar existindo em meio a uma catástrofe sem precedentes, experienciando momentos inéditos. Em meio a isso, como cada pesquisador(a) vivenciou seus diferentes campos durante o período de pandemia? Como esses momentos interferiram em nossas vivências e nos processos de imersão que costumeiramente vivenciamos? Essas perguntas nortearam muitos dos textos e debates realizados no novo número da Equatorial -Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRN referente aos meses de janeiro a junho de 2022. Temos o prazer de apresentar esta edição, que é composta pelo dossiê temático "Estratégias de devotos e brincantes para a
Os procedimentos regulatórios no Brasil têm sido acompanhados por instituições regulatórias que desempenham papéis específicos e estabelecem o modo como profissionais e a população devem lidar com substâncias. O objetivo desse artigo é descrever as controvérsias em torno dos procedimentos regulatórios com Cannabis e seus derivados no Brasil entre 2014 e 2019. A discussão em questão é composta por diferentes atores, como substâncias, pacientes, ativistas e instituições. Neste trabalho evidencio o papel de instituições como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) a partir dos documentos produzidos por eles. O material recolhido foi sistematizado e analisado no programa de análise qualitativa Atlas.ti a partir de codagem de dados, o que permitiu traçar aproximações e dissidências entre os documentos, além de permitir a comparação entre os discursos públicos de representantes dos órgãos e as fontes escritas. Os usos e estatutos da Cannabis foram construídos a partir de suas posições ambíguas como uma “droga” e um “medicamento”. A partir de uma etnografia da documentação, constato que a Anvisa e o CFM assumem posicionamentos que vão além de seu caráter estritamente técnico. Suas atuações se constituem a partir de vieses políticos ao imputar mecanismos de controle burocrático que constroem e reafirmam suas posições como autoridades em saúde.
Problematizar e respeitar as diferenças deve ser um ponto crucial para o fazer antropológico. Lila Abu-Lughod (2018) evidencia que um olhar posicionado não anula que nos perguntemos como podemos examinar nossas próprias responsabilidades pelas situações em que nossa população e as de outros países e lugares vivem. Um olhar posicionado deve pensar em um mundo mais justo para os vários "outros" que são submetidos a sofrimentos em meio à globalização. Seguindo os escritos de Donna Haraway (1995), a alternativa possível ao relativismo são saberes situados, localizáveis, críticos, apoiados em redes de conexão e solidariedade política. A conduta do antropólogo, para Alexandra Barbosa da Silva (2015), não deve ser rotulada como "militância", mas deve ser entendida como uma atuação profissional que é desenvolvida com base em uma formação de longo prazo, a partir de teorias verificáveis e que são construídas pela pesquisa empírica. Como nos lembra Claudia Fonseca (2010), a ética em pesquisa na Antropologia deve levar em conta que fazemos ciência de um modo diferente de outras áreas, partindo de uma pesquisa com humanos. Isso muda o caráter de nossa produção. A Antropologia e o fazer antropológico devem ser, antes de tudo, posicionados.Fazer Antropologia requer tempo. Tempo que é permeado por discussões, questionamentos e encontros com trajetórias distintas. É um trabalho feito paulatinamente, quase artesanalmente, no qual geralmente se encontram também diferentes lutas. Em relação as normas de conduta, o código de ética da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) diz que "os direitos dos antropólogos devem estar subordinados aos direitos das populações que são objeto de pesquisa e têm como contrapartida as responsabilidades inerentes ao exercício da atividade científica" (ABA, 2012, p. 1). Tal ponto reforça o trabalho político que deve ser intrínseco ao nosso fazer. Desde 2018 muitos de nós vimos a eleição de Jair Bolsonaro e a ascensão de seu governo com apreensão e medo do que viria. Nossos trabalhos e produções científicas levavam
O livro intitulado Antropologia da Saúde: Ensaios em Políticas da Vida e Cidadania nos brinda com uma coletânea de artigos que perpassam temas diversos dentro da área antropológica voltada para a discussão sobre saúde. Os textos publicados mostram a diversidade do exercício antropológico e das várias formas de construção de entendimentos. Os autores são de diversas áreas do país, vinculados a instituições espalhadas pelo Brasil, o que atesta o caráter múltiplo e dinâmico dessa área de pesquisa e atuação. A coletânea, assinada por Ednalva Neves, Márcia Longhi e Mónica Franch, reuniu alguns dos trabalhos apresentados na 1ª Reunião de Antropologia da Saúde- RAS, nos dias 22 e 23 de outubro de 2015 na Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa. Os capítulos que formam o livro têm temáticas diversas, como HIV/AIDS, doenças raras, discurso médico, medicina molecular, regulamentação, entre outros. O intuito da reunião de trabalhos tão variados neste mesmo volume é o de contribuir para a discussão sobre as práticas de saúde e seus agenciamentos, num diálogo transdisciplinar entre as Ciências Sociais e o campo da Saúde Coletiva.
Este ensaio mostra um pouco do que aconteceu no 11º Abril Pró Hip Hop, evento organizado pela Companhia de Hip Hop de Alagoas no bairro Village Campestre na cidade de Maceió/AL. O objetivo dos membros ao realizarem o evento é de estimular os jovens do bairro e também da cidade a participarem de atividades e se envolverem com os processos de resistência que são produzidos. A principal característica do evento é expor um ponto de vista político e artístico da e sobre a periferia, a partir do deslocamento construído pelos processos de estigmatização do bairro, visto os elementos simbólicos que pautam uma visão negativa sobre esses lugares e seus moradores.
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