As experiências narrativas etnográficas articulando imagens e textos podem acionar as sensibilidades, os saberes e os sentidos estéticos e culturais presentes na relação ver-o-que-se-diz/dizer-o-que-se-vê. Entre as possibilidades de exploração do universo de imagens estão as fotográficas. A partir das imagens capturadas no cotidiano das travestis, argumento que a pose é um componente sígnico capaz de oferecer vestígios para a compreensão/interpretação de aspectos singulares desse universo que não se esgotam na interpretação usual dos signos letrados. Para o artigo em questão, recorto fragmentos da migração das travestis para a Itália. Um projeto significativamente marcado pela expectativa de trabalho e sobrevivência, mas também que se reveste de glamour num cenário em que as imagens - fotografias enviadas à família e também disponibilizadas na plataforma virtual - compõem narrativas de um sucesso inscrito no corpo, nas joias, nos carros, mas também ancoradas em espaços geográficos diferenciados, capazes de informar sobre "a conquista da Europa".
Resumo: As narrativas sobre as travestis e transexuais integram um conjunto significativo de trabalhos acadêmicos no Brasil, revelando diferentes formas de (re)contar a sociabilidade delas. Esse artigo é uma proposta coletiva de (re)pensar o lugar da academia na (re)produção das vidas travestis, a partir da construção de uma estratégia narrativa que inclua a perspectiva de uma epistemologia situada na experiência. Nosso argumento é que diferentes estratégias de pesquisas podem reconstruir e ressignificar a discussão sobre o “lugar de fala” que tem marcado uma tensa relação entre academia e movimento social.
A produção de um documentário como estratégia de pesquisa no campo das ciências humanas ainda gera debate significativo. Buscando contribuir para esse debate, o objetivo deste artigo é apontar alguns desafios metodológicos que marcaram o processo de pesquisar/registrar/narrar um filme documentário sobre a trajetória de vida de Keila Simpson e seus entrelaçamentos com(na) história do movimento de travestis no Brasil. Assim, por meio de uma análise teórica, inicialmente, discutimos as disputas sobre o real e o verdadeiro que se (re)produzem na interação com as imagens. A partir de uma perspectiva etnográfica, então, refletimos sobre nosso percurso de realização do documentário, nas etapas de exploração e produção de esboços, apresentando possibilidades e limites de fazer/pensar/negociar um filme etnográfico sendo pesquisador/cineasta em interação com a interlocutora/narradora. Entendemos que o filme permitirá entender aspectos sensíveis da protagonista e suas relações de sociabilidade e, de forma indireta, compreender o sensível não diretamente abordado pelas imagens.
Resumo Entendemos a ética em pesquisa como uma ação cotidiana de construção de confiança, afetada pelo compromisso de transformação de nossas práticas sociais. Este artigo tem por objetivo analisar as relações entre pesquisador-diretor e protagonista no processo de decisão sobre as imagens produzidas e incluídas no filme que narra a história de vida de Keila Simpson entrecruzada ao movimento social de travestis. Para além de uma dimensão estritamente estética, tal processo de decisão implicou negociação permanente entre ambos em um trabalho ético que ultrapassou a busca de sigilo, anonimato ou autorização formal. Os diálogos sobre a publicização de cenas relativas à intimidade da protagonista e suas relações com a família e a prostituição redimensionaram seu caráter privado e explicitaram as implicações políticas das formas de mostrar/ver as vidas travestis. É nesse esforço de incorporar os desafios éticos, como elementos estruturais da pesquisa, que se aponta para uma possibilidade de produção acadêmica comprometida em compartilhar lugares de pensar/fazer com os sujeitos pesquisados.
Ao longo desta tese, muitos (re), (des) e (in) foram se somando às palavras... Não se tratava apenas de um recurso semântico, mas a expressão de um deslocamento da minha posição; um (re)arranjo constante entre a teoria e o sujeito que tentava manejar a máquina fotográfica e os conceitos, tendo como referente sujeitos que não se deixam prender pelas normas.Estar posicionado a partir de um campo disciplinar como o Multimeios exigiu (re)flexões que o professor Ronaldo Entler demarcou com segurança e serenidade -a ele agradeço a orientação respeitosa e a disponibilidade em percorrer uma temática tão sensível.A professora Adriana Piscitelli esteve presente na construção da tese através do diálogo teórico com o campo dos estudos de gênero, migração e antropologia e na banca de qualificação. Agradeço cada pergunta que (des)focou a foto e o fotógrafo.A professora Luisa Leonini compartilhou as (in)certezas sobre as travestis na Itália. Seu compromisso com a construção do conhecimento abriu lacunas para que a prostituição das travestis pudesse ser traduzida para além da lógica do mercado, incorporando outros marcadores sociais, e promovesse um encontro entre nacionalidades e sensibilidades.Ao professor Carlos Rodrigues Brandão, agradeço não somente pelo esforço final de leitura para compor a banca de defesa, mas sobretudo pela potência de sua obra, a sensibilidade de seus escritos que inspiram, desafiam e (des)alinham palavras e imagens.A professora Claudia França esteve presente nos momentos em que a insegurança sobre caminhar no território da arte parecia assustador -ela emprestou ancora tornando a travessia possível.Ao professor João Marcos Alem, agradeço a generosa partilha da vida, desde a primeira leitura de Levi Strauss, ainda na graduação do curso de História, até as investidas da (pós)modernidade.Entre parênteses estiveram também inúmeras pessoas que são (co)autoras deste texto, porque impregnaram de amizade, rigor intelectual, generosidade e alegria. Estiveram comigo neste processo de construção: Jacy Seixas,
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