Sociologias, Porto Alegre, ano 2, nº 4, jul/dez 2000, p.274-305 ste texto é uma tentativa de reflexão sobre a relação entre gênero, sexualidade e "cidadania", a partir dos conflitos e das diferenciações que se estabelecem entre integrantes de um grupo organizado de homossexuais 1 , constituído por homens e mulheres, os quais acarretaram a dissidência de integrantes e formação de outro grupo. Tais diferenciações e conflitos foram percebidos por aqueles como um problema entre homens e mulheres. Mais do que um suposto machismo, trata-se das dificuldades de pessoas que, ao reivindicarem a igualdade de direitos de uma população constituída como diferente, não conseguem romper totalmente com os esquemas de percepção fundantes das relações de gênero, havendo uma re-posição das hierarquias naturalizadas entre os gêne-ros (Bourdieu, 1999 Introdução1 O texto foi construído com base em dados obtidos em pesquisa de campo, junto a dois grupos organizados de homossexuais, um deles misto e outro constituído exclusivamente por mulheres, para minha dissertação de mestrado, os quais receberam outro enfoque, a partir de teorias de movimentos sociais. Agradeço à Professora Céli Pinto pela sugestão de trabalhar os dados a partir de uma problematização das relações de gênero. Gênero, homossexualidade, cidadaniaA noção de gênero é entendida aqui como relações estabelecidas a partir da percepção social das diferenças biológicas entre os sexos (Scott, 1995). Essa percepção, por sua vez, está fundada em esquemas classificatórios que opõem masculino/feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a outras: forte/fraco; grande/pequeno; acima/abaixo; dominante/dominado (Bourdieu, 1999). Essas oposições são hierarquizadas, cabendo ao pólo masculino e seus homólogos a primazia do que é valorizado como positivo, superior. Essas oposições/hierarquizações são arbitrárias e historicamente construídas.A divisão entre os sexos parece estar na ordem das coisas(...) ela está presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado (...) em todo o mundo social, e em estado incorporado, nos corpos e nos habitus dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de ação (Bourdieu, 1999, p. 17).Entender as relações de gênero como fundadas em categorizações presentes em toda a ordem social, permite compreender não somente a posição das mulheres, em particular, como subordinada, mas também a relação entre sexualidade e poder. A sexualidade, longe de ser um "domí-nio da natureza" é considerada aqui como um "fato social" enquanto condutas, como fundadora da identidade e como domínio a ser explorado cientificamente (Bozon e Giami, 1999).A sexualidade é perpassada por aqueles esquemas de classificação, fundados na oposição e hierarquização entre masculino/feminino, a partir da oposição entre ativo/passivo, o que estabelece uma ligação entre sexualidade e dominação: as imagens, o vocabulário e as significações mobilizadas em cada sociedade para evocar as relações sexuais são, em todos os lugares, utilizados para dizer igualmente a ...
O texto apresenta questões analíticas sobre reprodução social na agricultura familiar, com base na bibliografia existente sobre o assunto. Examinando diferentes perspectivas relativas à reprodução social e na agricultura familiar, o texto dá ênfase a abordagens que consideram a sucessão geracional nesta atividade. Trata dos problemas relativos às articulações entre a sucessão na propriedade familiar e outras estratégias de reprodução social, como o êxodo rural, as migrações, o celibato e o estabelecimento de alianças matrimoniais. Por fim, aborda como a reprodução social na agricultura familiar pressupõe diferenças entre os sexos, em particular a exclusão das mulheres da sucessão na propriedade familiar. O estabelecimento destes problemas de análise permite propor uma agenda de pesquisa sobre a permanência de jovens e sobre a condição feminina na agricultura familiar.
Maternidade, cuidados do corpo Maternidade, cuidados do corpo Maternidade, cuidados do corpo Maternidade, cuidados do corpo Maternidade, cuidados do corpo e "civilização" na P e "civilização" na P e "civilização" na P e "civilização" na P e "civilização" na Pastoral da astoral da astoral da astoral da astoral da Criança Criança Criança Criança Criança Copyright 2007 by Revista Estudos Feministas. Gabriele dos Anjos Fundação de Economia e Estatística R R R R Resumo esumo esumo esumo esumo: Este texto é uma análise de como a Pastoral da Criança, organismo da Igreja Católica, procura definir identidades femininas pela difusão de práticas relativas ao uso e cuidado do corpo. As técnicas de exame e cuidado do corpo presentes nos manuais da Pastoral da Criança são usadas para desenvolver uma auto-identificação como mãe entre as atendidas e uma identificação das 'líderes' com o papel de educadoras. Este trabalho possibilita à Pastoral da Criança apresentar uma ideologia contraposta aos feminismos e concorrer com estes em fóruns governamentais em que são definidas políticas relativas ao uso do corpo. P P P P Palavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave: identidade feminina; Igreja Católica; maternidade; Pastoral da Criança. Introdução Introdução Introdução Introdução IntroduçãoEste artigo apresenta a análise de como a Igreja Católica investe na definição de identidades femininas pela difusão de práticas relativas ao uso e cuidado do corpo feminino a mulheres de classes sociais baixas no Brasil através do trabalho da Pastoral da Criança. Esta análise tem como objetivo explicitar as formas pelas quais a Igreja Católica renova sua oferta de ideologias nas quais a maternidade é a condição feminina por excelência. 1 Essa oferta não se dá através de proposições teológicas abstratas, mas de técnicas de cuidado oriundas da medicina que têm o corpo feminino como alvo. Assim, é possível conhecer uma das tantas formas pelas quais determinadas instituições impõem ou constituem identidades recorrendo a mecanismos de educação dos corpos e de "somatização do arbitrário cultural". 2 Conforme Francine MUEL-DREYFUS, 1996, p. 336. Agradeço a Claudia Fonseca a sugestão de problema de análise do material no qual se baseia este texto, que permite aprofundar uma temática esboçada em meu trabalho de tese, bem como suas críticas e sugestões ao mesmo. GABRIELE DOS ANJOS28 Estudos Feministas, Florianópolis, 15(1): 27-44, janeiro-abril/2007 leigos e profissionais da Igreja: bispos, sacerdotes, mulheres e homens de diferentes congregações religiosas. O trabalho desses agentes é feito junto a populações empobrecidas do país, e visa, basicamente, à difusão de saberes e técnicas de cuidado da saúde de mulheres grávidas e crianças e ao acompanhamento das condições de saúde de crianças de zero a seis anos. 3 Embora a Pastoral não se destine somente ao trabalho feminino, mais de 90% dos engajados são mulheres, 4 o que permite considerar que a Pastoral mobiliza mulheres a partir de uma oferta de identidades e papéis femin...
O texto trata da militância de mulheres de classes populares em clubes de mães, Comunidades Eclesiais de Base e Pastorais da Igreja Católica. A diferenciação entre "líderes" e demais participantes, e as motivações e os interesses específicos ao engajamento e à militância como "líder" são compreendidos a partir da análise das retribuições à atividade militante e suas relações com o exercício da liderança e com o conjunto de significados ligados à ação militante.
O texto apresenta os resultados de uma investigação sobre como uma organização procura redefinir os critérios de percepção da homossexualidade, de forma a torná-la socialmente legítima. Esta redefinição é feita a partir da generalização da noção de homossexualidade como "direito humano" e da equiparação do homossexual ao "cidadão", o que envolve o distanciamento frente às concepções usuais de homossexualidade. Com esta mudança nos critérios de percepção, a organização busca participar no espaço político. Argumenta-se que a compreensão da atuação e da definição de homossexualidade que a organização tenta impor requer que se incluam na investigação as características e recursos sociais de seus integrantes. Considera-se que o nexo entre homossexualidade e "direitos humanos/cidadania" está relacionado com a alta escolarização dos seus integrantes, que possibilita o rompimento com os critérios dominantes de definição da homossexualidade, e a participação em discussões nas quais estão em pauta a defesa dos "direitos humanos" e da "cidadania". Também está relacionado a engajamentos de seus integrantes em outros espaços de participação, que forneceram tanto esquemas de percepção da "questão homossexual" como os canais e recursos para a exposição daqueles esquemas.
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