Introdução: A neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é um tumor singular, pois surge do tecido gestacional, e é altamente curável na maioria das pacientes utilizando-se apenas quimioterapia (QT). A QT por agente único, capaz de curar 80% das pacientes com NTG e a mais utilizada no Brasil, é o esquema de oito8 dias, sendo o metotrexato (MTX) administrado nos dias 1, 3, 5 e 7 e o ácido folínico (AF) nos dias 2, 4, 6 e 8. O uso do AF visa diminuir os efeitos colaterais do MTX. Entre os protocolos que utilizam oito dias de MTX para o tratamento de NTG, temos dois esquemas de AF mais utilizados no Brasil: a dose de 0,1 mg/kg (habitualmente feita via intramuscular ou fracionando-se os comprimidos) e a dose fixa de 15 mg (utilizando-se a apresentação comercial brasileira nessa posologia, sem necessidade de ajuste). Contudo, há preocupação sobre se maiores doses de AF diminuem o efeito do tratamento com MTX, podendo diminuir a taxa de remissão ou aumentar a ocorrência de recidiva. O presente estudo descreve os resultados de paciente brasileiras com NTG de baixo risco tratadas com esquema de MTX em oito dias e os dois esquemas de AF. Objetivo: Comparar os desfechos das pacientes com NTG de baixo risco tratadas com esquema de MTX em oito dias, com dois regimes de resgate com AF. Pacientes e métodos: Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva de pacientes atendidas no Centro de Referência em NTG da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2019, com diagnóstico de NTG de baixo risco e tratadas com MTX no esquema de oito dias e AF nas duas doses: 0,1 mg/kg e dose fixa de 15 mg. Resultados: Das 667 pacientes com NTG de baixo risco incluídas no estudo, 323 foram tratadas com AF na dose de 0,1 mg/kg e 142 com AF na dose fixa de 15 mg. Ambos os grupos foram comparáveis no perfil clínico, porém diferiram nos níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG) pré-tratamento e no escore de risco da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Apesar disso, não houve diferença na taxa de remissão, embora a dose de AF de 0,1 mg/kg tenha apresentado maior número de ciclos de QT para remissão, maior necessidade de atrasar a QT em razão da toxicidade e maior tempo para remissão. Apesar de a regressão logística ter mostrado que as duas doses de AF não foram fatores preditivos para a remissão, a regressão multivariada de Cox mostrou que o AF na dose de 0,1 mg/kg esteve significativamente associado com maior tempo para a remissão. Conclusão: O uso da dose fixa de AF não modificou a taxa de remissão primária, recidiva ou morte das pacientes com NTG de baixo risco. O uso da dose fixa é prático (não sendo necessário fracionar o comprimido), reduz as idas à unidade de saúde (pois dispensa a aplicação intramuscular), pode ser feito em casa, é igualmente seguro e pode ser o regime de escolha no esquema de tratamento da NTG de baixo risco com MTX.