Os regimes agrários peculiares e os baixos níveis relativos dos indicadores sócio-econômicos fizeram com que a região do alto Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, fosse considerada uma das mais complexas do Brasil. Por isso, vários governos orientaram para lá programas de desenvolvimento rural. Mas esses esforços não produziram bons resultados. Este artigo analisa as relações entre programas públicos e agricultura familiar, fazendo um balanço dos métodos e resultados das últimas três décadas. Conclui pela necessidade de incorporar as especificidades de história, ambientes e sociedade aos programas, que deveriam partir das experiências das organizações da região e se ajustar às ações e à cultura desses agricultores.
The agrarian conditions and the low relative levels of the socioeconomic indicators cause the area of the "High Jequitinhonha Valley", in the northeast of the State of Minas Gerais, to be considered one of the most complex areas of Brazil. For this reason several governanmental administrations have recommended rural development programs. Most of these efforts, however, have not produced adequate results. This article analyzes the relationships between public programs and family farming, making a survey of the methods and results of the last three decades. It concludes that there is a need to incorporate the specificities of history, environment and culture into the rural programs. It is suggested that the programs take into consideration the experience accumulated by the regional organizations and be adjusted to the interest and culture of the local family producers
No espaço rural brasileiro coexistem a pequena gestão comunitária e grandes consumidores de água. Nos últimos anos a regulação comunitária do recursos e o grande empreendimento consumidor começaram a se confrontar pela água, forçando uma reflexão sobre a lógica dos usos e dos diálogos entre a aparente irracionalidade das populações rurais e as propostas de desenvolvimento. Este artigo analisa o descompasso entre essas lógicas e perspectivas analisando o caso do alto Jequitinhonha, no Nordeste de Minas Gerais. O artigo inicialmente comenta a recente e crescente emergência da escassez de água; como a escassez tende a resultar em conflito e este em norma, comenta-se a seguir a normatização da escassez - consolidada na legislação brasileira de águas. Em seguida analisa a percepção costumeira de água que vigora nas comunidades rurais do vale do Jequitinhonha mineiro, e, por fim, coloca a norma costumeira face à lei das águas, analisando a ausência dos pequenos consumidores na construção das agências e no exercício da legislação.
Os consumidores cada vez mais estão buscando uma alimentação saudável e diversificada, elevando a procura por hortaliças. As hortaliças são encontradas em vários segmentos de mercado, como sacolões, supermercados e também nas feiras livres. Poucas informações existem a respeito da importância das feiras no cotidiano do consumidor que compra hortaliças na região do norte de Minas Gerais. Diante disso o objetivo deste trabalho foi analisar características socioeconômicas de consumidores de hortaliças em feiras livres, nas cidades de Chapada Gaúcha, Itacarambi, Januária e Manga na microrregião de Januária, norte de Minas Gerais. Foram aplicados ao todo 107 questionários nos municípios, de acordo com o volume de pessoas que frequentaram cada feira na respectiva ocasião. Observa-se que a maior parte dos consumidores são mulheres, não aposentados e com idade inferior a 54 anos sendo que em Chapada Gaúcha essa frequência chega a 100%. As pessoas vão à feira semanalmente e a maioria relatou comprar hortaliças somente nas feiras por valorizarem qualidade e tradição; o preço como critério de escolha apresentou pouca influência. A maioria dos consumidores em Itacarambi e Januária, afirmaram gastar mais de R$ 30,00 por ida à feira e em Manga e Chapada Gaúcha gastam entre R$ 10,00 e R$ 20,00. As mulheres foram responsáveis pela compra de hortaliças nas feiras estudadas. A oferta de produtos sem uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos gera confiança e fidelização dos consumidores. Há direcionamento na preferência pela compra de algumas espécies na feira livre. Espécies como brócolis e couve-flor foram lembradas por parte dos entrevistados e não são encontradas nas feiras da região com freqüência, indicando oportunidades de diversificação da produção.
O objetivo deste artigo é analisar a relação entre famílias de lavradores e água em parte da Serra da Mantiqueira,na porção sul do estado de Minas Gerais. Em especial, verifi car a partir de quais pressupostos as águas são reguladas,geridas e partilhadas pelas famílias. É resultado de etnografi a realizada em dois bairros rurais do município de BomRepouso. Conclui que, apesar de os agricultores familiares dessa região serem integrados ao plantio comercial de morangose batatas, as normas que regem o uso e a partilha dos recursos da natureza seguem uma ética culturalmente construída eambientalizada.
A agricultura familiar é um segmento fundamental para o abastecimento alimentar, a geração de ocupações e a conservação das culturas próprias do rural brasileiro. De acordo com vários autores, a continuidade desse segmento de agricultores tem sido ameaçada pela grande emigração de jovens em decorrência de transformações ocorridas no urbano e no rural. Este artigo analisa tal situação em dois municípios do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais -região fortemente marcada pela presença da agricultura familiar -, investigando as trajetórias emigratórias de duas gerações de agricultores. Os resultados indicam mudanças no padrão sucessório, nos níveis de escolaridade e na dinâmica tradicional de capacitação de jovens, o que influi nos percursos e na inserção dos migrantes no mercado de trabalho. O artigo conclui que, comparativamente à geração anterior, um menor número de jovens permanece no rural. Mas isto não coloca em risco a reprodução da unidade familiar, pois continuam a existir sucessores, embora estes tendam a assumir a unidade produtiva com mais idade e escolaridade do que a geração anterior.Palavras-chave: Agricultura familiar. Sucessão. Juventude rural. Vale do Jequitinhonha.
CatirasAo final do século XIX, Karl Kautsky escrevia que raros profissionais conheciam o comércio tão bem quanto os camponeses. Eles acompanhavam as flutuações dos muitos mercados em que entravam com sua produção diversificada, e a negociação com tantos vendedores e compradores gerava um conhecimento preciso, que dificilmente seria igualado por grandes produtores ou especialistas em comércio. Na literatura, João Guimarães Rosa escreveu quase o mesmo no conto Corpo fechado, em que narrava as aventuras de Manuel Fulô que, por vingança, negociara com uns ciganos dois cavalos imprestáveis como se fossem animais da melhor qualidade. Ele engordou, ensaiou e enfeitou os cavalos para fazer a barganha diante dos olhos dos moradores do arraial e mostrar que era, realmente, especial na arte da catira. 1Como esses, existem centenas de exemplos do conhecimento que sitiantes têm dos mercados e de como sabem fazer valer seus trunfos quando podem ganhar num negócio. Esse pequeno movimento de trocas, regido por normas próprias e pouco articulado aos mercados nacionais, é vital para gerar, conservar e ampliar sua renda. A lógi-ca peculiar desses negócios explica atitudes que desconcertam técnicos e pesquisadores: para que recriar bezerros se a Cooperativa compra somente o leite? Para que criar porcos se não há produção de milho? Por que gastar em bens duráveis de consumo o apurado na migração? Essas atitudes fazem parte de estratégias bem concertadas, levadas a cabo no correr de anos, às vezes para apoiar a colocação profissional do filho, para ampliar o terreno familiar, para liberar a esposa
O vale do rio Jequitinhonha, situado a nordeste do estado de Minas Gerais, desde os anos 1960 recebe um conjunto de programas públicos, compensatórios e de desenvolvimento rural, que aportam recursos significativos no combate à pobreza e no incremento da agricultura familiar. Usando dados censitários, de diagnósticos e pesquisas de campo sobre a região, este artigo analisa alguns dos resultados desses programas. Revela que ocorreu uma combinação entre fluxos de renda originários do setor público e produção de autoconsumo que explica mudanças substantivas na segurança alimentar, no bem-estar e no padrão de consumo das populações rurais.
No alto Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, a principal forma de os lavradores adquirirem terra é através da herança, sua própria ou do cônjuge ou, ainda, através da junção das duas. É muito difícil que se adquiram terra por outras vias. Assim, o dono da terra é antes de tudo um herdeiro, e a terra é, principalmente, um patrimônio formado pela família. O objetivo deste artigo foi analisar como posse e uso da terra se compõem com o ambiente e com a família, formando com ambos uma urdidura que passa pelo trabalho, pela herança, pela migração e pelo casamento, fornecendo elementos importantes para compreensão da sociedade rural e das formas de domínio da terra que se estabeleceram naquela região.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.