O Conselho Federal de Psicologia (CFP) é uma autarquia de Estado que orienta e fiscaliza a profissão do(a) psicólogo(a). Mas não atua apenas pela melhoria do exercício profissional. Desde o início da década de 1980, o CFP e o Sistema-Conselhos de Psicologia perceberam que suas práticas não devem ficar restritas à normatização do exercício profissional e das técnicas psicológicas. Também devem atingir as questões sociais e políticas do país, tendo em vista a luta pela democratização dos processos sociais e políticos. Nos anos 1980, o CFP lutou pelos direitos humanos e pela democracia, equidade e igualdade, participando das mobilizações das "Diretas Já" e da "Constituição cidadã" (Hur, 2012). Na década de 1990, fomentou o lema da "Psicologia e o compromisso social". Desde os anos 2000, adotou como bandeira a atuação da Psicologia nas políticas públicas. Esses posicionamentos e práticas resultaram na constituição de uma Psicologia plural e múltipla, que se exerce em inúmeros campos de trabalho, que tem um lugar de destaque nas políticas sociais e que assume um compromisso pela mudança e transformação psicossocial. Por exemplo, se compararmos o Brasil com outros países da América Latina, teremos uma porcentagem muito maior de psicólogas(os) contratadas(os) pelas diversas políticas públicas e que exercem atividades que vão além da clínica tradicional.Deste modo, constata-se que o CFP assume posicionamento e práticas que visam a produção de uma sociedade mais igualitária, justa e democrática e, por conseguinte, com menor sofrimento psicossocial. Portanto, pode-se afirmar que suas ações são eminentemente políticas.Por política não aludimos apenas ao que aparece no Poder Executivo, no Congresso Nacional, às práticas de corrupção ou outros dissabores que são transmitidos pelos meios de comunicação. Política refere-se às práticas de gestão da vida no espaço da polis, da cidade. Refere-se às relações incessantes de poder e de forças que são exercidas a todo momento nos espaços sociais e que têm como finalidade a gestão da vida (Hur, 2013). Compreende-se que o CFP, em suas prá-ticas, sempre está exercendo relações de forças para a gestão da vida, isto é sempre está atuando politicamente, seja no âmbito da normatização da profissão, ou das lutas sociais.No que tange à relação entre Psicologia e política, não só o CFP assume posicionamentos políticos, como também a própria Instituição Psicologia, seus saberes, dispositivos técnicos de intervenção e seus atores sociais (psicólogas[os]). Pois suas práticas sempre estão posicionadas social-historicamente e exercem relações de forças que culminam na gestão da vida, tanto individual, como social. É inegável que a atuação do psicólogo no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) exerce relações de forças que podem transformar a vida da comunidade. É inegá-vel que a atividade do psicólogo no seu consultório privado, ou mesmo um psicodiagnóstico, altera as relações de forças de um indivíduo consigo próprio e com seu entorno, no qual ele
RESUMO O presente trabalho analisa diferentes relações entre intervenção comunitária e Behaviorismo, problematizando a tese de que há um antagonismo entre ambos, e discute as possibilidades de um diálogo crítico entre Behaviorismo e Psicologia Comunitária. Para tanto, foi realizada uma análise bibliográfica, em que foram considerados três tipos de estudos: críticas dirigidas ao conservadorismo de teses behavioristas; reflexões behavioristas sobre intervenções comunitárias; relatos de trabalhos comunitários guiados por um referencial behaviorista. Na análise problematiza-se a relação Psicologia Comunitária e Behaviorismo destacando diferenças e aproximações entre os dois campos por meio de uma comparação entre as ideias de autores behavioristas e os pressupostos defendidos na Psicologia Comunitária. As principais divergências relacionamse com os temas sobre a participação comunitária e a relação colaborativa nas experiências comunitárias. Os pontos de convergência são identificados nos textos centrados em reflexões teóricas sobre colaboração, participação e o contexto da intervenção. Palavras-chave: psicologia comunitária, behaviorismo, análise do comportamento.
Resumo: Este artigo discute como a luta insurgente contra o terrorismo de Estado no Brasil e na América Latina resultou na produção de novas ideias na Psicologia e como transformou as formas de participação política dos sujeitos que aderiram a práticas radicais de luta política. Os procedimentos de investigação foram revisão bibliográfica e entrevistas semidiretivas com quatro ex-guerrilheiros brasileiros e um colombiano. Na revisão, foram consultadas obras sobre Psicologia da Libertação, ditadura militar e guerrilha armada. Na análise das entrevistas, foram selecionados conteúdos que se referem ao processo de conscientização dos entrevistados. Constata-se que a atividade insurgente possibilitou a emergência de ideias e práticas na Psicologia que buscam a construção de relações sociais justas. A insurgência também foi a condição de possibilidade para a criação de novas experiências e reflexões sobre a atividade política dos participantes da luta armada contra a ditadura. Tomar a perspectiva da insurgência nos faz compreender os momentos de crise pelo seu potencial de transformação e emancipação. Seja no âmbito da Psicologia como ciência e profissão, que se desloca de uma posição adaptativa e normalizadora, para uma crítica e transformadora, ou nas experiências de militantes expressas como "subjetividades insurgentes" que buscam transformação e revolução.Palavras-chave: Ditadura, Psicologia Social, Política, Psicologia Política, América Latina. Dictatorship and Insurgence in Latin America: Liberation Psychology and Armed ResistanceAbstract: This paper discusses how insurgent struggles against Brazilian and Latin American State terrorism produced new ideas in Psychology and changed the means of political participation of subjects who upheld radical practices of political conflicts. The method was developed through bibliographical review and semi-structured interviews with four ex-guerilla members from Brazil and one from Colombia. Books and articles about: Liberation Psychology, Military Dictatorship and Armed Guerilla were selected for the bibliographical review . Content analysis aimed to identify narratives related to the process of conscientization. It was perceived that insurgent activity turned possible the emergence of psychological ideas and practices aimed at the creation of just social relations. Insurgency was also the condition of possibility to the creation of new experiences and discussions about political activity in the experiences of those who participated in the armed struggle against military dictatorship. Insurgency can turn periods of social crisis into something that drives change and emancipation. This is possible in Psychology, which can move from a normative position to a critical one and also in the experiences of political militants that constituted themselves as insurgent subjectivities striving for social change and revolution. Financial support: CNPq and CAPES.
Este trabalho tem como objetivos refletir sobre a temática da prevenção primária e discutir criticamente sobre algumas das idéias que permeiam este campo. A primeira parte apresenta o surgimento da temática da prevenção em um movimento específico na psicologia dos EUA que critica modelos individualistas e remediativos de atuação. São apresentados aspectos históricos e constitutivos da prevenção primária, a diferenciação entre níveis, tipos e abordagens de prevenção e reflete-se sobre a relação entre prevenção primária e promoção de saúde. Define-se o que são fatores de risco e fatores de proteção e os indicadores e as dimensões do bem-estar. A segunda parte discute problemas e questões controversas no debate sobre a prevenção primária, a partir de noções presentes nos trabalhos de George W. Albee e Emory L. Cowen. Na terceira parte são apresentadas as possibilidades oferecidas por este modelo para a realidade brasileira a partir da crítica a algumas das idéias destacadas. A noção de educação emancipadora e a tomada de uma perspectiva histórica na compreensão da constituição do homem são consideradas como necessárias para a superação do positivismo que permeia noções e práticas preventivas. Enfatiza-se a inseparabilidade entre prevenção e mudança social.Palavras-chave: prevenção primária; história da prevenção; mudança social.
pela colaboração voluntária com parte da transcrição e da tradução da entrevista.
Psicologia cultural e mudança social o livro Cultural psychology: A perspective on psychological functioning and social reform, de Carl ratner -diretor do Institute for Cultural Research and Education na Califórnia nos EUa -, marca um giro na obra do autor de uma preocupação epistemológica e metodológica 1 para uma discussão direta sobre processos de mudança social 2 . a trajetória intelectual do autor remonta aos anos 70, quando publicou trabalhos sobre r. d laing e críticas ao behaviorismo e ao humanismo no periódico Telos (ratner, 1967, 1971) -que realizou importante trabalho de divulgação de textos de theodor adorno, Michel Foucault, jean-Paul Sartre e outros. recentemente, ratner vem estudando as contribuições de vygotsky e da Psicologia Cultural. dividido em quatro partes (sete capítulos e epílogo), o livro busca: (a) reconceitualizar a psicologia, relacionando fatores macroculturais (FMCs) e psicologia humana; (b) discutir a aplicação da psicologia macrocultural (PMC) na pesquisa científica, na reforma social 3 e na psicoterapia. ratner tem como principais bases filosóficas a dialética e o funcionalismo, sendo influenciado por um amplo espectro de estudos: marxismo (Marx, Engels, Sartre, Marcuse e Fromm), psicologia histórico-cultural (vygotsky, luria e leontiev), abordagem ecológica de Bronfenbrenner, psicologia cultural, história social, sociologia estruturalista, antropologia e outros autores.a PMC é apresentada como uma nova teoria geral da psicologia que busca uma compreensão científica da psicologia humana com o fim de transformar a cultura para que problemas psicológicos sejam superados. a PMC politiza a psicologia, redefinindo o seu objeto de análise e as suas possibilidades de intervenção. Por isso, boa parte do livro dedica-se à apresentação da PMC, à crítica de outras abordagens na psicologia -psicologia predominante (mainstream psychology), psicologia intercultural (cross-cultural psychology), psicologia evolucionária, psicologia cultural e outras -e à exposição de estudos que fundamentam a proposta de uma PMC. Essa, para o autor, tem uma única suposição básica:Como os fatores macroculturais são os meios pelos quais os seres humanos sobrevivem e se realizam, os fenômenos psicológicos buscam construí-los, mantê-los e refiná-los. Assim, para estabelecer, manter e refinar uma instituição social (como uma escola, uma igreja, um governo ou um local de trabalho), um artefato (como dirigir um carro em uma via expressa de los angeles, preparar o solo com uma enxada, caçar com arco e flecha, vestir uma mini-saia ou um corpete), ou um conceito cultural (como a constituição do tempo enquanto unidades discretas e mensuráveis, um conceito filosófico de existencialismo, cálculo ou a sonata como gênero musical), as pessoas devem desenvolver formas particulares de pensar, perceber, aprender, sentir e de autoconceito. Estes fenômenos psicológicos devem ter a forma e o conteúdo dos macro-fatores que eles constroem, mantém e refinam. (Ratner, 2006, p. 14) Nessa concepção, fenômenos psicológicos são funções cu...
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.