Resumo Nos últimos anos, empreendedores morais diversos foram responsáveis por disseminar um pânico moral contra materiais didáticos escolares, programas educacionais e exposições artísticas que incluíam a abordagem das diferenças de gênero e sexualidade. Este artigo visa analisar três episódios envolvidos nesse pânico: a reação, em 2011, contra materiais didáticos pelo enfrentamento da homofobia nas escolas, a discussão, entre 2014 e 2015, sobre planos educacionais na qual se difundiu a noção de “ideologia de gênero” e, em 2017, a perseguição a exposições e performances artísticas em Porto Alegre e São Paulo que antecedeu a vinda de Judith Butler ao Brasil. Discutirá como a formação do pânico moral dependeu do recurso discursivo estratégico de transformar iniciativas que visassem promover avanços aos direitos sexuais em ameaça às crianças.
Questionando os julgamentos ou as conjecturas sobre o "caráter" de Pompeia, é possível reconstituir historicamente e analisar de forma sociológica o que sua tragédia oculta sobre os valores, os ideais e os fantasmas da sociedade brasileira de então. seu lacônico bilhete suicida revela o caráter público de seu drama pessoal. nele, tem como interlocutor não alguém próximo, um familiar ou amigo, mas a esfera pública unificada na referência a um jornal e à nação brasileira. exposto ao escrutínio de todos, envergonhado, demanda, com seu derradeiro sacrifício, o reconhecimento social de sua honra.segundo J. Pitt-rivers (apud rohden, 2006) é possível compreender a honra como o valor que uma pessoa tem a seus olhos e aos olhos de seus contemporâneos por meio da confirmação de determinadas formas de conduta. 1 ou seja, a honra liga os ideais coletivos à sua reprodução nos comportamentos individuais. A vergonha, por sua vez, revela-se na preocupação com a reputação, o que À Notícia e ao Brasil declaro que sou um homem de honra. raul pompeia -25-12-1895 salta aos olhos este bilhete deixado pelo jovem e talentoso intelectual no natal de 1895, quando se matou com um tiro no coração, surpreendendo seus contemporâneos e entrando para a história de forma trágica. nacionalista sintonizado com a vertente jacobina da Primeira república, envolveu-se em contenda política com outros intelectuais entre 1892 e 1895 e, impossibilitado de se defender à altura dos ataques dos adversários, sucumbiu ao desespero. o suicídio de raul Pompeia (1863-1895) terminou por corroborar as especulações sobre seu suposto caráter doentio e "esquisito", julgamento que marca suas narrativas biográficas e as críticas de suas obras há mais de um século.
Este artigo busca descrever e analisar as violências vivenciadas pelas travestis em suas trajetórias (que, muitas vezes, culminaram em seus homicídios), direcionando o olhar para as violências que continuam mesmo após a morte. A intenção é compreender um tipo de violência que se manifesta na normalização de gênero pós-morte que busca apagar a história e os rastros da existência travesti. Trata-se de estudo baseado em metodologia qualitativa, por meio de pesquisa etnográfica. A etapa etnográfica deste artigo ocorreu entre os meses de setembro de 2019 e fevereiro de 2020, sendo decorrente do assassinato de cinco travestis. Os resultados indicaram a existência de um dispositivo de normalização pós-morte que atua contra o desejo final das travestis, negando-lhes uma morte digna.
Este artigo apresenta uma cronologia provisória da formação da Sociologia Digital no Brasil como um campo de pesquisa em consolidação. Em uma sociedade em que a conexão mediada em rede se tornou parte do cotidiano passando a reconfigurar as relações sociais, busca refletir sobre a importância de um campo de pesquisas com reflexão teórica e conceitual especializada. Inicia apresentando um balanço da área nos últimos anos, depois aborda debilidades teóricas e metodológicas que marcaram sua formação recente assim como seus avanços teóricos e metodológicos. Por fim, discute algumas de suas contribuições para a sociologia brasileira, sua inserção internacional, assim como uma possível agenda de pesquisa para seu desenvolvimento. Palavras-chave: Sociologia Digital; sociedade digital; relações sociais mediadas em rede; desafios teórico-metodológicos. * Richard Miskolci é Professor Associado do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar. Pesquisador do CNPq e Coordenador do Quereres-Núcleo de Pesquisa em Diferenças, Gênero e Sexualidade. Lançou recentemente Desejos Digitais: uma análise sociológica da busca de parceiros online (Autêntica, 2017).
Resumo Este artigo apresenta uma análise do escândalo em torno do fechamento da exposição Queermuseu, ocorrida no Espaço Santander Cultural, em Porto Alegre, no segundo semestre de 2017. O texto busca desvelar o processo no qual, a partir de mobilização nas plataformas digitais, uma mostra artística voltada ao tema da diversidade sexual passou a ser compreendida em certos segmentos como promotora de “pedofilia”, “zoofilia” e “blasfêmia”, teve seu encerramento antecipado, resultando em perseguições a artistas e ao seu curador, bem como na difusão de uma interpretação que associa a esquerda a uma agenda de “perversão moral” às crianças. A análise empírica teve como fonte reportagens digitais e impressas do jornal Zero Hora de Porto Alegre, além de textos, imagens e vídeos que circularam em plataformas digitais, abordando em específico o enquadramento do evento pelo Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que liderou a campanha pelo fechamento da exposição. Ao analisar o alcance do enquadramento do MBL, permite-se reconhecer como as plataformas digitais ampliaram o espaço para grupos políticos agendarem questões públicas e imporem seu enquadramento para suas audiências. O artigo elucida, a partir do caso empírico analisado, aspectos da pervasividade das mídias no debate público no contexto de uma esfera pública tecnomidiatizada e busca evidenciar aspectos da acentuada midiatização da política na era digital.
Resumo: No artigo, analisamos o uso das mídias digitais por Linn da Quebrada, artista dissidente em termos de gênero, sexualidade, raça e classe social. Linn se identifica enquanto bixa, preta, ora travesti, ora transexual e “da quebrada”, tendo conquistado certa visibilidade midiática a partir da publicação de produções audiovisuais no YouTube. A abordagem metodológica consistiu em etnografia digital por perambulação, na qual percorremos os fluxos de relações constituídas pela artista a partir do uso do YouTube, nos anos de 2016 e 2017, visando refletir sobre os engajamentos performativos que ela adotou em plataformas digitais. Também demonstramos como a emergência da artista se dá a partir da problematização das normas de gênero e sexualidade, em momento de acirramento do debate político sobre essas mesmas no país e da consolidação de uma configuração midiática altamente segmentada em uma sociedade digital.
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