Desinstitucionalizar é desafiar, criticar e desconstruir paradigmas. Na área da saúde, não se refere apenas a sujeitos hospitalizados, mas a diferentes atores, inclusive profissionais e familiares. Neste artigo, abordamos o tema de forma mais circunscrita, olhando a desinstitucionalização em sua relação direta, antitética, com o fenômeno da institucionalização de sujeitos acometidos de transtorno psíquico. Através de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo analisamos, com base no pensamento hermenêutico-dialético, a percepção dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Santa Catarina sobre desinstitucionalização. Foram entrevistados 12 coordenadores e aplicados questionários abertos a 24 técnicos graduados, que trabalhavam nos 12 CAPS do estado à época da pesquisa. A maioria destes profissionais conhece as propostas da desinstitucionalização, conforme apresentadas pela Política Nacional de Saúde Mental, com base no movimento de Reforma Psiquiátrica brasileiro, mas vê dificuldades em aplicá-las no dia a dia. Uma parte dos profissionais tem uma compreensão divergente da adotada com base na Reforma Psiquiátrica, alguns não creem em sua concretização nestas bases, e outros acreditam que estão reproduzindo o modelo manicomial. Muitos apontam que não são realizadas ações de desinstitucionalização em Santa Catarina ou o são de forma incipiente.
RESUMO O presente artigo objetiva problematizar o cuidado em saúde mental no Brasil à luz dos conceitos de biopoder e biopolítica, enunciados por Michel Foucault. A análise das práti-cas de cuidado instituídas no âmbito dos serviços que compõem a rede de atenção psicossocial no Brasil, através de artigos publicados em periódicos nacionais, revelou a transversalidade do cuidado em saúde mental com relação a estratégias disciplinares e de controle das populações, limitando as possibilidades de resgate da concepção de sujeito e subjetividade no processo de produção do cuidado às pessoas em sofrimento psíquico.
PALAVRAS-CHAVE
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, que visa a analisar a percepção dos profissionais com relação à sua prática nos Centros de Atenção Psicossocial II (CAPS II) de Santa Catarina. Os dados foram coletados nos 12 CAPS II do Estado, através de entrevistas semiestruturadas com 12 coordenadores e aplicação de questionários abertos com 24 técnicos. Os relatos foram analisados sob a ótica hermenêutico-dialética. Os resultados sugerem, a partir da percepção dos profissionais, que os CAPS II de Santa Catarina trabalham no limiar da institucionalização e que os usuários não contam com adequado suporte social e comunitário fora das instituições que prestam assistência à saúde mental.
Resumo O número de diagnósticos de transtornos mentais cresceu significativamente em paralelo à disseminação das edições do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Neste contexto, desenvolvemos este ensaio com a finalidade de compreender o uso do DSM como instrumento para fundamentar os diagnósticos de transtornos mentais. Para embasar o presente estudo, lançou-se mão de publicações científicas de autores que discutiram as edições do DSM, assim como as classificações psiquiátricas. Constatamos que há controvérsias em relação ao Manual, as quais descrevemos por um lado como conveniências e, por outro, como críticas. Há lugares em que esta lógica do DSM é conveniente, uma vez que gera benefícios a diversos setores, como seguros de saúde e indústria farmacêutica. As principais críticas ao DSM ressaltam o fato de o Manual transformar o sofrimento psíquico em patologias de cunho cerebral.
Resumo O Trantorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) destaca-se por atingir cerca de 5% a 10% da população infanto-juvenil em diversos continentes, sendo a principal opção de tratamento o uso do metilfenidato (Ritalina). Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo compreender como os conteúdos veiculados nas redes sociais (comunidades virtuais) influenciam no modo pelo qual os familiares, membros destas comunidades, entendem o TDAH e o tratamento, bem como lidam com seus filhos com suspeita ou já diagnosticados com TDAH. A pesquisa foi desenvolvida na perspectiva da Antropologia Médica. A etnografia virtual foi elegida como metodologia de investigação para adentrar a uma comunidade virtual da rede social Facebook. Observou-se que a comunidade virtual investigada, constituída por mães de crianças e adolescentes diagnosticados com TDAH, discute principalmente o uso da medicação para tratamento do TDAH em seus filhos. As narrativas indicam que causa muita angústia em algumas mães darem a seus filhos um medicamento controlado. O sofrimento dos pais mediante as dificuldades de lidarem com seus filhos induz a ideia de que há necessidade de uma solução médica, pois vivemos em uma era em que os percalços da vida tornaram-se patologias.
Na sociedade contemporânea há um grande número de pessoas diagnosticadas com transtornos mentais em diversos continentes. Fenômeno que é considerado por como uma epidemia de transtornos mentais. Diante deste contexto, busca-se delinear a trajetória histórica das classificações em psiquiatria, desde o século XIX até a atualidade. A primeira tentativa de classificações de patologias psiquiátricas foi em 1840 a partir da medição da frequência de duas categorias. A última classificação que antecede o primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) surge em 1918, com 22 categorias. No ano de 1952 é publicada a primeira edição do DSM, posteriormente, o Manual foi reformulado até a quinta edição, lançada em 2013. As classificações em psiquiatria foram criadas com a finalidade de obter dados estatísticos sobre a população e buscar uma linguagem universal sobre as patologias mentais. Na prática clínica há muitas controvérsias em relação as classificações em psiquiatria, pois esta rompe com as teorias de cunho crítico filosófico que constituíam as características das patologias mentais. A história nos mostra que houve uma fissura no modo de entender o sofrimento psíquico, e ali esvaíram-se a subjetividade e a história de vida dos sujeitos.
The purpose of this manuscript was to report and discuss the experience of Brazilian health researchers, going through a program in the area of anthropology. This experience report aims to acknowledge and critical discuss the experiences of the researchers in the anthropology field of continued and permanent education, in the background of the PhD course in Anthropology and Communication of the Universitat Rovira i Virgili in Tarragona, Spain. The immersion studies on medical anthropology and global health done by the researchers widened their understanding of the health-disease-care process, enabling the analysis of the phenomenon from another perspective, where the society and cultural values are strongly present.
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