Publicado em xx/xx/xx O objetivo desse artigoé uma apresentação didática, em português, da interpretação dos estados relativos, publicada por Hugh Everett em 1957. Nessa apresentação, reescrevemos os argumentos originais utilizando o formalismo de Dirac de modo a simplificar sua compreensão. A apresentação foi feita sem o uso de cargas ontológicas posteriores, seguindo principalmente os textos originais de Everett. Ao longo dos tópicos, evidenciaremos quais os principais problemas enfrentados por essa interpretação. Palavras-chave: interpretação dos muitos-mundos, Hugh Everett, teoria quântica, interpretação dos estados relativos.The purpose of this paper is to present, in a pedagogical manner and in Portuguese, the relative state formulation of quantum mechanics, published by Hugh Everett in 1957. In this presentation, we rewrite the original arguments using Dirac's formalism in order to facilitate their understanding. Furthermore, we point out the main problems encountered by Everett's interpretation. The presentation focuses on Everett's original papers and manuscripts, rather than on the subsequent interpretations of Everett's work, which attached a strong ontological meaning to its alleged implications. Keywords: many-worlds interpretation, Hugh Everett, quantum theory, relative state interpretation.
IntroduçãoA edição da Nature, da primeira semana de julho de 2007 [1], surpreendeu a todos. Sua capa, imitando as ilustrações contidas nas revistas de ficção científica da década de 1950, mostra infinitas mulheres idênticas, assustadas com a sua multiplicação. Logo abaixo do título, podemos ler "contos estonteantes da superciência". Porém,é somente com a chamada da reportagem principal que entendemos a brincadeira da revista: "Muitos-mundos: 50 anos da mais profunda estranheza quântica".Em julho de 1957, o artigo de Hugh Everett contendo a sua interpretação da mecânica quântica chamada de Interpretação dos Estados Relativos, ou, nas palavras da Nature, dessa hipótese científica estonteante, foi publicado no Reviews of Modern Physics [2]. Por uma série de razões, não exploradas aqui, esse artigo chamou muito menos atenção do que deveria e foi só em fins da década de 60 e no início da década de 70, já rebatizada de interpretação dos muitos mundos, que a hipótese de Everett passaria a compor o universo de interpretações da mecânica quântica, sem dúvida alguma alcançando o posto de a mais estranha de todas. Se a mecânica quântica, com seus paradoxos, já consegue despertar o imaginário das pessoas, acom-