Neste artigo, partimos de quatro diferentes modalidades concretas de trabalho: na indústria metalúrgica; na indústria de confecções; nas cozinhas de restaurantes; e no trabalho de catação de materiais recicláveis, para evidenciar a divisão sexual do trabalho, conforme as sociólogas do trabalho, feministas materialistas, Helena Hirata e Danièle Kergoat, a compreendem: como expressão da base material das relações de gênero na sociedade capitalista, regida pelos princípios de separação e de hierarquia, que organizam a divisão social do trabalho entre os gêneros e distribui desigualmente os trabalhos produtivos, domésticos e de cuidados. Com isso, reafirmamos essa concepção de divisão sexual do trabalho como uma chave de leitura teórico metodológica atual, com caráter plástico e comparativo. ceito.
No cerne da pluralidade das teorias e análises feministas, pesquisadoras da Teoria da Reprodução Social (TRS) ancoradas em noções marxianas de trabalho, valor, força de trabalho e reprodução social, elaboram a ideia de que tanto a produção de mercadorias quanto os trabalhos domésticos e de cuidados compõem a totalidade sistêmica do capitalismo, de que ambos são necessários à regeneração do capital. Elas compreendem que os conflitos em torno da reprodução social se configuram em um ponto chave na disputa entre capital e trabalho. Este texto analisa a problemática atual dos trabalhos domésticos e de cuidados, localizada em uma crise que impõe uma nova divisão sexual e internacional do trabalho e que evoca uma renovação na teoria social, expressada no desenvolvimento feminista da TRS.
Uma crítica fundamental das economistas feministas em relação à Ciência Econômica é a de que essa ciência seria fundada em um viés androcêntrico que privilegia as relações de mercado e raciocina em termos de individualidades egoístas. Neste texto, isso é verificado por meio da análise da noção homo economicus em diferentes abordagens econômicas e momentos históricos. São apresentadas as críticas feministas a essa noção, ilustradas pela ideia de “homem cogumelo” de Thomas Hobbes e pela personagem Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. Contrapondo-se a esse viés, é apresentada a perspectiva feminista da Economia que considera que as ferramentas analíticas e metodológicas da Ciência Econômica sejam reinventadas, considerando valores extra-mercadológicos como as emoções, a responsabilidade com as outras pessoas, a solidariedade e a reciprocidade.
Este texto apresenta uma resenha de dois livros publicados no ano de 2016, lança-dos com títulos e organizadoras diferentes, em dois países de línguas, continentes e contextos históricos, sociais e políticos diferentes, mas reunindo a mesma coletânea de textos. 1 Como resultado do colóquio internacional Trabalho, cuidado e políticas sociais: Brasil-França em debate, realizado no Brasil, no ano de 2014, os vinte e três textos publicados nos livros foram escritos por pesquisadoras e pesquisadores brasileiros e franceses, que se dedicam aos estudos sobre trabalho, gênero, relações sociais de sexo, classes sociais e "raça", sob perspectivas interseccionais ou consubstanciais, e que mantêm relações acadêmicas. Assim, a publicação dessa coletânea recupera o relacionamento acadêmico entre a França e o Brasil na área das Ciências Sociais e o torna visível à comunidade acadêmica, sobretudo no que se refere aos estudos sobre as relações de trabalho.No Brasil, a coletânea de textos foi publicada com o título Gênero e Trabalho no Bra-1 Esta resenha foi elaborada com base nas duas edições da coletânea e na exposição da pesquisadora Helena Hirata, na ocasião do lançamento da edição brasileira na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizado na mesa redonda "Gênero, Trabalho e Feminismos", no dia 29 de novembro do ano de 2016. sil e na França: perspectivas interseccionais, organizada por Alice Rangel de Paiva Abreu, Helena Hirata e Maria Rosa Lombardi e publicada pela editora Boitempo (2016). Na França, ela foi publicada como Genre, race, classe. Travailler en France et au Brésil, organizada por Nadya Araujo Guimarães, Margaret Maruani e Bila Sorj e publicada pela editora L'Harmattan (2016). É importante dizer que, ao contrário do que pode sugerir uma leitura apressada dos títulos dos livros, os textos da coletânea não apresentam comparações entre os dois países, mas falam sobre questões relativas a um e a outro. Assim, as diferentes escolhas feitas pelas organizadoras das edições brasileira e francesa revelam alguns debates importantes tratados nos dois países.No Brasil e na França, há, em certa medida, uma tradição de estudos que abordam como mulheres e homens são afetados de formas diferentes pelas dinâmicas das relações de trabalho ou como as relações de trabalho se apropriam das dinâmicas das relações de gê-nero ou relações sociais de sexo para expandir a exploração capitalista. Somado a isso, existe um esforço recente para se compreender como essas dinâmicas de trabalho e as relações de gênero ou relações sociais de sexo também se vinculam às questões raciais, 2 embora isso não seja algo realmente novo. 3 Tal tradição de estudos encontra lugar em ambos os países, sobretudo, nessa rede de pesquisadoras e pesquisadores que dialogam por meio de diferentes pontos de vistas teóricos e metodológicos, mas que parecem apontar para o mesmo problema: a incompletude dos estudos sociais sobre as relações de trabalho, centrados em uma determinada concepção de classes sociais que parece ser compreendida de forma isolada e aci...
Este dossiê se propôs a visibilizar a trajetória coletiva de pesquisa de Danièle Kergoat e Helena Hirata e convidar pesquisadoras(es) de diversas áreas do conhecimento e o público em geral para compreender a dinâmica social por meio da perspectiva do feminismo materialista.
Nos últimos anos reacendeu-se o interesse pela Epistemologia Feminista, caracterizada por afirmar a indissociabilidade entre teoria e política, conformando-se, assim, como um tipo de práxis. Do mesmo modo, renovou-se a necessidade dos estudos de gênero refletirem sobre as maneiras como se interconectam diferentes relações sociais, como as de gênero, classe e raça. No diálogo entre esses dois eixos, ganha relevo o trabalho de Heleieth Saffioti acerca da práxis, o que justifica revisitar seu artigo “Violência de gênero: o lugar da práxis na construção da subjetividade”, publicado originalmente em 1997, no segundo número da revista Lutas Sociais.
A Economia Feminista é um campo de estudos da Ciência Econômica e uma abordagem política que orienta diversos grupos feministas. A sua construção é fruto da imbricação entre a produção acadêmica e as lutas feministas e é desenvolvida tanto nos centros de estudos e pesquisas como nos espaços de atuação política feminista: Organizações Não Governamentais (ONGs), movimentos sociais e associações de mulheres trabalhadoras.
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