Nesse momento de crise democrática, nós, professores, pesquisadores, formadores temos um compromisso ético: não permitir que experiências exitosas de formação de professores caiam no esquecimento, fragilizadas pela redução do orçamento público para educação, ciência e cultura no país. Por esse motivo, devemos lembrar que o contexto político que possibilitou um programa como Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência para a Diversidade (PIBID Diversidade) foi marcado, sobretudo, pelo processo de fortalecimento e criação de espaços democráticos de debate sobre a educação brasileira – como as conferências municipais, estaduais e nacional de educação (CONAE) – que permitiam que sociedade civil, sindicatos, uniões classistas, grêmios e diretórios estudantis, associações de pais, instituições formadoras, representantes dos estados, municípios e federação debatessem sobre os problemas e particularidades da educação básica. E que, a partir do diálogo, surgissem políticas públicas para lidar com esses problemas e particularidades.
Este texto intenciona compartilhar os projetos pedagógicos e de políticas afirmativas que estão sendo vivenciados com os Povos Indígenas de Pernambuco. Essas práticas educativas que comportam iniciação à docência, pesquisa e intervenção estão sob a égide o Pibid Diversidade da Universidade Federal de Pernambuco no Campus Caruaru. O presente artigo apresenta de forma analítico-compreensiva a realização do I Seminário de estudo e socialização deste Programa da Capes, durante o mês de novembro de 2014, contando com a participação da Rede Indígena do Estado e de pesquisadores/as da ALAS (Associação Latino-americana de Sociologia). Sob os marcadores teóricos da abordagem decolonial, os relatos, os subprojetos desenvolvidos, as mesas de diálogo e as contribuições dos docentes/pesquisadores foram significativos em sublinhar as reais aproximações e imbricações entre a Educação Básica, a Universidade e a Sabedoria dos Ancestrais Indígenas.
O presente trabalho enseja evidenciar um diálogo intercultural entre as cosmovisões dos/as artesãos/ãs do Alto do Moura - Caruaru/PE e do Povo Pankará, cuja percepção é resultado dos desdobramentos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência para a Diversidade (PIBID Diversidade), do projeto de pesquisa Professores Indígenas de Pernambuco: formação, pesquisa e prática pedagógica, das rodas de diálogo com os referidos ceramistas e, teoricamente, das lentes dos estudos pós-coloniais (ESCOBAR, 2003; MIGNOLO, 2007; MALDONADO-TORRES, 2007). A dinâmica do PIBID Diversidade, do Campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tem assento, neste trabalho, nas práticas formativa e educativa do Povo Pankará e dos/as artesãos/ãs do Alto do Moura. Este caminho foi, paritariamente, construído em articulação com a Comissão dos Professores Indígenas de Pernambuco (COPIPE), os/as artesãos/ãs do Alto do Moura, os/as participantes indígenas do PIBID Diversidade e colaboradores/as vinculados à universidade. As estratégias metodológicas utilizadas filiam-se às perspectivas do movimento recursivo, rompendo com a linearidade colonialista das ações societárias que privilegiam os saberes escolares urbanocêntricos e governamentais. O acesso às cosmovisões do Povo Pankará e os contatos intersubjetivos dos/as artesãos/ãs do Alto do Moura revelaram as práticas educativas e a produção do conhecimento popular promovendo um olhar crítico-propositivo no e do grupo dos/as participantes indígenas e artesãos/ãs. Em ambos contextos, dos saberes indígenas e artesãos/ãs, as cosmovisões e formações distintas complementam-se, com assento, seja na valorização e respeito aos saberes tradicionais, seja, na oralidade e no cotidiano, cujas percepções e juízos de valor são herdados e transmitidos individual e coletivamente.
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Esse artigo é um convite à leitura compreensiva de Frantz Fanon que assim como nós, somos indagadores do mundo e sobre o mundo a partir das linhas divisórias e discriminatórias que, historicamente, construímos. Nessa perspectiva hermenêutica, Fanon nos presentifica com o sentir-pensar o mundo a partir de outro lócus de percepção e de enunciação em que os sujeitos sociais, as contingências e possibilidades históricas assumem-se como produtores de conhecimentos e como lócus de resistências e ressignificações. Utilizar as lentes fanonianas nos faz questionar a concepção de que o labor científico tem se tornado território de exclusividade dos varões brancos. Além disso, Fanon nos ensina a esperançar por um mundo melhor, por um lugar onde os negros possam reinventar-se além dos estereótipos socioculturais, a partir de si e do referencial que seu próprio povo se identifica, expressa-se e manifesta-se em suas singularidades.
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