O artigo focaliza o currículo das narrativas seriadas em suas duas expressões: a de um “currículo-maior”, constituído por linhas molares e que apresenta um sistema de referência pelo qual as formas binárias nos organizam e nos produzem enquanto sujeitos serializados; e a de um “currículo-menor”, que, ao acionar o riso e as paixões alegres, compõe um traçado de linhas de fuga capazes de desterritorializar o “currículo-maior” e a modelização da subjetividade. O argumento é o de que no currículo das narrativas seriadas pode-se ultrapassar convenções normativas e estabelecer a abertura para a constituição de outros modos de vida, apesar das linhas de força de conformidade a certos estratos. Ao cartografar duas narrativas seriadas, evidenciamos a composição de um “currículo-obsceno”, referente a série “Fleabag” e um “currículo-louco”, relativamente a série “Crazy Ex-Girlfriend”. Concluímos que no “currículo-menor”, o amor e o riso são vetores para a desagregação do “currículo-maior” das narrativas seriadas, capazes de rachar os estratos e inaugurar existências menores e criativas.
O artigo, filiado ao campo das pesquisas pós-críticas em Educação e inspirado em obras do horror gore e slasher, objetiva utilizar a imagem do zumbi para significá-lo como um modo de subjetivação em marcha. O argumento é o de que a subjetividade zumbi é um composto de posições de sujeito que carrega traços de um planeta em colapso e que urde um caráter de modelização e serialização dos sujeitos. Embora essa subjetividade possa ser demandada em diferentes instâncias e espaços, operamos com o currículo das narrativas midiáticas seriadas como um dos principais articuladores que atualizam as linhas de um “dispositivo da catastrofização”. Tal dispositivo tem servido para responder à necessidade de se definir o que conta, em um mundo em ruínas, como vivível ou matável. Concluímos o artigo afirmando que embora o currículo das narrativas seriadas acione uma necropolítica que objetive eliminar o que desordena as normas, ele terá de enfrentar uma resistência tão inventiva, astuciosa e agitadora quanto o poder que exerce.
Neste artigo, investiga-se o currículo das narrativas midiáticas seriadas, significando-o como um “necrocurrículo”, um artefato pedagógico cuja ação regulatória dá-se em torno da qualificação de modos de vida e, consequentemente, distribuição de mandos de morte. O argumento é o de que, ao articular uma política de morte frente a marcadores da diferença, esse currículo tem criado e articulado significados que justificam a possibilidade de expurgo do que considera indesejado por meio de uma “tecnologia de apoptose” relacionada às práticas de programação de morte. Evidencia-se uma forma estilizada de extermínio do sujeito negro a partir desse currículo que, sob a desculpa de estar dramatizando a experiência do racismo, termina por reiterar e adicionalmente produzir a própria violência que alega estar criticando. Conclui-se que tal artefato tem atuado como uma atualização do “corpo supliciado”, de modo a ensinar que a qualquer momento um sujeito negro está vulnerável à violência e à morte.
Resumo: Filiados a uma perspectiva pós-crítica de pesquisa em Educação, significamos o artefato cultural das narrativas seriadas como um currículo. Investigamos a proveniência de um modo particular de produção de masculinidades a partir da categorização dos ‘homens difíceis’ das narrativas seriadas e perscrutamos o modo como o feminino também é enunciado nesse currículo. A partir das nossas aproximações com a esquizoanálise, argumentamos que esse currículo, ao se constituir como um “currículo-máquina” produtor de fabulações generificadas, tem sido estratificado por linhas duras, por linhas maleáveis e por linhas de fuga. Concluímos que esses discursos generificados têm apontado aquilo que é pensável e dizível acerca dos gêneros e das sexualidades de um determinado tempo.
O presente artigo toma de empréstimo uma frase de um famoso canal televisivo – “Não é TV. É HBO!” – e a reformula no sentido de mostrar um panorama investigativo que evidencia a emergência de um determinado artefato cultural: as narrativas midiáticas seriadas. O objetivo é o de evidenciar que uma narrativa seriada “Não é TV. Mas é currículo!”, a partir de contribuições das teorizações pós-críticas em intersecção com o campo dos estudos culturais. O argumento é o de que esse currículo tem disponibilizado uma “prática da maratona” que reforça a dimensão biopolítica da constituição de uma “cultura seriadora”, que não se encerra no objeto que aqui investigamos, sendo capaz de se estender a diferentes aspectos das nossas vidas, com diferentes efeitos em nossas composições como sujeitos. Com isso, passamos a significar o currículo das narrativas midiáticas seriadas como um agenciamento biopolítico desterritorializado, isto é, uma combinação de elementos díspares cujas redes constitutivas caracterizam-se fundamentalmente pela total ausência de fronteiras, atravessando um território ilimitado que não pode ser confinado por barreiras inamovíveis. Na produção dessa “cultura seriadora”, atentamos para a regulação da vida social da audiência em um exercício particular de poder, tramando-lhe em uma rede discursiva que tem demandado múltiplas posições de sujeito para comportar o máximo possível de indivíduos. Concluímos que há aqui em jogo uma “narcotização programada da vida”, capaz de provocar o empalidecimento das nossas potências, o congelamento das nossas forças vitais e a proliferação das formas estáticas e estabilizadas a partir de redundâncias subjetivas.
À primeira vista, realidade e ficção parecem ser termos imiscíveis, difíceis de serem colocadas lado a lado, principalmente no que diz respeito à ação de narrar nossas histórias de vida. Conduzimos a partir desse artigo uma viagem por entre as fronteiras da realidade e da ficção, identificando e diluindo essas barreiras. Para tanto, traçamos uma discussão sobre o lugar cativo das histórias de vida, o dispositivo da memória e a biografemática. A partir dessas frentes, o objetivo geral do texto é esboçar algumas possibilidades de reinvenção de nossas histórias de vida. A linguagem cinematográfica do diretor cearense Karim Aïnouz emerge no texto como possibilidade imagética de conexão entre o real e o ficcional. Como de fato trata-se de uma viagem, o texto é intercalado por diários de bordo de Major Tom, personagem criado através da fusão dos autores do texto, inspirados no processo de escrita a dois de Deleuze e Guattari (2012), e que traz alguns relatos autobiográficos concatenados ao que é discutido. Por fim, concluímos que é possível se situar entre realidade e ficcionalidade, em nossas histórias de vida, transubstanciando o rotineiro em fantástico.
Inspired by the lines of force of Gilles Deleuze and Félix Guattari’s philosophies of difference, this article explores some schizoanalytical notes for the cartography of a curriculum of a cultural artifact. From the contributions of post-critical theories and their connections with the field of cultural studies, we understand serialized narratives as a curriculum. The text operates, in its stylistics, through an (auto)-fictional elaboration, bringing takes narrated by the Mapmaker, a character who presents some methodological notes of our cartographic investigation from fragments of his memories. The argument explored is that the constitutive lines of the curriculum of serialized narratives have presented a multiplicity that makes it understandable as an “anthological curriculum,” allowing us to visualize its control regions, derived from the state apparatus, and its contagion zones, typical of war machines. In this sense, the “anthological curriculum” is produced in the clash between the hard, flexible, and escape lines that compose it. Our conclusion is that the different ways in which we become ourselves and the different subject positions we assume throughout life are at stake in this artifact. Thus, we believe that the serialized narrative curriculum, by triggering lines of escape, opens spaces for other exits, providing less normative reasoning for subjects crossed by gender and sexuality dissidences.
O artigo está vinculado às pesquisas (auto)biográficas filiadas a uma perspectiva pós-crítica em Educação. O objetivo é a composição de um modo outrora denominado fictífico-cienticional de experimentar com a vida, utilizado em uma investigação com professores/as em formação inicial. O argumento proposto é que os/as professores/as, ao reinventarem as suas memórias e reconfigurarem o vivido por meio de uma estética de obra de arte, colaboram tanto para o borramento das fronteiras entre realidade e ficção, quanto para o soerguimento de uma forma artística de escrita de si. Operando metodologicamente com elementos da cartografia, tal modo se inspira em filmes de ficção-científica, bem como no encontro dos pesquisadores com a prática investigativa cartográfica elaborada por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Ao desenhar um mapa de geografias de vida, as memórias passam a ser compreendidas como territórios a serem explorados, relativizando o caráter potencialmente testamentário de quem se autobiografa. Concluímos que uma escrita de narrativas de si em uma dimensão artística nos faz chegar a três características: escrita como afecção (dos blocos de sensações), escrita como infecção (dos contágios que proliferam), escrita como ficção (dos possíveis que excedem o real).
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