Por que escolher um tema como esse: simplesmente porque o vínculo social, no momento atual, se desfaz cada vez mais rapidamente e porque vemos aumentar uma violência que não é a violência fundadora do direito, nem a violência necessária às relações humanas (Kant notou que, sem discordância, seríamos apenas carneiros balindo), mas uma violência por excesso, um mal radical elementar, como diria Levinas, que visa suprimir não somente o indivíduo, mas o sentido, fazendo com que nada na vida tenha sentido. Já antes da Segunda Guerra Mundial, Freud e Valéry nos preveniram. Em O mal-estar da civilização (1930), Freud notou que nós, nas sociedades ocidentais, tínhamos chegado a um nível de "tensão intolerável", tensão política e psíquica, e que a humanidade seria capaz de se destruir definitivamente, de forma que aquilo que lhe havia permitido progredir tornar-se-ia a causa de seu desmoronamento. Paul Valéry, por seu lado, em suas Reflexões sobre o mundo atual (1945) sublinhava o fato de que "as civilizações sabem que são mortais" e a tendência das sociedades européias a renunciar à sua missão. Acrescentamos duas frases mais recentes: a primeira, de Georges Bataille: "A humanidade inteira está ameaçada a reduzir-se a um imenso sistema de escravidão para todos"; a segunda, de D. Rousset: "Os homens normais não sabem que tudo é possível". Proponho, pois, uma visão trágica da vida, não para nos deixar invadir pela fatalidade, mas para examinar lucidamente se uma outra via é possível, se podemos fazer prevalecer a civilização, apesar das ambigüidades, sobre a barbárie. Partimos de uma constatação: