Neste texto se tece considerações sobre quatro discursos públicos do padre Paulo Ricardo, liderança eclesial que tem se destacado nas mídias públicas e católicas. Ponta de lança de um catolicismo conservador que se espraia pelos espaços públicos com traços de reacionarismo, seus discursos alcançaram grande repercussão devido à intensa atividade lobista desse sacerdote junto a parlamentares evangélicos e católicos no Congresso Nacional. Padre Paulo Ricardo, ligado a grupos tradicionalistas e carismáticos, representa a face pública de um segmento considerável de católicos incomodados com as profundas transformações sociais e religiosas contemporâneas e com a emergência dos direitos de minorias, como a da população de lésbicas, gays, bixessuais, transxesuais e queer. Com o auxílio de metodologias qualitativas, analisa-se as falas do padre Paulo Ricardo em quatro vídeos publicados no YouTube. Defende-se a hipótese que esta discursividade traduz de forma clara as linhas mestras de uma “guerra cultural” encetada por grupos católicos ultraconservadores no espaço público contemporâneo.
A pandemia de Covid-19 mostra, contundentemente, a convergência entre interesses ideológicos de amplos setores evangélicos e a coalização neoliberal encabeçada pelo governo Bolsonaro. Quais os fundamentos dessa afinidade, nos perguntamos. Num contexto de mobilização política anti-ciência, nossa hipótese é a de que a crítica à razão científica, marcada pela hegemonia do pensamento mágico (ligação direta entre desejo e realidade) e a situação de pós-verdade (negação dos critérios de verificação da verdade e da falsidade de enunciados) permitiram essa afinidade. Baseados em métodos qualitativos de análise sociológica e nas reflexões de clássicos (Weber, Durkheim, Marx, Manheim, Foucault), analisamos posicionamentos e postagens de duas deputadas estaduais evangélicas nordestinas bolsonaristas em redes sociais.
The aim of this paper is to understand, in a panoramic way, the ideas that some organized groups of Catholicism have expressed about the pandemic of the new coronavirus. We shall take as material for analysis, the web official pages of the following segments: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) [National Conference of Bishops of Brazil], Heralds of the Gospel and Catholic Charismatic Renewal (CCR), especially from the moment when the first case of the disease caused by the Sars-Cov-2 virus and the health-social-economic emergency were checked. Catholic beliefs about Covid-19 and related themes (restrictive measures, social inequalities) show an intense and internal conflict of values or worldviews and lead to inquiring about the incidences of Catholicism in the public sphere. The qualitative-exploratory hypothesis demonstrates that the advancement of the new coronavirus has accentuated tension lines existing in the Catholic Church and indicates that there is an ongoing dispute between the various official segments about the correct intonation of the Catholic voice in Brazilian society. To raise responses to the proposed problem, the paper is based on a qualitative method, namely, partial review of the bibliographic productions of the religious studies and analytical mapping of the main official positions (editorials, speeches, notes, texts) proposed by the three Catholic segments aforementioned.
El presente artículo estudia la cuestión religiosa y política en Brasil desde una perspectiva sociohistórica. En los últimos años, hemos tenido la subida del biop oder de derecha; anarcocapitalista, en términos sociopolíticos, y reaccionario-conservador, en términos religiosos. ¿Cómo fue posible el surgimiento del panorama religioso-político actual? Hay dos hipótesis interpretativas complementarias: la construcción de un campo religioso-político conservador y reaccionario, y los cambios sociales y económicos neoliberales. La metodología de investigación es cualitativa y fueron utilizadas fuentes documentales primarias y secundarias sobre la religión y la política brasileña contemporánea.
Pretende-se com este artigo analisar as posições institucionais do catolicismo brasileiro durante a pandemia do novo coronavírus, a partir da ideia de uma “comunicação política” da ciência pela religião. Tomaremos como material de análise documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), decisões de algumas (arqui)dioceses e, como contraponto, as posições de movimentos católicos conservadores em questionamento às recomendações sanitárias e eclesiais. Assim, norteia-se pela seguinte questão: terá havido, neste momento, uma importante tensão entre a hierarquia, comprometida com a ciência, e parcela dos fiéis, quiçá mais próximos do negacionismo político em voga? A hipótese qualitativo-exploratória do artigo demonstra que o momento da pandemia acentuou, em termos de dissonância comunicativa, as linhas de tensão existentes na Igreja Católica e, à medida que a pandemia recrudesceu, a marcha institucional da hierarquia católica se deu em sentido oposto ao trilhado por líderes evangélicos, que demonstraram maior e mais coeso apoio às medidas e à comunicação do governo brasileiro. O artigo está embasado em método qualitativo, com foco na revisão parcial de produções bibliográficas atinentes à temática e mapeamento analítico dos principais posicionamentos oficiais propostos pelos segmentos católicos referidos.
RESUMOO debate sobre a autonomia epistemológica e acadêmica da(s) ciência(s) da religião assumiu diversas perspectivas nas quais se destacam a predominância de paradigmas fenomenológicos essencialistas, construcionistas e relativistas. Na esteira desse debate, a questão da metodologia surge, nem sempre com o necessário destaque: qual(is) método(s) e qual(s) concepção(ões) norteiam as pesquisas em ciência(s) das(s) religião(ões)? Quais as condições possíveis do método nas ciências da religião: politeísmo ou monoteísmo metodológico? Partindo dessas questões, proponho como duas primeiras hipóteses, a impossibilidade de uma resposta unívoca e a existência de ambivalências metodológicas. Calçado em metodologia de revisão bibliográfica e análise do discurso emergente nas discussões teóricas das ciências da religião, apresento, como terceira hipótese, o politeísmo metodológico como uma saída dos impasses e um contributo à produção de pesquisas qualificadas.
Este texto busca examinar as tensões e dissonâncias na relação entre religião e espaço público no Brasil contemporâneo. Partindo de uma sociologia e antropologia dos fenômenos da secularização e da laicidade, pretende demonstrar a porosidade do sistema público/político brasileiro com o meio religioso. Recorrendo a uma perspectiva sócio-histórica procura compreender como as fronteiras entre religião e política no Brasil foram precariamente construídas ao longo da constituição do nosso Estado, sem nunca haverem sido institucionalmente bem demarcadas. Vácuo, que gerou concessões por parte do Estado às religiões majoritárias cristãs, assegurando legitimidade pública à seus símbolos religiosos nos espaços estatais, à princípio, neutros e seculares. Entretanto a Constituição de 1988, representou o influxo de uma legislação moderna e laica que legitimou sujeitos de direitos como mulheres, negros, índios, LGBTs, ambientalistas, etc. Diante deste quadro, esta reflexão ambiciona contribuir para a interpretação da complexidade que significa a presença múltipla e contraditória na esfera pública, tanto das religiões majoritárias cristãs, assentadas em uma agenda de valores religiosos conservadores quanto de projetos liberais e libertários acionados por segmentos da sociedade civil e agentes públicos gerando tensões e dissonâncias. Para compreender esta realidade, enquanto mosaico de interações e antagonismos, buscar-se-á trabalhar com a noção de pluri-confessionalidade do sociólogo mexicano Roberto Blancarte; assim como com aquelas de laicidade “de reconhecimento” e de “integração” do cientista político francês Philippe Portier. Com isto, procura-se aproximar teórica e empiricamente de uma compreensão mais ampla e nuançada do nosso sistema público-político na relação com a dimensão religiosa
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