O artigo apresenta um estudo crítico-filológico, a partir da edição semidiplomática e dos comentários paleográficos, da Resolução de 1822, procedente de Cachoeira – Bahia, que registra a necessidade de gestão do controle social da população negra no Brasil, com vistas à repressão dos movimentos de revoltas escravas. Cachoeira foi um dos núcleos urbanos mais importantes do Recôncavo Baiano no século XIX e, portanto, palco de constantes sublevações de escravos. Decerto, os nossos heróis negros deixaram, nos registros jurídicos, vestígios de luta e resistência, visto que representavam um problema de segurança, que demandava vigilância e medidas legais por parte do governo imperial e provincial. Essas medidas legais dialogam com as reivindicações sociais e políticas, por parte daqueles que executavam ações violentas e punitivas, em relação aos frequentes atos de enfrentamento e resistência promovidos pelo povo negro. Nesse viés, a atividade filológica de editar textos sobre as revoltas na Bahia requer uma pesquisa criteriosa e argumentativa. E, portanto, é preciso escavar a memória dos grupos oprimidos e lembrar os corpos dissidentes, descontentes e silenciados pelos contextos de escravatura, propondo a reflexão dessas narrativas a partir da crítica-filológica.filológica.
O artigo apresenta considerações sobre a articulação entre a análise do léxico e a história da escravatura no Brasil, a partir da edição de documentos históricos do século XVIII e XIX, vinculando-se a uma das frentes de pesquisa da Linguística Histórica. Assim, com base em textos de variados tipos documentais, foram selecionadas quatro unidades lexicais, vinculadas à esfera semântica da escravidão, a saber, escravatura, escravo, mulato e pelourinho, considerando a descrição e a análise das suas significações contextuais, lexicográficas e historiográficas, bem como as suas reverberações discursivas. Nesse viés, a pesquisa com o léxico nos remete a um lugar imaterial de fortes matizes históricas e políticas, que se fortalecem pelas memórias de resistências dos escravizados, atualizando e alimentando esse cenário e essas cenas de outras significações sócio-culturais, ideológicas e políticas.
Este texto propõe uma análise teórica e das práticas históricas e socioculturais da escrita, com base no modelo de Tradição Discursiva e na prática filológico-linguística. Serão analisados Requerimentos sobre a Bahia, produzidos no século XVIII, no âmbito da Administração Pública do antigo Conselho Ultramarino. A Filologia promove o resgate e a reconfiguração de dados linguísticos em edições de textos institucionais setecentistas, considerando os modos de produção dos agentes da escrita. Ao se produzir um texto jurídico-administrativo na América Portuguesa, era preciso que o escrevente conhecesse bem o sistema do que nós chamamos hoje de Tradição Discursiva. Em outras palavras, era necessário conhecer os modos de dizer que regem a organização desse tipo de construção textual, marcado por fórmulas obrigatórias e unidades lexicais que se articulam no texto. Portanto, partindo do modelo de Tradições Discursivas, podem ser notadas certas regularidades e variações linguísticas nesse gênero textual. Nesse caminho, a ancoragem teórica deste trabalho fundamenta-se nos estudos do modelo de Tradição Discursiva (COSERIU, 1979; SCHLIBEN-LANGE, 1993; SCHMIDT-RIESE, 2010; KABATEK, 2004; 2006; 2012) e da Filologia (CAMBRAIA, 2005; MARQUILHAS, 2000; GONÇALVES, 2017; 2018; 2019). Por fim, os Requerimentos registram informações e pedidos, com base em atos legais ou de jurisprudência, apresentando-se como instrumentos relevantes na solicitação de petições da população às autoridades públicas.
O artigo apresenta considerações sobre a notabilidade da Filologia na organização de edições de Requerimentos históricos do Conselho Ultramarino, que registram uma complexa rede histórico-cultural e linguística. Nesse viés, a ação transformadora da atividade filológica reverbera lampejos críticos nas descontinuidades dos diversos tempos do texto – tempo de produção, tempo de recepção e tempo de análise – e no reconhecimento das variadas lutas políticas dos nossos semelhantes, lugares de memória e territórios de identidade. No âmbito dessas conceituações e reflexões, a leitura filológica é dinâmica e plural, buscando desvelar no multiverso do texto os seus rastros e as suas significações políticas. Para tanto, será examinado o Requerimento do escravo Francisco da Cruz ao príncipe regente [D. João] que solicita proteção régia contra as injustiças praticadas por seu senhor Antônio da Cruz Veloso.
A Filologia, ao estudar o texto, ocupa-se tanto de sua materialidade como de seu conteúdo, possibilitando diferentes perspectivas de mediação, o que requer, no mais das vezes, a integração de múltiplas áreas do conhecimento, de acordo com as características do objeto em análise, bem como em função dos objetivos delineados. Os estudos de Onomástica desenvolvidos a partir de fontes notariais do passado, por suas características específicas, exigem do filólogo o estabelecimento de um diálogo transdisciplinar que inclui, além da base teórica específica, outras disciplinas que ampliam o conhecimento acerca do contexto sócio-histórico, e linguístico-cultural do documento, visto que, como registros das práticas e cultura de um povo, revelam ações, atividades, valores e aspectos do cotidiano de um determinado grupo. O ato de nomear, conforme define Dick (1998b), é enriquecido por traços sêmicos emblemáticos e simbólicos, expressando representações e interferências culturais que refletem os conhecimentos, interesses e ideologias, em especial aquelas pertencentes aos povos dominadores em cada sociedade. A Bahia colonial exerceu um papel de relevo como capital da América portuguesa até a primeira metade do século XVIII. Cabeça do Estado, detinha
O artigo tem o objetivo apresentar reflexões sobre o ethos discursivo da autoridade institucional do Império e da Província contra as revoltas encabeçadas por escravizados, como enfrentamento das condições aterrorizantes da escravidão. Para tanto, o ethos é analisado a partir do discurso da administração da Bahia no século XIX, considerando-se o texto histórico, com a finalidade de observar como o sujeito enunciador se articula com outros discursos, a partir da relação dialética entre identidade e alteridade. Os discursos oficiais são mediados pelos Oficiais da Secretaria do Governo da Bahia, enunciadores do discurso político do poder institucional, e materializados em Resolução da administração pública. Nesse viés, o ethos discursivo é um olhar sobre a cena. O leitor é convidado a participar do reconhecimento desse estado de vigilância para as revoltas escravas, que eram consideradas um problema de segurança.
The lexicon of violence against women in 18th century historical manuscript Rebeca de Jesus, BOMFIM (UFBA) 1 Pollyana Macêdo de, JESUS (UFBA) 2 Eliana Correia Brandão, GONÇALVES (UFBA) 3 RESUMOO presente artigo apresenta um estudo de unidades lexicais relacionadas à violência contra a mulher, a partir da análise da edição semidiplomática de Requerimento do século XVIII do Arquivo Histórico Ultramarino, relativo à Bahia, que foi catalogado pelo Projeto Resgaste Barão do Rio Branco, em 2019. Com base na fundamentação teórica de Gonçalves (2017; 2020abc), Barbosa (1990;2001), Welker (2004 e Abbade (2006) e a partir do exercício filológico de editar, em articulação com o estudo lexicográfico e lexicológico, foram elencadas e analisadas 15 unidades lexicais nesse documento histórico, considerando-se as definições registradas em três obras lexicográficas, nas suas respectivas versões eletrônicas: Bluteau (1712-1728), Vieira (1871-1874) e Moraes Silva (1813). Ao analisarmos o repertório lexical do referido documento, é possível perceber questões sociais e ideológicas, que nos fazem refletir sobre as práticas culturais e discursivas de violência de gênero na sociedade colonial da América Portuguesa.
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