A partir da apresentação de um projecto de investigação sobre a realidade das crianças que tomam conta de outras crianças nos bairros periféricos da cidade de Maputo, em Moçambique, o artigo pretende levantar algumas questões mais gerais sobre a relação existente entre a investigação científica e as crianças do continente africano. Em primeiro lugar, nota-se que, apesar da faixa etária dos 0 aos 18 anos representar cerca da metade população africana, permanece ainda escasso o número de investigações científicas voltas ao estudo específico da realidade das crianças deste continente. Em segundo lugar, observa-se que, na maioria dos casos, quando as crianças constituem o objecto principal de investigação, se trata de crianças desfavorecidas ou que se encontram em situações excepcionalmente difíceis (crianças de rua, crianças chefes da família, crianças soldados, crianças trabalhadoras, crianças órfãs, ...). São raros os trabalhos que objectivam estudar a realidade das crianças consideradas "normais" dentro de um determinado contexto e ainda mais raros são os estudos que apresentam o ponto de vista das próprias crianças sobre as suas experiências e as suas vivências quotidianas. Em terceiro lugar, discute-se a legitimidade de aplicar o conceito de "infância", assim como foi criado em Ocidente, ao estudo de contextos culturais profundamente diferentes, quais os dos países africanos. Finalmente, a comunicação conclui-se com uma reflexão sobre a possibilidade e as formas de conciliar a universalidade dos Direitos da Criança com as especificidades culturais de um determinado contexto local.
Palavras-chave:Criança; crianças trabalhadoras; infância.
O artigo apresenta os diferentes elementos que configuram o dia a dia das crianças de um bairro periférico da cidade de Maputo, discutindo-os a partir das contribuições da Sociologia da Infância e da Sociologia da Vida Quotidiana. Os dados apresentados permitem compreender e debater as formas como elas podem experimentar situações de exclusão social. Conclui-se que essas crianças vivem nesse contexto devido às suas condições materiais de existência e à relação fortemente hierárquica com os adultos. Contudo, elas conseguem experimentar e viver a inclusão social, sobretudo, dentro do grupo de pares.
A participação de crianças e adolescentes tem sido geralmente entendida como um envolvimento em processos de tomada de decisão e de acção em contextos públicos. A partir de uma pesquisa visual e participativa em três contextos de Moçambique, o presente artigo apresenta as oportunidades e as barreiras para a participação que crianças e adolescentes encontram nos seus contextos de vida quotidiana, a nível individual, nas relações de pares e na família. Os resultados indicam que, apesar dos desafios enfrentados, a expressão individual, as amizades e o contexto familiar representam espaços significativos para exercer a sua agência e participar no sentido de “tomar parte em” e sentir-se incluídos.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.