Através da análise etnográfica da aplicação da tecnologia de medição da pressão arterial nas consultas médicas em um centro médico público na cidade de Salvador, proponho pensar a articulação do processo de objetificação do corpo com o universo da experiência, tanto de médicos quanto de pacientes. Atentarei para a maneira como os atores envolvidos aplicam no encontro clínico conhecimentos provindos do cotidiano e do âmbito da Biomedicina, sinalizando como o controle da Hipertensão é produzido por, e por sua vez produz, corpos que vivenciam o mundo através de matrizes diferenciadoras tais como classe, gênero ou raça. Estes corpos e estas matrizes de significação não podem ser separados, no seu sentido real, material, do seu sentido simbólico e figurado. PALAVRAS-CHAVE: raça, corporificação, tecnologia, hipertensão, etnografia. DOSSIÊO paciente, a pedido do médico, senta na maca. O médico se aproxima, carregando em uma mão o estetoscópio e na outra o esfigmomanômetro. Pendura o estetoscópio no pescoço, enquanto pergunta ao paciente: "Tem tirado a pressão?" O paciente olha para o médico, nega com a cabeça e estende o braço direito, sem o médico pedir. O médico coloca o manguito do esfigmomanômetro no braço estendido do paciente e o insufla, enquanto ajeita o estetoscópio nos ouvidos e no braço do paciente. O paciente começa a falar: "É porque...". O médico, com um gesto com a mão, pede silêncio ao paciente. Ele olha para o braço, enquanto o médico olha para o ponteiro do esfigmomanômetro. O medico esvazia o manguito e anuncia o valor da pressão: "18 por 10". "Doutor, tá boa?" "Tá não, tá é alta! Tem que tomar seu remédio. Já tomou hoje?" (Diário de Campo, 28/07/08) Durante o meu trabalho de campo 1 em uma instituição pública de saúde que cuida de pacientes com hipertensão em Salvador, presenciaria encontros parecidos com o descrito acima em todas as consultas médicas. A medição da pressão arterial, junto com os dados do histórico do paciente contidos no prontuário, é o que designa os pacientes, na visão clínica, como hipertensos ou normotensos, controlados ou não. Já na classificação cotidiana e informal dos médicos, eles são marcados como aderentes (ao tratamento) ou rebeldes, difíceis de tratar ou, retrospectivamente, da raça negra. Por outro lado, a medição da pressão, como explicarei neste artigo, se faz também presente na experiência dos pacientes de serem hipertensos, porém não necessariamente compartilhando a centralidade que tem no encontro clíni-co. A análise poderia se deter nesse processo de transformação, durante a aplicação da medição da pressão arterial, do corpo como objeto a ser medido, classificado, monitorado e controlado (Souza, 2005), e do lugar dessa objetificação na experiên-cia relatada de viver com hipertensão (Peres et al., 2003;Machado;Car, 2007). No entanto, gostaria de ampliar as possibilidades de análise do lugar que a medição de pressão arterial tem para pensar a articulação desse processo de objetificação do cor-
This article focuses on how whiteness, in the process of being (re)enacted in its different everyday versions, becomes invisibilised at certain moments while reappearing at others as overly present. The article borrows Widmer's metaphor of race as two types of ‘watermarks’, that of a banknote that stands in to confirm authenticity when needed, and that of the marks left by glasses on a wooden surface. The idea is to consider the experiences of early 20th‐century Galician immigrants in the city of Salvador, Brazil. I argue that understanding this process of (in)visibility helps us comprehend some of the ways in which these immigrants were involved in both confirming and challenging local versions of what it means to be white. This analytical approach allows us to go beyond a homogenised, monolithic and ahistorical portrayal of whiteness, towards a more nuanced one that takes into account the heterogeneous combination of historical and contemporary, global and regional, hegemonic and alternative versions of whiteness.
Debates surrounding race in Brazil have become increasingly fraught in recent years as the once hegemonic concept of racial democracy (democracia racial) continues to be subject to an ever more agnostic scrutiny. Parallel to these debates, and yet ultimately inseparable from them, is the question of what it is to be "white." In this interdisciplinary paper, we argue that whiteness has become increasingly established in Brazilian public discourse as a naturalized category. Seeking a fresh perspective on what we perceive to have become a sterile debate, we examine Machado de Assis and his work to illustrate how assumptions surrounding his short story "Pai contra mãe," and indeed comments on the author's very body, reveal the extent to which whiteness has come to be seen as nonnegotiable and fi xed. Placing a close reading of Machado's text at the heart of the article, we explain its implications for the scholarly debates now unfolding in Brazil concerning the construction of whiteness. The article then develops an anthropological reading of whiteness by pointing to the inherent differences between perspectives of race as a process and perspectives of race as a fi xed and naturalized given.
Hemoglobinas variantes na área médica e no discurso cotidiano: um olhar sobre raça, nação e genética no Brasil contemporâneo 12 Variant haemoglobins in medical and everyday discourses: race, nation and genetics in contemporary Brazil 1 A autora agradece o apoio do CNPq pelo financiamento da pesquisa. ResumoEste artigo analisa a relação entre discursos mé-dicos e noções cotidianas sobre raça, população e nação. Para isso, tomo como estudo de caso a comparação entre o uso dessas categorias na produção de artigos acadêmicos de dois renomados hematologistas brasileiros sobre a presença de hemoglobinas variantes patológicas no Brasil e a compreensão que famílias de pacientes diagnosticados com doença falciforme têm dessas mesmas questões. A comparação permite mostrar não só como os discursos da medicina influenciam o modo como questões relacionadas a raça e hereditariedade são compreendidas pelo público mais amplo, mas também a impossibilidade de separar em ambos casos, tanto na produção médica quanto nas falas dos pacientes, as noções sobre raça e hereditariedade de ideias mais amplas sobre o passado e o futuro da nação. Palavras-chave: Hemoglobinopatias; Conhecimento Cotidiano; Raça; Genética; Nação. Correspondência AbstractThis article analyses the relationship between medical discourses and everyday notions of race, population and nation, using as case study the comparison between the use of these categories in medical articles of two renowned Brazilian haematologists on the presence of pathological variant haemoglobins in Brazil and the understanding of families of patients diagnosed with sickle-cell anaemia on the same questions. Through this comparison it is possible to see not only how medical discourses influence everyday notions of race and heredity, but also how in both cases these notions are inextricable from wider ideas about the past and future of the Brazilian nation.
Resumo O artigo discute a relação entre a aplicação de tecnologias médicas de baixa complexidade e as diversas noções de “cuidado” envolvidas no processo de detecção neonatal da doença falciforme. São analisadas quatro histórias sobre pacientes e suas famílias da cidade de Salvador, Bahia, coletadas durante trabalho de campo etnográfico, escolhidas por condensar vários aspectos sobre a experiência daqueles que convivem com essa doença. Nessas histórias é desvendada a presença de diversos aspectos do que Mol chamou de “lógica do cuidado”, mostrando como a aplicação da tecnologia diagnóstica insere-se em fluxos de “vida” que invocam outros âmbitos da experiência com a biomedicina, relações de família e comunidade.
Resumo: Esse artigo analisa o uso de noções de "cultura negra", "raça" e "ancestralidade" nos programas relacionados à política pública denominada de "Saúde da População Negra" na cidade de Salvador, Bahia. Implementadas a partir de meados da década de 2000, essas políticas têm como fundamentação e objetivo a redução de iniquidades raciais, estatisticamente aferidas, em indicadores de saúde e acesso aos serviços de atenção à saúde, com ações como a difusão de conhecimento sobre doenças tidas como características da "população negra", o treinamento e qualificação de profissionais da área da saúde no conhecimento e protocolos de atenção a essas doenças, e a realização de feiras de promoção à saúde. Para mostrar os elos, tanto explícitos quanto implícitos, presentes nessas políticas entre o "corpo negro", "cultura negra" e noções históricas mais amplas sobre a natureza "miscigenada" da população brasileira, analiso etnograficamente duas ações: uma feira de saúde realizada num tradicional terreiro da cidade, e a difusão de material informativo sobre a doença falciforme entre familiares de pessoas recém diagnosticadas. Argumento existir uma certa ambiguidade e polissemia no desenho, implementação e recepção dessas políticas públicas, estando em constante diálogo tanto com noções mais amplas quanto mais restritas do que seria a "negritude". Palavras-Chave: Raça, Ancestralidade, Cultura negra, Políticas públicas, Saú-de.Abstract: This article analyses the use of concepts such as "Black culture", "race" and "ancestry" in the running of "Black Population Health" public policy programmes in the city of Salvador, Bahia. Implemented since the mid 2000s, these programmes, whose reasons for existing as well as aim is to reduce inequalities in health indicators and access to public healthcare, have developed actions such as the advertising of diseases presented as related to the "Black population", training healthcare professionals in the protocols of care for these conditions, as well as organizing health promotion fairs. In order to show the links, be they explicit or implicit, deployed in theses programmes between the notions of the "black body", "black culture" and wider historical notions about the mixed nature of Brazilian population, I analyse ethnographically two events related to these programmes: a health fair organised in one of the oldest afro-Brazilian religion communities (terreiro de candomblé), and the impact of an educational campaign for increasing general population's knowledge on sickle-cell disease on families recently diag-1 Professor Adjunto da UFBA. Endereço eletrônico: elenasemaga@gmail.com.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.