Moçambique é uma ex-colónia portuguesa. A colonização portuguesa ficou tristemente célebre pelo seu caracter assimilacionista, quer dizer, procurou converter os moçambicanos em pretensos cidadãos portugueses, sendo que a escola formal jogou um papel central neste desiderato. Portanto, foi uma escola profundamente permeada pelo racismo e as consequências sociais na quebra de autoestima dos moçambicanos foi significativa. Actualmente Moçambique é um país independente. Os nacionalistas moçambicanos que levaram a cabo a luta anticolonial fizeram do combate ao racismo uma das suas principais bandeiras. O interesse deste artigo é argumentar em torno da ideia de que com a Independência, a escola moçambicana não foi transformada na sua ideologia racista nomeadamente da inferioridade do negro, sem cultura e sem história. Mais concretamente, se procurará compreender, com recurso a contribuição teórica de Fanoz, Freire e pensadores libertários africanos Biko (1990), Mondlane (1995) o processo de transformação da escola branca europeia para uma escola indígena africana tomando a categoria de raça como uma criação histórica e não propriamente uma essência biológica. Será examinada a Lei 4/83 que foi a lei que criou o primeiro sistema nacional de educação de Moçambique. Merecerão revisão bibliográfica autores moçambicanos que, de certo modo preocuparam-se com o tema a partir de outros conceitos (CASTIANO; NGOENHA; BERTHOUD, 2005; MAZULA, 1995), enquanto nós nos perguntaremos, a partir da perspectiva de raça, se a escola moçambicana é multicultural, um lugar de desconstrução da ideologia racista e, dessa forma, de produção de um cidadão orgulhoso da sua identidade negra.
RESUMOEm Moçambique, aparentemente, há uma crise educacional manifestada pela existência de uma escola formal irrelevante. A análise desenvolvida, suportada na sociologia de educação de Durkheim, parece mostrar que efetivamente a educação tornou-se irrelevante com o advento da colonização, que instituiu uma escola para a domesticação dos africanos e, mais tarde, com a independência nacional, a escola não superou esse autoritarismo, continuou a impor valores, igualmente exógenos. Finalmente, com a chegada do neoliberalismo, a escola moçambicana, bastante focada na dimensão econômica do saber, não é um espaço da celebração da enorme diversidade cultural que caracteriza o país.Palavras-Chave: Moçambique, educação, irrelevância educacional, diversidade cultural. IntroduçãoEm Moçambique a educação escolar é em geral percebida como estando em crise, sendo que um dos aspetos que contribuem para ela é a existência de uma escola "estrangeira", quer dizer, que não reflete a realidade sociocultural das comunidades em que está inserida. Neste sentido, Dias (2010) explica que uma das causas do fracasso escolar e da baixa qualidade e eficiência em educação é a dissociação que existe entre a cultura escolar e a cultura social. Na verdade, afiança a estudiosa, as escolas em Moçambique ainda não conseguem ser espaços de construção e sistematização do conhecimento que tenham em consideração diferentes dimensões
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