Este texto versa sobre a supervisão enquanto dispositivo, ao apresentar o quadro teórico-conceitual que norteou a atuação e sua metodologia. Ao se debruçar sobre três campos de estágio, explicita o desafio de promover não apenas a saúde do trabalhador de saúde, mas, também, construir uma práxis questionadora da relação universidade-sociedade e formação. A partir da narrativa docente do estágio profissional em Psicologia do Trabalho, dimensiona-se como se constituiu a pesquisa-intervenção em bases interdisciplinares capazes de deslocar o saber centrado no expert para tencionar ações de coletivos transformadores, que, mediante a aproximação e o diálogo, oportunizassem o forjar de solidariedades e cooperação. Elementos profícuos para a ressignificação dessas esferas foram: a construção do diagnóstico institucional vinculado à demanda e o dispositivo supervisão, capaz de produzir narrativas originais para construir experiências de protagonização -correspondentes aos princípios da Política de Humanização.
Neste texto, recorremos aos campos discursivos que possibilitam vislumbrar quem é o sujeito e seu entorno, sendo contribuintes dessa discussão os pressupostos da Saúde Coletiva e a Psicossociologia, para debater o complexo cenário do trabalho contemporâneo. Com o intuito de desvendar os modos de ser-trabalhar-existir, que conjugam o socius e a subjetividade, propomos a narrativa como dispositivo capaz de evidenciar a complexidade deste fenômeno. Essas referências teórico-conceituais permitem ao pesquisador, profissionais de saúde e diferentes atores sociais identificar o que no trabalho atenta contra o corpo, como também o que afeta a subjetividade, logo, que modos de existência são forjados no campo singular e social. Nesta perspectiva, temos como desafio (re)conhecer a trabalhadora e o trabalhador como sujeitos de saberes que, ao assumirem sua voz e protagonismo, podem conferir meios para transformação laboral e social.Palavras-chave: Trabalho, Narrativa, Psicossociologia, Saúde coletiva.Narrate to know the ways of being-work-exist: the (difficult) scenario of contemporary workIn this paper, we used the discursive fields that allows to glimpse who is the individual and its media, focusing the discussion from the Collective Health and Psychosociology assumptions, to discuss the complex scenario of the contemporary laboring. In order to unravel the ways of being-work-exist, which combine socius and subjectivity, we propose the narrative as a device capable of highlighting the complexity of this phenomenon. These theoreticalconceptual bases allow the researcher, health professionals and different social actors to identify what on the laboring act against the body, as well as what affects the subjectivity. Thus which form of existence are forced in the singular and social field. In this perspective, we have as a challenge recognizing the workers women and men as knowledge individuals, that by assuming their voice and protagonism can provide means for labor and social transformations.Keywords: Work, Narrative, Psychosociology, Collective health. Palavras iniciaisComeçava a ser cada vez mais difícil distinguir o passado do presente: o que tinha sido estava sendo, e estava sendo a minha volta, e escrever era minha maneira de bater e abraçar [...] que estou escrevendo, pelo avesso e pelo direito, na luz ou na contra luz, olhando do jeito que for, surgem a primeira vista minhas raivas e meus amores [...] E assim que deve ser. Os que fazem da objetividade uma religião, mentem. Eles não querem ser objetivos, mentira: querem ser objetos, para salvarse da dor humana.( Galeano, 2002)
Entram em cena estudos sobre o tema cumprindo não somente uma postura científica que expressa rigor acadêmico, mas também social e ético-político ao reverberar as vozes das pessoas atingidas por barragens e daqueles mobilizados para lidar com seus efeitos devastadores. São populações ribeirinhas, comunidades e trabalhadores que tiveram sua atividade usurpada ou cessada pelas novas condições de existência, trabalhadores que sofreram com acidente de trabalho ampliado, trabalhadores acionados para atuar com desastres efetivados e aqueles que atuam na ponta, dia a dia, nos equipamentos socioassistenciais para lidar com as mazelas de quem sofre/sofreu o processo de expulsão de seus modos de vida. Percebemos, nesse cenário que as diferentes barragens e etapas de sua concepção resguardam similaridades com a vivência da catástrofe acerca de seus desdobramentos que acometem histórias de crianças, jovens, adultos e velhos que se imiscuem à lama, poeira e concreto. Nesse percurso, as resistências e enfrentamentos junto aos movimentos sociais, organizações de base, lideranças locais e distintos coletivos são fundamentais para confrontar o desamparo e a morte – seja de si, seja da memória.
Aos barrageiros e seus familiares ao ensinarem que hidrelétricas não se constroem apenas com pedra, areia, cimento e vergalhão, tampouco somente com água, comportas e turbinas, mas também com afetos, ganhos e perdas vividas por aqueles que experimentaram a (i)mobilidade e os (des)encontros trabalho-família. AGRADECIMENTOSSou grata a todos que fizeram parte do meu horizonte e que me permitiram fazer parte do seu na construção deste livro e no estudo desta temática. Com cada um de vocês pude estender e aprofundar minha apreciação do mundo, ansiando não apenas por compreendê--lo, mas por fazer da compreensão uma possibilidade de mudança. Descobri a potência da fusão de horizontes ao vivenciar encontros genuínos de abertura e acolhimento junto ao outro e as suas diferenças.Aos meus familiares. Com vocês, além de eu poder viver diversos arranjos afetivos e relacionais, experimentei o compartilhar do amor, da memória, da história, do pertencer caloroso e afável. Construí face a face parte significativa do meu horizonte e da narrativa de vida. Junto a vocês, experimentei os (des)encontros trabalho-família buscando de modo incessante e aventureiro recriar a existência.Aos amigos. Companheiros de (des)venturas transbordantes de afetos. Rimos e choramos. Confidenciamos. Alardeamos. Festamos. Estudamos. Trabalhamos. Descansamos. Porém jamais deixamos de sonhar! Agradeço à Cristina Amélia, interlocutora fundamental nesse percurso. Orientadora, docente e pessoa que, com suas potentes narrativas, convidou-me de modo generoso a ouvir outras vozes (DES)ENCONTROS TRABALHO-FAMÍLIA 19 identificavam, sendo capaz a um só tempo de me situarem e nomearem! Dei-me conta de que podia falar de muitas cidades, pessoas, costumes, sotaques, árvores, comidas, bebidas e tradições das mais diversas possíveis. Era capaz de localizar pessoas e espaços em um recorte de tempo suficiente para torná-los parte significativa da minha vida, seja ela rememorada ou com quem convivi. Nas palavras do poeta, seria: "mas o que perdeu de exato de outra forma recupera: que hoje qualquer coisa de um traz da outra sua atmosfera" (Melo Neto, 2009, p.111).Das pessoas às paisagens, aprendi o que é estar em terra estranha sem deixar de criar um pertencimento, mesmo que passageiro. Isso me fez sentir cedo que partir dói, perder é falta e que com o vazio a gente convive. Sendo assim, tornei-me uma "cartógrafa" amadora, sem temer o movimento, mas apreciando o que ele dava e me tirava. Só sabe disso quem estiver andando, pois, diante do não saber da possibilidade de um retorno, aprende-se a apreciar a paisagem e os encontros, de modo único.E, por gostar de histórias e fazer delas objeto de pesquisa, foi intenso ouvir as narrações e registrá-las. Enquanto estive com esses narradores, que a mim confiaram suas vidas, pude perceber a história do Brasil se desenrolando e tomando corpo por meio de suas singularidades. Dei-me conta de que as usinas hidrelétricas não foram construídas apenas por mãos de homens, mas indiretamente por mulheres, crianças, relações de vizinhança, ga...
Na conjuntura brasileira está avançando uma agenda político-econômica pautada pelo receituário da austeridade fiscal que se contrapõe com os princípios do estado de bem-estar social. Os efeitos dessas mudanças, no horizonte do avanço neoliberal, ampliam as faces da precarização social e do trabalho ao restringir políticas públicas protetivas, amparadas no texto constitucional da seguridade social. Dessa forma, nosso objetivo se constitui em compreender, a partir dos pressupostos do trabalho decente e da saúde do trabalhador, o processo de precarização do trabalho e a vulnerabilização do/a trabalhador/a na conjuntura de austeridade política e econômica atual. Para dimensionar esse cenário, partimos de uma análise da conjuntura geral até chegar ao Programa de Reabilitação Profissional da Previdência Social. O percurso teórico-metodológico assentou-se em um estudo teórico-bibliográfico, de epistemologia qualitativa, por meio do levantamento de materiais como obras de referências, legislações nacionais vigentes, políticas públicas e orientações de órgãos internacionais. A interpretação das informações centrou-se em três eixos: o campo da saúde coletiva e saúde do trabalhador; o campo do trabalho decente; e o campo da seguridade social com destaque para a reabilitação profissional. Este debate propiciou identificar o processo de vulnerabilização dos/as trabalhadores/as brasileiros/as, a fragilização da cidadania, a depredação do sentido social do trabalho, a destituição de direitos sociais conquistados e os paradoxos vividos em serviços públicos no desmonte da seguridade social.
A geração de energia hidrelétrica foi priorizada historicamente no Brasil, de modo que no final dos anos 1970, com um grande número de usinas sendo construídas e em um contexto de abertura política e de mobilização da sociedade civil, grupos de atingidos começaram a se organizar em movimentos sociais que questionavam as práticas de empresas, consórcios e governos. De lá para cá, alguns desses movimentos se consolidaram e permanecem atuando de forma sistemática no país, em configurações regionais ou em movimentos localizados e restritos a implantação de um único projeto.Nesse contexto, este trabalho aborda uma dimensão observada em duas pesquisas que trataram da organização dos atingidos por barragens durante o processo de implantação de hidrelétricas no Brasil 2 e 1 O presente estudo foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001 e da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná (FA). 2 MATIELLO, C. A organização de movimentos sociais nas trajetórias sociotécnicas de implantação de
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