Este artigo tem como tema central a questão do desejo romântico pela natureza como resposta a conflitos políticos contemporâneos. Tomando alguns exemplos da década de 1920 no Brasil, discuto a maneira como Macunaíma, de Mário de Andrade, constituiu-se como projeção de um espaço natural prévio a toda historicidade. Em contraste, apresento o ambiente extremamente conflituoso em que Koch-Grünberg coletou relatos indígenas sobre Makunaima. A natureza estetizada inventada pelo romantismo teve como efeito o encobrimento da violência constitutiva daquilo que ainda hoje se entende como a realidade nacional.
Por que alguém dedicaria uma vida intelectual ao estudo da obra de Oliveira Vianna?Esta pergunta pode vir à mente de quem encontrar o livro de Maria Stella Bresciani. A professora do Departamento de História da Unicamp, autora de importantes artigos e livros nas áreas de história contemporânea, história das cidades e história política, apresenta em seu novo trabalho o resultado de anos de pesquisas em torno da obra do citado autor. A historiadora dividiu seu trabalho em duas partes: a primeira dedicada aos lugares-comuns compartilhados entre o autor e outros "intérpretes do Brasil", como Sérgio Buarque de Hollanda, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro, e a segunda voltada à análise do diagnóstico dos supostos males nacionais apresentados na obra do autor de A Evolução do Povo Brasileiro.Para responder à questão inicial desta resenha, que diz respeito à abrangência historiográfica de um livro sobre um autor específico, muitas vezes simplesmente esquecido, é preciso se levar em conta o sentido político do próprio esquecimento no Brasil contemporâneo. Trata-se de uma estratégia política e intelectual recorrente, e até certo ponto eficaz, de ocultamento de práticas e discursos autoritários. Assim, por exemplo, a atual fase democrática do País parece, hoje, ter sido desde sempre anseio quase unânime da sociedade,
Resumo Hoje esquecida, a obra de Keyserling teve grande sucesso nas décadas de 1920 e 1930, com êxito editorial e repercussão entre intelectuais ao redor do mundo. No Brasil, visitado pelo conde em 1929, Keyserling foi citado em textos de Oswald e Mário de Andrade, comentários de Alceu Amoroso Lima e Lindolfo Collor, entre outros. Mário de Andrade chegou a dizer que a obra de Keyserling era a chave para a interpretação de Macunaíma. O tema de sua obra era a decadência ocidental frente à pluralidade dos tempos históricos nas civilizações do mundo. O oriente lento, o progresso europeu e o primitivismo americano formariam uma harmonia mundial das temporalidades. Neste artigo nos deteremos nas reflexões de Keyserling e seus interlocutores, tendo em vista a questão dos mal-entendidos subjacentes a um projeto de paz mundial, baseado numa interpretação exotizante acerca das diferenças culturais, especialmente as relacionadas a uma suposta identidade sul-americana.Palavras-chave historicidade, americanismo, Keyserling
Esse artigo se divide em quatro partes. Na primeira, discutimos alguns usos de termos derivados do campo semântico da loucura quando o assunto é a ditadura civil-militar de 1964. Isso tanto no sentido do teor paranoico do poder ditatorial, quanto no dos efeitos traumatizantes que ele gerou em suas vítimas. Na segunda, estudamos o funcionamento da suspeita generalizada. Na terceira, desenhamos um perfil do aparato repressivo ditatorial, do ponto de vista da paranoia. Por fim, comentamos como Renato Pompeu escreveu um romance fundamental, no qual a ditadura foi vista, por assim dizer, de dentro de um hospício. O objetivo dessa discussão é ampliar o leque de possibilidades de análises das linguagens políticas, no que se refere à ditadura.
RESUMO Recentemente, o acervo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal relativo à ditadura militar foi aberto ao público. Um dossiê sobre o “badernaço” (tumulto acontecido depois da manifestação contra o Plano Cruzado II) é parte desse acervo. Trata-se da documentação da comissão de sindicância instaurada para apurar denúncias de que o “badernaço” ocorrera com conivência ou cooperação de setores do Governo, como a Secretaria de Segurança Pública ou a chamada “comunidade de informações”. Este artigo faz uma análise desse dossiê, a partir dos temas da “transição democrática” e das sobrevivências da ditadura militar (aqui entendidas, conceitualmente, nos termos do fantasmagórico, espectral).
ResumoNeste artigo são apresentadas uma narrativa historiográfica centrada num dia em particular, 11 de dezembro de 1972, e uma breve discussão teórica sobre as relações entre poética, tempo e história. A escolha desse dia se deu a partir da leitura de uma carta escrita por Honestino Guimarães, presidente da UNE na clandestinidade e desaparecido político, a seus familiares. A opção pelo conceito de anamorfose para a categorização deste relato, no lugar de simplesmente "história", deveu-se à percepção de que a estratégia narrativa necessitava de melhor explicitação conceitual. São dois os objetivos principais deste trabalho: em primeiro lugar, apresentar uma experiência de narrativa historiográfica ao leitor, na procura de uma nova perspectiva para se pensar a história contemporânea, em particular a história da ditadura militar no Brasil; em segundo lugar, elaborar algumas questões teóricas a partir dessa experiência, tendo em vista não apenas a experiência em si, mas também suas relações com a escrita da história. Palavras-chavePoética; Tempo; Historiografia brasileira. AbstractThis article presents a historical narrative of a specific day, December 11 th , 1972 and a brief theoretical discussion about the relations between poetics, time and history. The date was selected based on the study of a letter written by Honestino Guimarães, then underground president of Brazil's National Students Union (UNE), who suffered forced disappearance during the military dictatorship, to his family. The anamorphosis-concept was chosen for this account due to the perception that the narrative strategy needed a better conceptual approach. This work has two main goals: first, to present an experimental historical narrative to the reader, searching for a new way of thinking about contemporary history, more specifically the history of Brazil's military dictatorship; second, to elaborate some theoretical questions around this experience, bearing in mind not only the experience itself, but also its relations with history writing.
Resumo Este artigo é dividido em duas partes. Na primeira, são comentados três poetas (Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Murilo Mendes) que, na primeira metade do século XX, tematizaram as experiências históricas das guerras, da ascensão dos fascismos e das heranças coloniais em poemas em que a voz lírica se coloca à beira-mar. Na segunda parte, tomaremos o Navio Manaus como objeto de reflexão, sobretudo o uso de seu porão como prisão, tal como relatado em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. Aqui, novamente, temos uma experiência histórica contemporânea tematizada por meio de conexões entre história, poesia e imaginário, no que se refere ao espaço oceânico, o qual adquire assim um estatuto de alegoria histórica. Nessa alegoria temos a figuração do emigrante sem porto de chegada, sem lar, aqueles que, segundo Hannah Arendt, perderam o direito de ter direitos. As duas partes do artigo confluem para uma reflexão sobre os frágeis, mas necessários, poderes da narração frente a experiências extremas e traumáticas, em contraste com o esquecimento inocente num mundo sem inocência.
Resumo:Este artigo tem como ponto de partida a crítica a uma temática recorrente na história da cultura da Primeira República: a da elite intelectual alienada, superficial. Esta imagem teve como um dos pressupostos o contraponto com o conceito de "modernismo", primeiramente em intelectuais como Tristão de Athayde e Rosário Fusco, elaborado a partir da crença na retomada da consciência sobre a realidade nacional. O paralelismo deste discurso com argumentos elaborados para dar legitimidade revolucionária ao golpe de 1930, no entanto, revela que os termos elaborados à primeira vista para a criação de um projeto cultural eram simultaneamente expressão de anseios políticos.Palavras-chave: modernismo; realismo; política. Os embaraços da contextualização históricaEste artigo parte da perplexidade diante de um tema recorrente em trabalhos sobre a Primeira República. Tema entendido aqui não como assunto, e nem mesmo como perspectiva teórica, mas sim tessitura narrativa criada por conceitos e imagens.Trata-se aqui, sobretudo no campo da história cultural, da idéia recorrente de que escritores, artistas, engenheiros e mesmo líderes políticos viviam naquela época sob o signo da alienação, num mundo de superficialidade e futilidade. A relação desta memória com a construção da imagem do golpe de 1930 como revolução modernizadora do Brasil já foi suficientemente discutida pelos trabalhos de Edgar DeDecca e Carlos Alberto Vesentini. 1 Seus fundamentos intelectuais e políticos mais abrangentes foram minuciosamente analisados em trabalho recentemente publicado por Maria Stella Bresciani. 2 Mas diante disso o que se destaca é uma bibliografia pautada pela recorrência do tema referido.Imagens de alienação ou leviandade na vida cultural da Primeira República estão presentes em trabalhos tão diversos como os de Marcia Camargos, Antônio Arnoni Prado, Jeffrey Neddell, em textos dedicados à obra de João do Rio, e já estava bem delineada nos estudos clássicos de Antônio Cândido e Brito Broca. 3 Mas também estão
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