Tendo como ponto de partida os hábitos alimentares regionais e os contextos em que tais alimentos são produzidos e consumidos, busca-se neste texto problematizar a abordagem teórica dos sítios simbólicos de pertencimento, ainda de pouca circulação no Brasil. A partir de dados empíricos relacionados aos hábitos alimentares e das festividades organizadas em torno do consumo de alimentos originários do saber-fazer dos agricultores, analisa-se a presença na região oeste de Santa Catarina de dois Sítios Simbólicos de Pertencimento. Um deles formado pelos descendentes de imigrantes europeus (italianos, alemães e poloneses). O outro pelos caboclos, população pré-existente à chegada dos colonos. Os caboclos foram excluídos de suas terras para dar lugar àqueles. Estabelecem-se comparações entre a noção de Sítio com outras noções, em especial com a de habitus de Bourdieu e a de economia substantiva de Karl Polanyi. Dentre as conclusões sublinha-se que a noção de sítios simbólicos de pertencimento oferece recursos ao estudar o homo situs como animal territorial. No caso analisado, tem-se um território partilhado com duas territorialidades, marcadas por processos históricos distintos, a inclusão pela colonização, para um grupo e a exclusão para outro grupo. A escolha do idioma da comida como fio condutor permitiu traçar o homo situs apontando as peculiaridades, a processualidade e os desdobramentos dos entrecruzamentos das histórias.
A produção de alimentos para o autoconsumo no Brasil até recentemente era associada ao atraso e a agricultura de subsistência, que tenderia a desaparecer. Entretanto, questões relacionadas às transformações no sistema agroalimentar e à emergência de críticas da excessiva industrialização da agricultura e de suas consequências sociais e ambientais dão novo significado ao tema, que passa a ser objeto de pesquisas. Assim, este artigo faz uma caracterização da produção de alimentos para o autoconsumo na região oeste de Santa Catarina, levantando tipos e quantidades dessa produção e identificando as razões pelas quais agricultores deixaram de produzir alguns produtos, além de verificar a importância econômica da produção para o autoconsumo. Trata-se de pesquisa de caráter quantitativo abrangendo 112 municípios, com a aplicação de 381 questionários junto a agricultores familiares da região oeste de Santa Catarina. Como resultado, observou-se que a produção para o autoconsumo está presente em todas as propriedades, mesmo naquelas produtoras de matérias primas para as grandes empresas agroalimentares. Esta produção caracteriza-se pela sua diversificação e contribui decisivamente para a segurança alimentar e nutricional dos agricultores da região. Também se observou diferenças na distribuição espacial relacionadas a quantidade e a variedade do que é produzido para o consumo da família, e levantou-se as principais causas que levaram os agricultores a deixar de produzir alguns produtos. Observou-se também a importância econômica da produção para o autoconsumo, isso porque os entrevistados relataram economizar boa parte de renda mensal, não necessitando adquirir no mercado os alimentos produzidos na unidade agrícola familiar.
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