Socio-environmental impacts of palm oil plantations on traditional communities in the paraense Amazon Les impacts socio environmentaux de la cultivation d'huile de palme en communautés traditionnelles dans l'Amazonie à l'état du ParáJoão Santos Nahum ii Cleison Bastos dos Santos iii Universidade Federal do Pará -Brasil RESUMO Analisamos os impactos socioambientais da dendeicultura em comunidades tradicionais na Amazônia paraense. A chegada da dendeicultura de energia na microrregião de Tomé-Açu, no nordeste paraense, é um evento, pois reorganiza a paisagem, a configuração territorial, a dinâmica social, enfim o espaço geográfico ou território usado. Do ponto de vista técnico, as vantagens econômicas e produtivas do dendê comparadas as outras palmas e oleaginosas, são imbatíveis. No entanto, faz-se necessário perguntar sobre os impactos socioambientais que a expansão desta monocultura sobre a paisagem, a configuração territorial, a dinâmica social, enfim as alterações no modo de vida do lugar onde a agroindústria do dendê, pois mesmo sendo economicamente rentável, a dendeicultura até aqui ainda não se mostra social e ambientalmente sustentável e sustentada.
Analisamos a expansão da dendeicultura na microrregião de Tomé-Açu, na Amazônia paraense. Em que transformações da paisagem, da configuração espacial, da dinâmica social, enfim, do território, podemos identificar esse boom? Partimos do território usado, o que nos permite considerar a dendeicultura um evento e afirmar que estamos diante de um boom do dendê materializado por territórios-rede do dendê. Baseamo-nos em entrevistas, coleta de dados, mapas e trabalho de campo levantados desde 2008 nos municípios de Moju, Acará, Tailândia, Tomé-Açu e Concórdia do Pará, lugares onde a monocultura da palma africana se expande e exige um olhar geográfico, atento aos usos e abusos do território.
A formação da paisagem da Microrregião de Tomé-Açu (MRGTA) caminha pari passu com a reorganização e a configuração espacial desse território, agrupando intencionalidades sociais, que introduzem nos lugares onde aportam novas temporalidades e espacialidades segundo as lógicas dos mercados mundiais. As estradas, a exploração agropecuária e a expansão urbana são algumas das perturbações significativas nas Unidades de Paisagens (UPs) rurais dessa microrregião. O desafio deste trabalho foi ler e interpretar os Mosaicos de Unidades Homogêneas (MUH) através do sistema hierarquizado tripolar bertrandiano GTP (Geossistema-Território-Paisagem), das unidades superiores e inferiores, destacando a complexidade da paisagem rural. Utilizou-se de bases secundárias oriundas de instituições do Governo Federal para representação cartográfica das MUH. Posteriormente, organizou-se um Banco de Dados Geográficos através do Sistema de Informação Geográfica (SIG) QGis 2.18. Com os resultados, evidencia-se que alguns MUH se encontram bem diferentes dos tempos passados, representando uma pluralidade de formas e estruturas de ocupações, principalmente quanto à reprodução do capital, viabilizado e difundido pela ação estatal/empresarial, em especial da paisagem monótona da monocultura do dendê, que tem um arranjo único que causa impacto sociocultural no conjunto geográfico estudado. Do ponto de vista bertrandiano, revela-se que a paisagem da MRGTA possui um conjunto de formas heterogêneas (naturais e artificiais) que possibilitam interpretações particulares de vários tempos, escritos uns sobre os outros, e com idades e heranças de diferentes momentos. Por fim, constata-se que a paisagem da MRGTA possui uma complexidade, e a metodologia aplicada possibilitou ler as marcas e matrizes na paisagem, deixadas no tempo e no espaço dessa microrregião do agronegócio Rural landscape of Tomé-Açu micro region under georges bertrand's perspective A B S T R A C TThe formation of the Tomé-Açu Micro region Landscape (MRGTA), Northern Brazil, goes hand in hand with the reorganization and spatial configuration of this territory, encompassing social intentionalities that introduce new temporalities and spatialities according to the logic of global markets. Roads, agricultural exploitation and urban sprawl are some of the significant disorders for the rural landscape units (UPs) in this micro region. The challenge of this research was to read and interpret the Mosaics of Homogeneous Units (MUH) through Georges Bertrand's tripolar hierarchical system GTP (Geosystem-Territory-Landscape), of upper and lower units, which highlights the complexity of the rural landscape. This research used secondary bases from Federal Government institutions for cartographic representation of the Mosaics of Homogeneous Units. Then, a Geographic Database was organized through the Geographic Information System (GIS) QGis 2.18. The results of the research indicate that some MUH are quite different from the past, representing a plurality of forms and structures of occupancies, especially regarding the reproduction of capital, made possible and disseminated by state and business actions, especially the monotonous landscape of palm oil monoculture, which has a unique conformation that causes sociocultural impact on the studied geographical object. From Bertrand's point of view, it is observed that the landscape of MRGTA has a set of heterogeneous forms (natural and artificial) that enable particular interpretations from different times, written about each other, and with ages and inheritances of different times. Finally, it is understood that the MRGTA landscape has a complexity, and the applied methodology made it possible to read the marks and matrices in the landscape, left in time and space of this agribusiness micro region.Keywords: bertrand, gtp (geosystem-territory-landscape), rural landscape
The formation of palm oil cultivation in Para's Amazon has as guide the state action. Emphasizing that the state makes possible the arrival of palm oil, encourages business creation through programs, projects and policies. The process of reconstituting milestones on origin, consolidation and expansion, which goes from the 1950s to the second decade of the 21st century, was based on the vast literature review on the topic, data collection about palm oil cultivation, palm oil production, emergence, merger, business extinction and the situation of family farming integration projects. Th first part of the text focus on the arrival of oil palm in the Amazon, next, has highlight the creation of palm oil companies and finally analyze palm oil policies. This explains the distribution of the crop predominantly by the Tomé-açu microregion and the current period marked by the projects of integration of rural farmers into the palm oil agribusiness chain, through the discourse of rural territorial development with social inclusion, and job and income generation.
Interpretamos geograficamente a dendeicultura na Amazônia paraense. Diferentemente das perspectivas que focam sua rentabilidade, partimos do território usado no sentido de aprofundar o debate. Concebemos essa atividade como evento que assinala um novo tempo na dinâmica territorial do espaço agrário no nordeste paraense. Desde então é possível identificarmos um período geográfico do dendê tornado possível por um conjunto de ações políticas estatais e empresariais que permitiram a formação de territórios da palma e aprofundaram a concentração de terra nas mãos de poucas empresas. Nos lugares sob a influência da dinâmica desse agronegócio vemos a subordinação do território usado às empresas surgir no horizonte traços de um campo sem camponês.
Analisamos as relações entre dendeicultura e agricultura familiar no espaço agrário do município de Moju a partir dos projetos de produção familiar criados associação entre Estado brasileiro e capital nacional e internacional. Tendo como ponto de partida e enfoque metodológico o território usado, sustentamos que tais projetos beneficiam primordialmente aos empresários, pois ele se apropria da área e dos usos sem estabelecer relações de assalariamento ou mesmo sem ser proprietário de terra. Fundamentando-nos em dados primários e entrevistas coletados em trabalho de campo, bem como revisão de literatura. Na primeira parte caracterizamos em largos traços a expansão da dendeicultura na aurora do século XXI, decorrente do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e Programa de Produção Sustentável de Óleo Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma no Brasil; na segunda os traços gerais dos projetos de agricultura familiar de dendê associados às empresas no Moju, destacando-se a experiência mais antiga, ampla e que sérvio de modelo para outras empresas, que é a experiência da Agropalma.
Mostramos que a cultura do dendezeiro se expande por áreas usadas na lavoura tradicional, bem como se utiliza da força de trabalho de agricultores camponeses. Demostramos esse fenômeno geográfico na comunidade do Apeí, na região do Alto Moju outrora singularizada por agricultores camponeses que tinham seu modo de vida associado à produção de alimentos, sobretudo ao cultivo da mandioca. Para tanto realizamos trabalhos de campo e entrevistas estruturadas e semiestruturadas com os agricultores. Na primeira parte caracterizamos o uso da terra e a natureza do trabalho antes da chegada do projeto comunitário do dendezeiro nas comunidades, ressaltando a produção de alimentos. Em seguida discorremos sobre a implantação do projeto do dendezeiro, espécie de marco de rupturas e continuidades na dinâmica espacial. Desde então, deparamo-nos com os projetos de agricultura familiar do dendezeiro integrando o lugar. Isso nos permite delinear os impactos da dendeicultura na produção de alimentos.
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