Palavras-chave: violência por parceiro íntimo; danos faciais; vitimização; subjetividade. Introdução O artigo aborda experiências de vitimização feminina em relações conjugais violentas, estudando casos em que a violência física acarretou danos ao rosto da mulher agredida. Constituiu-se objetivo do trabalho desvelar os significados atribuídos pelas mulheres à violência vivida, bem como analisar as implicações da experiência vitimizadora à vida e à saúde das participantes, tanto as que concernem aos aspectos subjetivos, quanto outras, que envolvem o entorno de suas relações sociais. Neste sentido, a análise, fundamentada teoricamente nas Ciências Sociais, aborda as consequências dos eventos violentos às subjetividades envolvidas numa situação de trauma facial, decorrente das agressões intencionais entre parceiros íntimos.A violência de gênero contra a mulher tem sido reconhecida como problema de saúde pública, violação dos direitos humanos e, em muitos países, a exemplo do Brasil, como crime. Quanto ao locus de ocorrência, há uma convergência dos estudos nesta temática em apontar o domicílio como o ambiente onde mais acontecem as agressões e, como autor mais frequente, alguém que mantém ou manteve um relacionamento afetivo com a vítima, seja como marido, companheiro ou namorado (GARCIA-MORENO et al., 2006;HEISE;GARCIA-MORENO, 2002). Conquanto mulheres possam se constituir em ofensoras e a violência também ocorra em relações homoafetivas, este trabalho focaliza casos nos quais homens atuaram como agressores de suas parceiras.Outro consenso de muitas produções tem sido o de evidenciar os efeitos deletérios da violência à saúde das mulheres vitimizadas, seja esta violência física ou psicológica. Nos casos de violência física, a maior parte dos estudos se reporta à cabeça, notadamente, ao rosto feminino como parte do corpo mais atingida (SADDKI; SUHAIMI; DAUD, 2011;SCHRAIBER et al., 2002;LE et al., 2001). Embora esta preponderância esteja, epidemiologicamente, bem documentada em pesquisas nacionais e internacionais, na revisão bibliográfica que efetuamos, ainda no período pré-campo, não conseguimos identificar nenhum trabalho que buscasse depreender os sentidos atribuídos pelas mulheres às agressões que lhes atingiram a face. Dado o alto valor simbólico do rosto para a identidade pessoal e para a autoestima, sobretudo nas sociedades modernas que têm na aparência física e na estética corporal (feminina, primacialmente) alguns