Resumo: Este artigo analisa alguns casos de atletas intersexuais que passaram pelo crivo das políticas de verificação de gênero, que comitês e federações esportivas implementam enquanto resoluções para a determinação da elegibilidade do sexo de atletas a fim de competirem em uma única categoria esportiva. A busca pela verificação e a confirmação do sexo/gênero de uma atleta articula muitas questões, como performance, testosterona, doping, medicamentos, por um lado, e marcadores sociais da diferença, do outro lado. De modo geral, tento entender como a validação e a legitimação de certos critérios para instituir corpos como saudáveis, elegíveis e capitalizáveis destituem diversos outros sujeitos da vida social - no caso, de suas profissões e capacidades de rendimento esportivo. Por fim, atento para como essas atletas passam por avaliações coercitivas, procedimentos invasivos e cirurgias irreversíveis para assegurar inteligibilidades e privilégios de uma suposta coerência biomédica sobre a diferenciação sexual e uma elegibilidade esportiva que mais discrimina do que iguala.
Resumo As regulações esportivas para definir a elegibilidade na categoria feminina são políticas antigas, datadas do começo do século XX, que atravessam disputas sobre o corpo, suas inscrições e possibilidades de futuro. De modo que a definição de um diagnóstico, com suas articulações de saúde, doença e cuidado terapêutico, concentram alguns atributos significativos para essa determinação de elegibilidade. Acompanhando um pouco da história da ex-judoca brasileira Edinanci Silva, vamos compreender como tais regulações constituem estratégias normativas de controle do corpo e da população, assim como mobilizam os cenários em que os sujeitos existem, se individualizam e cuidam de si. Essa difícil tarefa de consentir num contexto de crise, de risco e de humilhação diz muito sobre os limites dessas mesmas inclusões pelo esporte. No fim, também vamos entender porque a virilização feminina continua a ser medicalizada e importa mais do que a eficiência do rendimento esportivo propriamente dito.
Resumo Este artigo reflete sobre os usos, as inscrições e os significados de certos marcadores sociais da diferença no atendimento de três pacientes com variações intersexuais em um hospital público de alta complexidade no Rio de Janeiro. Para além dos gerenciamentos sociais e médicos desses pacientes, incorporo uma análise sobre a trama biomédica de gestação de determinadas “verdades” sobre corpos e vidas intersexuais. Na regulação diária desses casos, chaves analíticas são postas em jogo para demarcar as tramas de incitamento ou de silenciamento dos registros da “diferença” em espaços hospitalares, no que tange, por sua vez, à experiência da intersexualidade.
Em março de 2021, a pesquisadora mexicana e aliada do movimento intersex Eva Alcántara Zavala nos concedeu uma entrevista em que recorda sua atuação profissional em favor dos direitos de pessoas intersexo no México, avalia o contexto de saúde e cuidados para essa população no país e analisa as articulações dos ativismos locais e globais. A entrevista, transcrição, tradução e edição foram realizadas por Amiel Vieira, Anacely Costa, Barbara Pires e Marina Cortez, organizador/as do dossiê.
Resumo: Este artigo apresenta uma revisão documental e bibliográfica de parte do histórico de gestão da feminilidade no esporte de alto rendimento. Nesse sentido, é preciso acompanhar como nasce o movimento olímpico. Uma recapitulação necessária para saber de onde vem e como se estrutura a necessidade de controle dos corpos atléticos das mulheres. Com a defesa de certos valores pautados no dimorfismo sexual, entenderemos como a ciência e a medicina auxiliaram na estabilização de fronteiras biológicas, sociais e esportivas. Contudo, à medida que esse conhecimento se transforma, todo um emaranhado regulatório também é atualizado em torno da elegibilidade das mulheres no esporte. A condução do artigo aposta na interpretação de que a proteção da categoria feminina no esporte se fez tanto por meio da suspeição quanto pela justiça, com a linguagem dos direitos sendo cada vez mais incorporada.
O tema da intersexualidade não é nenhuma novidade. Sua etimologia carrega impressionante simbolismo em cada tempo histórico, apontando para algumas variabilidades terminológicas, como a longa tematização em torno do hermafroditismo. Com a emergência moderna do dispositivo da sexualidade (FOUCAULT, 2012) está mais do que reconhecido que foi produzida uma profusão de saberes e de poderes em torno do sexo com o objetivo de reconhecê-lo e regulá-lo melhor.
Em abril de 2021, o ativista intersex argentino Mauro Cabral nos concedeu uma entrevista em que fala de sua trajetória pessoal e profissional em defesa dos direitos humanos, analisa os desafios do movimento, a conjuntura atual mais favorável na Argentina, além de apontar o que espera para o futuro do ativismo e da governança internacional sobre o tema. A entrevista, transcrição, tradução e edição foram realizadas por Amiel Vieira, Anacely Costa, Barbara Pires e Marina Cortez, organizador/as do dossiê.
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