Este artigo tem por objetivo discutir as vivências de sofrimento e prazer no trabalho de gerentes de bancos públicos e privados da cidade de João Pessoa, Paraíba. Para tanto, a psicodinâmica do trabalho foi utilizada como referência teórica principal, tendo em vista a articulação dos materiais produzidos em campo com o que a abordagem ensina sobre o sujeito no trabalho, especificamente no que diz respeito à relação complexa entre sofrimento, prazer e trabalho. Para as análises apresentadas, consideram-se as transformações no trabalho gerencial e nos modos de gestão e de funcionamento dos bancos ocorridos nas últimas décadas. Foram realizadas 16 entrevistas com pessoas que exerciam gerências gerais ou intermediárias, analisadas através da análise de conteúdo temática. Os resultados evidenciaram que os seguintes elementos se colocam como fonte de prazer ou de sofrimento: o trabalho com clientes e outros funcionários, o reconhecimento ou a ausência de reconhecimento desse trabalho, a estrutura organizacional, a carga de trabalho e a pressão por resultados, a autonomia ou a falta de autonomia para tomar decisões e a remuneração. Tais resultados demonstram que a relação entre a organização do trabalho e o sujeito está em contínuo movimento, em equilíbrio dinâmico.
IIUniversidade Federal da Paraíba (João Pessoa, PB, Brasil) No ano acadêmico de 2014, Marianne Lacomblez foi professora visitante da Universidade Federal Fluminense (Pós-graduação em Psicologia). Durante esse período, passou um mês no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba, tendo proferido palestras, participado de orientações de Pós-graduação, reunido-se com grupos de pesquisa e discutido artigos. Na ocasião, concedeu esta entrevista aos Cadernos de Psicologia Social do Trabalho.Cadernos: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional. Marianne:As problemáticas que trabalhamos hoje com os colegas da equipe que coordeno na Universidade do Porto poderão ser consideradas como integrando aquilo que Jacques Leplat designa de Psicologia Ergonômica. Mas, na segunda metade dos anos 1960, época em que realizei a minha formação com Jean-Marie Faverge, falava-se de Psicologia Industrial e, só depois, de Psicologia do Trabalho, embora a abordagem desenvolvida no âmbito desta tradição não se distinguisse daquilo que atualmente costuma ser designado de Ergonomia da Atividade. Paralelamente a isso, no final do curso em Psicologia (Industrial), comecei a participar de um grupo que se dedicava à formação sindical. Desse grupo faziam parte colegas e docentes desse curso liderado por Faverge na Universidade de Bruxelas, mas também colegas e docentes de outras áreas disciplinares. Resumindo, um grupo muito ligado ao movimento sindical que, nessa conjuntura, era orientado pelos princípios do que se denominava de "controle operário". Cadernos: Era uma formação para sindicalistas?Marianne: Era uma formação visando capacitar sindicalistas em várias áreas, tais como Economia, Sociologia, Direito Laboral, assim como em questões de Saúde e Segurança no Trabalho. Depois, passei a trabalhar, durante alguns anos, como investigadora de uma equipe que se situava entre a Psicossociologia do Trabalho e a Sociologia do Trabalho, o que correspondeu à necessidade que sentia de complementar a minha formação. Acabei, contudo, por assumir uma postura bastante crítica em relação à prática então dominante na Psicossociologia do Trabalho, presa nas 'armadilhas' de uma intervenção nas empresas que acreditava que as vias de uma 'desalienação' poderiam passar por uma gestão bem planejada da dinâmica de grupos restritos. Posteriormente, trabalhei com colegas da Sociologia do Trabalho, quer na Universidade de Bruxelas, quer na Universidade de Coimbra, já após o fim da ditadura
RESUMO Este artigo objetivou compreender de que maneira a estigmatização é vivenciada por necrotomistas e a relação que eles desenvolvem com os riscos de sua atividade. Quanto à teoria, utilizaram-se os conceitos de estigma e risco, articulando-os com elementos da Psicodinâmica do Trabalho. Metodologicamente, combinaram-se entrevistas semiestruturadas individuais e observações na sala de necropsias. Para a análise dos dados, a opção foi pela análise de conteúdo temática. Participaram deste estudo os necrotomistas do Departamento de Medicina Legal de uma capital do Nordeste brasileiro. Evidenciou-se que a intensa estigmatização está associada ao desconhecimento popular sobre sua atividade e à natureza de seu trabalho. A relação dos necrotomistas com os riscos, inclusive aqueles produzidos pela vivência do estigma, está mediada por um uso intensivo de estratégias defensivas que podem não contribuir para transformar positivamente as situações de trabalho.
Resumo As formas de organizar a produção de bens e de serviços vêm sofrendo profundas transformações desde as últimas décadas do século XX, gerando a necessidade de transformar igualmente as teorias e as práticas em Psicologia do Trabalho e Organizacional (PTO). Ocupando um lugar de destaque nas mudanças nos mundos do trabalho e da PTO, coloca-se a noção de competência. Como é comum nas Ciências Humanas e, dentro delas, na Psicologia, tal noção recobre diferentes sentidos a partir de distintas concepções e autores. Nesse artigo optou-se por focalizar as contribuições ao debate sobre competência a partir de um conjunto expressivo de publicações existente em português do Brasil de autoria de Philippe Zarifian, economista e sociólogo francês, cujas ideias têm produzido desdobramentos interessantes em setores da Psicologia do Trabalho e Organizacional brasileira, inspirando a reconfiguração de concepções e práticas vigentes. Verifica-se que o modelo da competência traz consigo possibilidades reais de transformações profundas, possibilitando uma participação implicada dos homens em seus trabalhos. Entretanto, sem cumprir certas condições, tal modelo pode se transformar em mais um meio de exploração e de destruição dos coletivos de trabalhadores.
RESUMOEste artigo aborda os percursos de trabalho e formação de gerentes de bancos públicos e privados da cidade de joão Pessoa, desde sua inserção até a promoção à função gerencial. Busca-se compreendê-los à luz de autores que analisam o trabalho e suas transformações, segundo uma perspectiva clínica, a exemplo de Zarifian, Dejours e Schwartz, ao lado daqueles que tratam especificamente do trabalho bancário, como Jinkings, Merlo e Barbarini. realizaram-se dezesseis entrevistas, com pessoas que exercem gerências gerais ou intermediárias. Evidenciou-se a intensa pressão a que estão submetidos os gerentes quanto à capacitação, alcance de resultados e disponibilidade para a empresa. Constatou-se, entretanto, que, mesmo atendendo aos requisitos exigidos, não há garantia de estabilidade na função. Empresas requisitam sempre mais, solicitando um patamar inalcançável, desgastante para a saúde. Esta pesquisa levanta questionamentos sobre as conquistas relativamente à autonomia e formação profissional, que os gerentes experimentam como efeito da reestruturação bancária.Palavras-chave: trabalho; gerentes; percursos profissionais; formação.ABSTRACT this paper deals with the trajectory of bank managers in joao Pessoa with regard their job and education, spanning from their entry in the system up to the point when they hold a management position, searching to understand this through authors who analyze the work and its transformation from a clinical perspective, like Zarifian, Dejours and Schwartz, as well as those that deal with the bank work, as it is the case of jinkings, Merlo and Barbarini. Sixteen interviews have taken place with general or intermediaries managers. the study showed that they are submitted to a great pressure with respect to their general ability, competence to obtain results and availability to the bank. It was noted, however, that even fulfilling these demands they do not have stability in the position. they argue that the company continually demands further effort, in an unreachable level, spoiling their health. This research addresses some questions and doubts about the benefits with respect to the autonomy and formation that managers are subject as a consequence of the banking system restructuring.Keywords: job; managers, professional trajectory; education. discutimos, neste artigo, os percursos de trabalho e formação de gerentes de bancos públicos e privados da cidade de joão Pessoa. Pudemos apreender, por dentro e no seu movimento histórico, as transformações nos requisitos e exigências que recaem sobre esses profissionais em suas atividades. Embora reconhecendo a importância e a pertinência de análises macros, nosso encaminhamento nesta pesquisa foi no sentido de utilizar uma abordagem que foca a atividade de trabalho dos gerentes, enxergando, por este ângulo, as mudanças no trabalho bancário.Neste sentido, Guèrin, laville, daniellou, duraffourg e kerguelen (2001) asseveram que o trabalho é sempre situado, ocorre necessariamente em um sítio, em uma polis (em um dado campo de forças), em um espaç...
RESUMO.Este artigo tem como objetivo caracterizar as condições e a organização do trabalho dos necrotomistas do Departamento de Medicina Legal (DML) de uma capital do Nordeste do Brasil. Do ponto de vista teórico, a Psicodinâmica do Trabalho foi a principal abordagem utilizada, ao lado do conceito de trabalho sujo. A metodologia procurou combinar entrevistas semiestruturadas individuais e observações na sala de necropsias. Participaram deste estudo os seis necrotomistas que atualmente compõem o quadro de profissionais do referido DML, sendo todos do sexo masculino, com idades variando entre 32 e 48 anos e tempo de serviço oscilando entre quatro e 23 anos. Constatou-se que a organização real do trabalho é marcada pela existência de algumas regras comuns, construídas no exercício da atividade. Destaca-se também a precariedade das condições de trabalho, o que se traduz em um investimento estatal incompatível com as demandas desse órgão. Tais condições, associadas a uma representação social negativa do trabalho dos necrotomistas, que o situa no rol daquelas atividades tipificadas como trabalho sujo, repugnante, degradante, são produtoras de um sofrimento adicional que exige desses trabalhadores, além dos esforços físicos próprios dessa atividade, manobras psíquicas custosas e estratégias defensivas individuais e coletivas para evitar resvalar no terreno do adoecimento psíquico. Palavras-chave:Organização do trabalho; condições de trabalho; Psicologia Organizacional. ANALYSIS OF CONDITIONS AND WORKING ORGANIZATION OF NECROTOMISTSABSTRACT. This article aims to characterize the conditions and work organization of the necrotomists from Forensic Medicine Department (DMF) of a Brazilian Northeastern city. From a theoretical standpoint, the Psychodynamics of work was the main approach used, alongside the concept of the dirty work. The methodology sought to combine individual semistructured interviews and observations in the necropsy room. The study included six necrotomists that currently make up the cadre of that DMF, being all male, aged between 32 and 48 years and service time ranging from four to 23 years. It was found that the actual organization of work is marked by the existence of some common rules, built in the exercise of activity. Also noteworthy is the precariousness of working conditions, which represents a state investment incompatible with the demands of this organ. These conditions, combined with a negative social representation of the necrotomists' work, which situates the list of those activities coined dirty, disgusting, degrading work, produce additional suffering, requiring these workers, in addition to physical exertion proper of this activity costly defensive strategies and individual and collective psychic maneuvers to avoid slipping on the grounds of mental illness.Keywords: Work organization; working conditions; organizational psychology. ANÁLISIS DE LAS CONDICIONES Y LA ORGANIZACIÓN DEL TRABAJO DE LOS NECROTOMISTASRESUMEN. Este artículo tiene como objetivo caracterizar las condiciones y la organi...
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