IIUniversidade Federal da Paraíba (João Pessoa, PB, Brasil) No ano acadêmico de 2014, Marianne Lacomblez foi professora visitante da Universidade Federal Fluminense (Pós-graduação em Psicologia). Durante esse período, passou um mês no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba, tendo proferido palestras, participado de orientações de Pós-graduação, reunido-se com grupos de pesquisa e discutido artigos. Na ocasião, concedeu esta entrevista aos Cadernos de Psicologia Social do Trabalho.Cadernos: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional.
Marianne:As problemáticas que trabalhamos hoje com os colegas da equipe que coordeno na Universidade do Porto poderão ser consideradas como integrando aquilo que Jacques Leplat designa de Psicologia Ergonômica. Mas, na segunda metade dos anos 1960, época em que realizei a minha formação com Jean-Marie Faverge, falava-se de Psicologia Industrial e, só depois, de Psicologia do Trabalho, embora a abordagem desenvolvida no âmbito desta tradição não se distinguisse daquilo que atualmente costuma ser designado de Ergonomia da Atividade. Paralelamente a isso, no final do curso em Psicologia (Industrial), comecei a participar de um grupo que se dedicava à formação sindical. Desse grupo faziam parte colegas e docentes desse curso liderado por Faverge na Universidade de Bruxelas, mas também colegas e docentes de outras áreas disciplinares. Resumindo, um grupo muito ligado ao movimento sindical que, nessa conjuntura, era orientado pelos princípios do que se denominava de "controle operário".
Cadernos: Era uma formação para sindicalistas?Marianne: Era uma formação visando capacitar sindicalistas em várias áreas, tais como Economia, Sociologia, Direito Laboral, assim como em questões de Saúde e Segurança no Trabalho. Depois, passei a trabalhar, durante alguns anos, como investigadora de uma equipe que se situava entre a Psicossociologia do Trabalho e a Sociologia do Trabalho, o que correspondeu à necessidade que sentia de complementar a minha formação. Acabei, contudo, por assumir uma postura bastante crítica em relação à prática então dominante na Psicossociologia do Trabalho, presa nas 'armadilhas' de uma intervenção nas empresas que acreditava que as vias de uma 'desalienação' poderiam passar por uma gestão bem planejada da dinâmica de grupos restritos. Posteriormente, trabalhei com colegas da Sociologia do Trabalho, quer na Universidade de Bruxelas, quer na Universidade de Coimbra, já após o fim da ditadura