A partir da constatação de um regime performativo das imagens, desdobramos, neste artigo, a hipótese de que, no domínio do documentário, um relevante traço formal desta performatividade está na exposição do antecampo: trata-se de um espaço ético que não deixa de ser recurso estilístico e recurso estilístico que não deixa de ser espaço ético. Essa proposição se desenvolve desde o percurso por documentários brasileiros contemporâneos, em diálogo estreito com o repertório crítico acerca dos filmes: A falta que me faz (Marília Rocha, 2009), Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013), Pacific (Marcelo Pedroso, 2009), Domésticas (Gabriel Mascaro, 2013), Jogo de Cena (Eduardo Coutinho, 2007), Moscou (Eduardo Coutinho, 2009), Bicicletas de Nhanderu (Ariel Ortega e Patrícia Ferreira, 2012).
KeywordsDedicando-se à análise de dois documentários -Pi'õnhitsi e Mokoi Tekoá Petei Jeguatá -, o artigo sugere a natureza constituinte do antecampo em filmes indígenas. Trata-se do espaço no qual o realizador encena um duplo e intercambiável papel: dentro da cena, como membro da comunidade, e fora da cena, como cineasta. Em seguida, desdobramos a hipótese de que, por meio da exposição do antecampo, o cinema indígena expressa, em mise-en-abyme, o engendramento entre cultura e "cultura".Pi'õnhitsi, Mokoi Tekoá Petei Jeguatá, cinema indígena, cultura com aspas, reversibilidade.Through the analysis of two documentaries -Pi'õnhitsi e Mokoi Tekoá Petei Jeguatá -, the article suggests the constitutive nature of the "antecampo" (the space behind the camera) in the indigenous films. It is the space in which the director enacts a double and interchangeable role: within the scene, as a member of the community, and out of the scene, as a filmmaker. Then, we unfold the hypothesis that, through the exposition of the "antecampo", the indigenous cinema expresses, by mise-en-abyme, the engendering between culture and "culture".Pi'õnhitsi, Mokoi Tekoá Petei Jeguatá, indigenous cinema, "culture", reversibility. TV (1990), ao ver a própria imagem confrontada com as imagens de outras etnias, os waiãpi situam sua cultura, estabelecendo distinções e afinidades, separações e intercâmbios. O espírito da TV (e outros filmes dessa primeira fase) sugere ainda uma questão que se vai tornando mais e mais importante à medida que os filmes são realizados: a própria noção de imagem se insinua outra, em alguma medida, diferente da acepção que forjamos historicamente no Ocidente (ainda que saibamos o quão arriscadas são as generalizações desse tipo). O maracá que se agita no interior da imagem pode, quem sabe, repercutir no mundo fora do filme, produzindo efeitos muito concretos.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.Galaxia (São Paulo, online), ISSN 1982ISSN -2553 Palavras-chave: vídeo nas aldeias; comunidades de cinema; cosmopolítica.Abstract: Reviewing, twisting, reversing and resuming images: film communities and cosmopolitics -This paper observes communities of spectators in its actual appearance in films directed by (or in co-authorship with) indigenous groups. Indeed, this production (particularly within Video in the Villages project) shows that beyond of a method or procedure, exhibiting films for a unique community assumes the statute of a dispositive, which has not only cinematic implications but also cosmopolitical ones. In movies such as A arca dos Z'oé (1993), Centers. Dir. Vito Acconti, 1971, 23min., p&b, som. 3 No original: "a line of sight that begins at Acconci's plane of vision and ends at the eyes of his projected double." 4 Reverse Television. Dir. Bill Viola, 1983, cor, som. 5 De modo reduzido, o trabalho circulou pela WGBH TV, entre 14 e 28 de novembro de 1983.
Dos shows de realidade aos vídeos pessoais na internet, das redes sociais aos games, dos documentários às experiências de arte contemporânea, a vida ordinária é convocada, estimulada, provocada a participar e interagir, em uma constante performance de si mesma. As imagens tornam-se, assim, um lugar biopolítico, no qual se performam formas de vida. Diante desse diagnóstico, que se compartilha com outros autores, o texto propõe o mapa conceitual, ainda em aberto, de um programa de pesquisa. Para tanto, caracterizamos essa performance no domínio do capitalismo avançado e, mais adiante, no âmbito das culturas ameríndias. A partir desta diferenciação, pretendemos entender melhor alguns impasses do pensamento crítico diante dos modos como, atualmente, a vida se cria e se modula na imagem.
O objetivo deste artigo é analisar a forma como os mecanismos legais do antirracismo brasileiro têm funcionado e os principais obstáculos à sua aplicação vis-à-vis a dinâmica social do estigma e insultos raciais. Nosso argumento é que existe uma dificuldade em conciliar as categorias da lei interpretadas pelos juízes com a forma real do racismo brasileiro no qual prevalece atos sutis de discriminação assim como o uso de insultos raciais em situações cotidianas. Palavras-chave: racismo; políticas anti-racismo; injúria racial; insulto racial; decisões judiciais; pesquisa empírica em direito.
Com a hospitalidade que lhe é habitual, Faye Ginsburg, professora titular de antropologia na Universidade de Nova York, nos recebeu para esta entrevista no Center for Media, Culture and History (Centro de Mídia, Cultura e História) -CMCH, espaço que criou e que coordena ativamente desde 1986. A ideia era apresentar aos leitores brasileiros esse trabalho pioneiro voltado para os processos de descolonização e a experiências de autorrepresentação, tendo o cinema e a mídia como lócus de produção e pesquisa. Acompanhando o percurso acadêmico e teórico de Ginsburg, a conversa seguiria solta, não fosse certa apreensão provocada pelos insistentes alarmes oficiais que recebíamos, via celular, sobre uma tempestade que se aproximava, o que acabou adiantando nossa volta para casa.A entrevista foi abrigada, em julho de 2016, pelo CMCH, ao qual estáva-mos vinculados na condição de professores visitantes, em sala que acusava a vocação do espaço: rodeados por estantes com DVDs e fitas VHS, podíamos sentir ali o trabalho de décadas dedicado ao filme etnográfico e especialmente à produção audiovisual indígena em várias regiões do mundo. Não à toa, o CMCH é protagonista nas reflexões sobre antropologia, cinema e mídia, ao incorporar e tomar a sério essa produção como propulsora de novas questões que, inelutavelmente, forçam esses campos a repensar conceitos e teorias a partir do diálogo intercultural inscrito nas imagens.Faye Ginsburg nasceu em 28 de outubro de 1952, filha de Benson Ginsburg, importante cientista dedicado às pesquisas sobre comportamento gené-
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